Fumei, mas não traguei: a estratégia de Bolsonaro após militares confirmarem plano golpista
Revista Fórum – Narrativa começou a ser construída após Alexandre de Moraes levantar sigilo dos depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior.
Ainda mais acuado diante do levantamento de sigilo dos depoimentos sobre as investigações da organização criminosa golpista, Jair Bolsonaro (PL) já teria definido uma estratégia à lá Bill Clinton para rebater o que chama de “narrativa idiota” construída pela Polícia Federal (PF).
Em 1992, quando indagado se já havia feito uso de maconha, o então candidato democrata à presidência dos EUA respondeu: “fumei, mas não traguei”, sendo eleito meses depois para a Casa Branca.
Passados mais de 30 anos, Bolsonaro pretende usar estratégia semelhante sobre a minuta golpista, uma das principais provas físicas coletadas pela PF para comprovar a arquitetura do golpe.
Segundo Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o ex-presidente deve voltar atrás e dizer que recebeu o documento, mas não assinou. Dessa forma, Bolsonaro vai alegar que fez apenas consultas sobre a medida que poderia desencadear em caso de fraude nas urnas eletrônicas. E que tudo teria sido feito “dentro das quatro linhas”, como costuma alegar.
A narrativa começou a ser construída já nesta sexta-feira (15), enquanto eram divulgadas trechos de depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, que afirmam ter barrado a tentativa de golpe.
Em entrevista a Paulo Cappelli, no site Metrópoles, Bolsonaro deu início à estratégia dizendo que “não é crime falar sobre o que está previsto na Constituição Federal”.
“Não é crime falar sobre o que está previsto na Constituição Federal. Você pode discutir e debater tudo o que está na Constituição Federal. O que falam em delação, em depoimentos, é problema de quem falou. É uma narrativa idiota”, disse o ex-presidente, em meio às andanças na região de Maricá, no interior fluminense.
Bolsonaro ainda usou a velha estratégia de se referir ao que classifica como “ditadores” da Venezuela em sua defesa – um dos temas que inflamam os apoiadores radicais.
“Sobre o Estado de Defesa e o Estado de Sítio, precisa convocar um conselho com diversos integrantes. Para que fosse implementado, precisaria convocar o conselho, inclusive com presidente da Câmara e do Senado. E não teve nenhum conselho convocado. Aqui não é Hugo Chávez, Maduro. Dados os considerandos, quem dá a palavra final é o Parlamento. Já a Garantia da Lei e da Ordem não se pode fazer do nada. Tem que ter fundamento”, disse.
Redes sociais
Nas redes sociais, o ex-presidente se limitou a compartilhar um link de um site aliado repercutindo a mesma entrevista ao jornalista do Metrópoles nos stories de seu Instagram.
Já o feed foi inundado com imagens da passagem pelo interior fluminense. A convocação de atos também é parte da estratégia de Bolsonaro.
O ex-presidente vai buscar incitar ainda mais os apoiadores radicais para que haja uma reação diante da sua prisão – que já é tratada como iminente nos círculos mais próximos.
Na Rede X, coube ao ex-Secom, Fabio Wajngarten, que faz parte do corpo de advogados, fazer a defesa, dizendo convive próximo a Bolsonaro e “em nenhum momento ouvi nada de golpe, nem de prisão, nem de nada”.
“Eu convivo próximo com o Presidente Jair Bolsonaro? Tenho informações qualificadas e diretamente de fonte primária? Em nenhum momento ouvi nada de golpe, nem de prisão, nem de nada. Tem um monte de focas adestradas, bajuladores nato, que falavam o que que queriam para ganhar segundos de atenção e notoriedade. Quando apertados, se escondem e ou se portam feitos melhores amigos de infância de quem sempre repudiaram. São notas de 3”, disse, usando a simbologia propagada na horda bolsonarista como alusão aos “falsos” aliados que denunciam Bolsonaro à PF.
Eu convivo próximo com o Presidente @jairbolsonaro ?
Tenho informações qualificadas e diretamente de fonte primária?
Em nenhum momento ouvi nada de golpe, nem de prisão, nem de nada.
Tem um monte de focas adestradas, bajuladores nato, que falavam o que que queriam para ganhar…— Fabio Wajngarten (@fabiowoficial) March 15, 2024
No entanto, Wajngarten esquece de dizer que se distanciou de Bolsonaro em março de 2021, quando foi exonerado da Secom e, magoado, não aceitou outro cargo. Ele só voltaria a se aproximar do presidente mais de um ano depois, já na campanha presidencial.
Nos grupos de aplicativos, como Telegram e WhatsApp, Bolsonaro segue com sua estratégia de atacar Lula, em meio aos vídeos que mostrariam sua “popularidade” por onde passa. Sobre os depoimentos dos generais, o ex-presidente não se pronunciou aos apoiadores mais radicais, que orbitam essas redes.