Casal Bolsonaro abre crise com casal Maranhãozinho
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O dito popular ensina uma lição elementar, porém, de verdade cristalina: “dois bicudos não se beijam”. Essa assertiva está o centro da crise política do Maranhão entre o casal Jair e Michelle Bolsonaro e o casal de deputados federais Josimar de Maranhãozinho e Detinha.
Os quatro são das cúpulas nacional e estadual do PL, mas os dois maranhenses não rezam à cartilha bolsonarista e nem o seguem na extrema direita. Em 16 de outubro, Bolsonaro fez um áudio em que detona com os deputados do federais do PL, eleitos em 2022 com a força eleitoral de Josimar e sem qualquer agarramento às ideias extremistas do ex-presidente.
Esta semana, Michelle Bolsonaro, presidente nacional do PL Mulher, decidiu, apoiado pelo marido, defenestrar a deputada Detinha do comando do PL Mulher do Maranhão. Confirma que o dito popular de dois bicudos não se beijarem, está vigente na política do Maranhão.
A live de Bolsonaro chamando deputados do PL maranhense de “bandidos que deveriam ser expurgados do PL” foi apenas um duro aviso ao mandachuva Josimar do Maranhãozinho e sua esposa. Na campanha municipal, Michelle esteve no Maranhão com a senadora Damares Alves, mas o casal Maranhãozinho não se fez presente nos encontros delas com as mulheres de São Luís e de Imperatriz, onde apoiaram Mariana Carvalho (Republicanos).
Em 2022 Detinha foi campeã de votos no Maranhão, com 161,2 mil, não por sua filiação no PL bolsonarista, mas por ser mulher de Josimar de Maranhãozinho, que foi o mais votado federal em 2018 e ficou em terceiro lugar em 2022, com 158,3 mil votos.
Na Câmara, os casal vota de acordo com seus interesses eleitorais e não pela orientação do PL, que Josimar preside no Estado. Na eleição municipal, o PL elegeu 41 prefeitos no Maranhão, quase a metade de todos que elegeu nos nove estados do Nordeste. Logicamente, pela força política de Maranhãozinho e não pelo bolsonarismo que rachou em vários estados e tem um futuro cheio de encrencas a serem resolvidas até as eleições de 2026.
Ao sacar Detinha da presidência do PL Mulher do Maranhão e colocar no lugar a vereadora eleita de São Luís, Flávia Berthier, Michelle Bolsonaro e o marido mandam um recado direto ao marido da deputada, de que o pior pode estar por vir. No seu estilo refratário a polêmicas, Josimar de Maranhãozinho engoliu em seco a afronta e não respondeu.
Significa que até 2026, a crise instalada no PL maranhense pode ter novos desdobramentos, inclusive com a possível detonação também de Josimar, alvejado por Jair Bolsonaro. Mas caso seja expurgado da presidência do PL estadual, Josimar rapidamente encontrará outro abrigo partidário.
Depois da campanha eleitoral deste ano, o político que bandeou com entusiasmo juvenil para junto de Bolsonaro foi o deputado estadual Yglésio Moises, eleito pelo PSB em 2022, sem vocação ao socialismo ou simpatia com aesquerda. Em setembro de 2023 ele deixou o PSB com autorização do TRE-MA para não correr o risco de perder o mandato por justa causa partidária.
Tentou ingressar no PL, mas Maranhãozinho fechou a porta, por avaliar que o entusiasmo de Yglésio por Bolsonaro e a direita poderia lhe trazer problemas. Sem opção, Yglésio foi parar no PRTB, pelo qual disputou a prefeitura de São Luís, com o apoio total de Bolsonaro, indignado com o PL que entrou na coligação de Duarte Jr.
Yglésio passou a manter contatos diretos com Bolsonaro, com quem conversava no decorrer de sua campanha municipal. Mesmo com tamanha aproximação com o líder do bolsonarismo, o candidato do PRTB não passou dos 18.348 votos, num eleitorado de 607 mil. Mas ele sabe que a eleição municipal de 2024 foi apenas um ensaio para 2026.
Ele planeja concorrer à Câmara Federal e se tornar o deputado relevante no bolsonarismo nacional. Enquanto isso, a senadora Eliziane Gama (PSD) e o deputado e ministro dos Esportes André Fufuca (PP) já saíram em defesa de Detinha em manifestação de solidariedade. Significa que se Josimar perder o PL, tem as portas do PSD ou do PP escancaradas para recebê-lo.
Maranhaozinho tem apenas um partido: ele próprio e, no fundo no fundo, é igualzinho a Valdemar…
Sergio Taner
O Maranhãozinho é um político sagaz e tem larga influência em muitos municípios. Desprezá-lo da forma como o casal Bolsonaro fez parece uma atitude pouco recomendável.
Dorian Menezes