22 de dezembro de 2024
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Fumei, mas não traguei: a estratégia de Bolsonaro após militares confirmarem plano golpista

Revista Fórum – Narrativa começou a ser construída após Alexandre de Moraes levantar sigilo dos depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior.

Ainda mais acuado diante do levantamento de sigilo dos depoimentos sobre as investigações da organização criminosa golpista, Jair Bolsonaro (PL) já teria definido uma estratégia à lá Bill Clinton para rebater o que chama de “narrativa idiota” construída pela Polícia Federal (PF).

Em 1992, quando indagado se já havia feito uso de maconha, o então candidato democrata à presidência dos EUA respondeu: “fumei, mas não traguei”, sendo eleito meses depois para a Casa Branca.

Passados mais de 30 anos, Bolsonaro pretende usar estratégia semelhante sobre a minuta golpista, uma das principais provas físicas coletadas pela PF para comprovar a arquitetura do golpe.

Segundo Mônica Bergamo, na Folha de S.Paulo, o ex-presidente deve voltar atrás e dizer que recebeu o documento, mas não assinou. Dessa forma, Bolsonaro vai alegar que fez apenas consultas sobre a medida que poderia desencadear em caso de fraude nas urnas eletrônicas. E que tudo teria sido feito “dentro das quatro linhas”, como costuma alegar.

A narrativa começou a ser construída já nesta sexta-feira (15), enquanto eram divulgadas trechos de depoimentos dos ex-comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, que afirmam ter barrado a tentativa de golpe.

Em entrevista a Paulo Cappelli, no site Metrópoles, Bolsonaro deu início à estratégia dizendo que “não é crime falar sobre o que está previsto na Constituição Federal”.

“Não é crime falar sobre o que está previsto na Constituição Federal. Você pode discutir e debater tudo o que está na Constituição Federal. O que falam em delação, em depoimentos, é problema de quem falou. É uma narrativa idiota”, disse o ex-presidente, em meio às andanças na região de Maricá, no interior fluminense.

Bolsonaro ainda usou a velha estratégia de se referir ao que classifica como “ditadores” da Venezuela em sua defesa – um dos temas que inflamam os apoiadores radicais.

“Sobre o Estado de Defesa e o Estado de Sítio, precisa convocar um conselho com diversos integrantes. Para que fosse implementado, precisaria convocar o conselho, inclusive com presidente da Câmara e do Senado. E não teve nenhum conselho convocado. Aqui não é Hugo Chávez, Maduro. Dados os considerandos, quem dá a palavra final é o Parlamento. Já a Garantia da Lei e da Ordem não se pode fazer do nada. Tem que ter fundamento”, disse.

Redes sociais

Nas redes sociais, o ex-presidente se limitou a compartilhar um link de um site aliado repercutindo a mesma entrevista ao jornalista do Metrópoles nos stories de seu Instagram.

Já o feed foi inundado com imagens da passagem pelo interior fluminense. A convocação de atos também é parte da estratégia de Bolsonaro.

O ex-presidente vai buscar incitar ainda mais os apoiadores radicais para que haja uma reação diante da sua prisão – que já é tratada como iminente nos círculos mais próximos.

Na Rede X, coube ao ex-Secom, Fabio Wajngarten, que faz parte do corpo de advogados, fazer a defesa, dizendo convive próximo a Bolsonaro e “em nenhum momento ouvi nada de golpe, nem de prisão, nem de nada”.

“Eu convivo próximo com o Presidente Jair Bolsonaro? Tenho informações qualificadas e diretamente de fonte primária? Em nenhum momento ouvi nada de golpe, nem de prisão, nem de nada. Tem um monte de focas adestradas, bajuladores nato, que falavam o que que queriam para ganhar segundos de atenção e notoriedade.  Quando apertados, se escondem e ou se portam feitos melhores amigos de infância de quem sempre repudiaram. São notas de 3”, disse, usando a simbologia propagada na horda bolsonarista como alusão aos “falsos” aliados que denunciam Bolsonaro à PF.

 

No entanto, Wajngarten esquece de dizer que se distanciou de Bolsonaro em março de 2021, quando foi exonerado da Secom e, magoado, não aceitou outro cargo. Ele só voltaria a se aproximar do presidente mais de um ano depois, já na campanha presidencial.

Nos grupos de aplicativos, como Telegram e WhatsApp, Bolsonaro segue com sua estratégia de atacar Lula, em meio aos vídeos que mostrariam sua “popularidade” por onde passa. Sobre os depoimentos dos generais, o ex-presidente não se pronunciou aos apoiadores mais radicais, que orbitam essas redes.

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