5 de fevereiro de 2025
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Na guerra dos bonés, o alvejado é o povo

Por Raimundo Borges

O Imparcial – O presidente dos Estados Unidos Donald Trump nem chegou a taxa as importações brasileiras, como fez com o México, China e Canadá, mas o marketing de sua campanha eleitoral, simbolizado num boné vermelho, virou guerra política entre esquerda e direita no Brasil.

No momento em que o país esperava que os Três Poderes da República voltassem da férias e retomassem às atividades de 2025 vestindo a bandeira da paz e adotando o diálogo para enfrentar os problemas econômicos de inflação, das ameaças trumpistastas, taxas de juros e a disparada do dólar, o que se viu foi a guerra dos bonés. Ao invés de usar a cabeça para formular ideias, os políticos parecem perder o juízo, copiando o adereço-simbólico do extremista americano Donald Trump.

No dia 29 de janeiro, na primeira reunião ministerial de 2025, o presidente Lula declarou que “2026 já começou”, ao reforçar o discurso da “herança maldita” herdada de Jair Bolsonaro. A reflexão pedida pelo presidente a seus ministros veio dois dias depois em forma de simbolismo do boné azul, idealizada pelo novo titular da Secretaria de Comunicação do Planalto, Sidônio Palmeiras, carimbado com a frase “Brasil dos Brasileiros”.

O contraponto do boné vermelho “Make America Great Again”, da campanha de Trump utilizado por bolsonaristas nos últimos meses, foi adotado por congressistas e ministros do governo Lula, cujas imagens viralizaram nas redes sociais e até nas vendas em sites desse tipo de produtos.

Jair Bolsonaro usando o boné vermelho “Make America Great Again”, da campanha de Trump

Além dos ternos e gravatas importadas que marcam o retorno do Congresso nas eleições de suas respectivas mesas diretoras, o adereço de cabeça foi o que mais rendeu notícias e análises de especialistas. Na ocasião, os ministros Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Carlos Fávaro (Agricultura) e Camilo Santana (Educação) que se licenciaram de seus cargos para participar da votação na Câmara, apareceram de boné azul, assim como o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP).

No mesmo dia, Padilha e outros deputados voltaram a exibir o boné, mas desta vez numa nova versão em amarelo que, porém, continuou gerando polêmica. Um dia depois de ser eleito, o presidente da Câmara Hugo Mota mandou um duro recado: “Boné é para proteger a cabeça do sol, não para resolver problemas do país. A gente precisa é de cabeça aberta para o país avançar”.  

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha usando chapéu Panamá para encobrir a cicatriz da cirurgia na cabeça, publicou um vídeo utilizando o boné e aguçou ainda mais a guerra entre governistas e bolsonarista radicais no Congresso e nas redes.

Como resposta, os deputados do PL organizaram, na segunda-feira, 3/2, uma manifestação contra Lula no Plenário da Câmara, na cerimônia de reabertura do ano legislativa, utilizando bonés nas cores verde e amarelo, com a frase: “comida barata novamente, Bolsonaro 2026” e gritaram “nem picanha nem café”. São os dois alimentos que puxam a alta da inflação.  

O que seria uma ocasião para os parlamentares começarem a debater o Brasil no cenário mundial de ameaças de Trump, os problemas internos de pobreza, desigualdade, crise climática com tragédias e prejuízos generalizados e a moralização das emendas pix, nada disso foi lembrado no Congresso.

Os bolsonaristas só pensam em colocar em pauta o projeto do PL para anistiar todos os criminosos civis e militares que, por pouco, não deram um golpe de Estado no Brasil. Como deu errado, o bolsonarismo que adotar a força das medidas de base fascistas de Trump pelo mundo a fora, para repercuti-las no Brasil e conectá-las à realidade política brasileira em 2026, contra o governo Lula.    

Em meio a esse começo de ano sem eleições, o que o país assiste é o mesmo jogo político de sempre, com as disputas de 2026 na agenda permanente, incorporado às tecnologias para uso descontrolado das redes sociais e da Inteligência Artificial.

Congresso que tem, dentre tantas funções, fiscalizar e controlar o Executivo, as contas públicas, o dinheiro público, o orçamento patrimonial e avaliar a eficácia do Sistema Tributário Nacional, já deu como prioridade manter inalterada o descontrole das emendas pix com suas brechas escancarada à corrupção das verbas que somam, em 2025, a montanha de R$ 53 bilhões. Portanto, a guerra dos bonés é um desface para desviar as atenções e manter o eleitor vulnerável às manobras de sempre.

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