Brasil vive novo filme político na vida real
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Se fosse um filme produzido para contar a história da tentativa de golpe de Estado em 08 de janeiro de 2023 contra a democracia brasileira, certamente precisaria ser ampliado para um seriado com vários episódios, mesmo assim de forma condensada para facilitar o entendimento.
A história do golpe que fracassou é resultante de vários capítulos desde a prisão de Lula abril de 2018 e a eleição presidencial de Jair Messias Bolsonaro no mesmo ano. De fato, em apenas seis anos a política brasileira entornou para a direita, chegando facilmente ao extremo. A derrota de Bolsonaro para Lula em 2022, mudou o rumo da história para um caminho sem volta da polarização que alcança os Três Poderes.
Hoje, o Filme “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles pode coroar a atriz Fernanda Torres com o maior prêmio do cinema mundial e a primeira conquista de uma produção brasileira. O longa conta a história de uma família de classe média do Rio de Janeiro que viveu os horrores da Ditadura Militar de 1964, na visão do escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do deputado Rubens Paiva, marido de Eunice Paiva, a personagem principal da trama, na luta para esclarecer o desaparecimento do marido, assassinado pelos militares.
O filme, que virou sucesso de bilheteria e de premiações mundo afora, reacende o debate além-fronteiras sobre a importância de preservar a triste memória da ditadura, assim como a luta para que tal evento histórico nunca mais se repita entre nós.

Desde a estreia em janeiro no Festival de Veneza já com imensa repercussão mundial, “Ainda Estou Aqui” se transformou no maior burburinho na internet e outros meios de comunicação num debate apaixonado que comtempla tanto os gostos artísticos como as ideologias políticas que permeiam o Brasil de hoje.
Não por acaso, o Supremo Tribunal Federal voltou a analisar ações que questionam a Lei de Anistia, que perdoou crimes cometidos na Ditadura Militar (1964-1985). A corte decidiu que todos os processos semelhantes, em andamento no país serão analisados na visão histórica do presente.
Por coincidência, esse tema se agiganta dentro do Congresso Nacional, com parlamentares direitistas em campanha para aprovar o projeto 2406/2024, da senadora Rosana Martinelli (PL-MT) que concede anistia aos golpistas que detonaram as sedes dos Três Poderes, em 08 de janeiro e também o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030.
Logicamente que, ganhando ou perdendo pelo menos uma das três categorias do Oscar que está concorrendo, o filme de Fernanda Torres e Selton Mello tem o mérito de trazer à tona a história da nefasta ditadura militar, que passa a ser vista como um acontecimento nada parecido como apresentado e até comemorado pelos bolsonaristas.

Na avaliação da Agência Pública, em reportagem de Laura Scofield, após a apresentação da denúncia contra Jair Bolsonaro e 37 golpistas pela Procuradoria-Geral da República, os seguidores de Bolsonaro têm apostado em Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, como o possível “salvador” de seu líder.
O discurso da extrema direita nas redes que busca esperança no exterior se conecta com outros dois eixos de argumentação: que os crimes imputados a Bolsonaro seriam frutos de perseguição política e que instituições brasileiras seriam parciais. O advogado do ex-presidente pretende anular a delação do tem-cel. Mauro Cid, cujos sigilos dos vídeos foram derrubados por Alexandre de Moras.
A decisão do ministro do STF, relator do rumoroso processo da tentativa de golpe de estado contra a democracia brasileira obteve ampla repercussão mundial. A impressa internacional tornou o tema matéria de capa, o que mede a sua importância fora do Brasil.
Tem tudo a ver com a democracia estremecida nos Estados Unidos após a chegada de Donald Trump ao poder, apostando em se tornar o rei do mundo, endeusado pela extrema direita,que tem no Brasil, a família Bolsonaro como referência para as eleições presidenciais de 2026. De fato, sea situação política do Brasil já estava caótica em 2022, os sinais de agora indicam que as próximas eleições não há nada tão ruim que não possa piorar.