19 de setembro de 2024
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Fala de Brandão estremece disputa dos Leões em 2026

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Com tanto tempo para percorrer até 2026 e uma eleição municipal no meio, o governador Carlos Brandão sacou um improviso que repetiu outro mais atrás, em que admite ficar no Palácio dos Leões até o último dia do mandato. É pouco provável que o chefe do Executivo maranhense tenha sido traído pelo que se costuma chamar de “ato falho”.

Nesse caso, a sua frase nem tem aparência de alto falho. Foi direta mesmo. “Esse programa não acaba agora e vai continuar até o último dia de dezembro de 2026, enquanto eu estiver governador”. Ele falava em Caxias, ao anunciar obras do programa “Mais Asfalto”.

Para quem conhece o jogo de palavras manejado pelospolíticos sabe que elas têm tanta consistência quanto um pingo d’água na areia. Para o ás da diplomacia americano século 20, Henry Kissinger, a “política é a arte de dizer ‘bom dia’, e, no mesmo instante, dizer ‘mas…’”

Brandão, obviamente não tem nada com um Kissinger, mas pode ser aqueles políticos que, no final de um “bom dia” engata a conjunção adversativa “mas”. Introduzida na frase, eladenota oposição ou restrição ao que foi dito, assim como operam o “porém”, “contudo”, “entretanto” e “todavia”. Afinal, o que Brandão quis dizer “até o último dia de 2026?”

A política do Maranhão é rica em alternâncias de poder boas e más construídas para quem senta na cadeira principal do Palácio dos Leões. Do fim da ditadura militar de 64 até os dias atuais ocorreram inúmeros encontros e desencontros relativos ao governo estadual. Luiz Rochafoi o primeiro governador em eleito em 1982, depois de 1964.

Tinha um acordo com o último governador biônico, João Castelo, de colocar o seu primo João Rodolfo como vice e no pleito de 1986, disputar o Senado e tentar eleger Rodolfo seu sucesso. De saída, o acerto foi para o espaço e Luiz Rocha se revoltou quando José Sarney, presidente do Brasil, decidiu apoiar Epitácio Cafeteira, inimigo histórico dele e do governador.

Luiz Rocha não apenas rompeu com Sarney, como também só deu uma vez para João Rodolfo sentar em sua cadeira, enquanto foi aos Estados Unidos. Até o gabinete do vice foi retirado do Palácio dos Leões, enquanto Rochaficou no cargo até o último dia – sem direito a passar a faixa ao sucessor Cafeteira, que não quis nem vê sua sombra em Palácio no dia da posse.

A faixa foi recebida do presidente da Alema, Ricardo Murad, na Praça Pedro II. José Reinaldo também, em 2006, rompeu o grupo Sarney e ficou até o fim do mandato, apoiando até então adversário Jackson Lago, contra a candidata Roseana Sarney, que perdeu no 2º turno, mas elegeu Epitácio Cafeteira senador e depois cassou Jackson.

Como se pode perceber, as eleições de governo do Maranhão são movidas a tensão, rupturas e reatamentos inesperados. Brandão foi eleito em 2022 com o petista Felipe Camarão na vice, fruto de um acordo com Flávio Dino para 2026. Brandão disputaria o Senado e apoiaria o vice Camarão para sucedê-lo. Agora, ao dizer que tem um programa de governo, o “Mais Asfalto” para valer até o último dia do mandato “em 31 de dezembro de 2026”, o governador manda um recado direto ao vice.

Como o PT de Camarão jamais pode pensar em vencer uma eleição do governador do Maranhão, sem o respaldo no Palácio dos Leões, a fala de Brandão, se não tiver a adversativa “mas”,pode embaralha o jogo de 2026.

As eleições de outubro próximo têm tudo a ver com as gerais de 2026. Brandão trabalha agora intensamente para eleger o maior número de prefeitos e vereadores e construir uma poderosa base para a disputa majoritária de 2026. São duas vagas de senador que ele tem ampla chance de conquistar uma. Caso fique no mandato até o fim, adeus Senado e detona o projeto de Felipe Camarão sucedê-lo. O jogo iniciado em 2014 por Flávio Dino e Brandão muda totalmente de campo.

Mas como Kissinger dizia que a política é a arte de dizer “bom dia e logo em seguida a conjunção ‘mas’ – com os três pontinhos – tudo que aparecer até 2026 será plenamente previsível na política. Afinal, Brandão é um tucano histórico, que nada o impede de usar a conjunção adversativa, com o sotaque maranhense

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