Áudios inéditos da PF revelam trama golpista de militares e aliados
CB – Áudios inéditos extraídos ela Polícia Federal de mais de 1,2 mil celulares e computadores revelam os bastidores da trama golpista articulada em 2022. As gravações revelam que militares de alta patente mantinham contato direto com manifestantes e tinham uma estratégia paralela de contestação das urnas eletrônicas.
Além disso, os militares estavam articulados com o então presidente Jair Bolsonaro e tentavam pressioná-lo a assinar um decreto para destituir a democracia no país.
“A gente não sai das quatro linhas. Vai ter uma hora que a gente vai ter que sair. Ou então eles vão continuar dominando a gente”, disse o tenente-coronel Guilherme Marques de Almeida, que fazia parte do Comando de Operações Terrestres do Exército.
Fantástico revela diálogos exclusivos sobre os bastidores da trama golpista no fim do governo Bolsonaro. pic.twitter.com/5FCSwdWjXS
— Bruno Guzzo® (@BrunoGuzz0) February 24, 2025
Outra gravação, enviada por um interlocutor desconhecido para Almeida, expõe a articulação entre os militares e os manifestantes. “O povo está nas ruas, pedindo para que haja uma outra eleição, de forma que possa ser cobrado de uma forma mais clara”, afirmou.
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“Vai atropelar a grade e depois não vai ter mais como sair”, completou Almeida sobre a invasão da sede dos três poderes em 8 de janeiro de 2023. “[…] Eu tô tentando plantar isso nas redes, onde eles estão. Tô participando de vários grupos civis”, declarou, em outro áudio.
Contestação das urnas eletrônicas
O então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, encaminhou uma gravação de um suposto hacker, que estaria buscando “inconsistências” nos dados das urnas eletrônicas utilizadas nas eleições de 2022, que elegeram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Logo que saíram os arquivos do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), vou pegar esses arquivos aí pra ver o que dá pra fazer. E vou buscar, agora, qual que é a inconsistência desse negócio aí. Por que tá essa votação? Mas a gente teria que encontrar alguém lá de cima, do governo, principalmente”, alegou.
O suposto hacker cita ainda a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos do governo Bolsonaro, Damares Alves, dizendo que ela teria indicado uma assessora do ex-presidente para encaminhar a questão. “Por coincidência, uma tia tá na mesma igreja da Damares, da ministra. Aí a Damares, ela escutou e passou um contato de uma assessora do Bolsonaro”, disse.
Ordem de Bolsonaro
Os áudios também revelaram que os militares estimulavam o ex-presidente a não desistir da trama golpista. Conforme revelado pelas gravações, Bolsonaro buscava apoio das Forças Armadas para executar o plano e estava com medo de ser preso. “Ele entende o que pode acontecer”, disse Cid ao General Freire Gomes.
“Força, kid preto. Kid preto, algumas fontes sinalizaram que o Comandante da Força foi ao Alvorada, para sinalizar ao presidente que ele podia dar a ordem. Pô, se o senhor está com o presidente agora e ouvir a tempo, p****, blinda ele contra qualquer desestímulo. Isso é importante, kid preto. Força”, afirmou o general da reserva Mário Fernandes.
O plano, porém, foi barrado pelo Alto Comando do Exército, de acordo com as gravações. “Então, é assim tio, deu ruim, tá? Acabei de falar com o nosso amigo lá, ele falou que não vai rolar nada. O Alto Comando não vai topar. A Marinha topa, mas só se tiver outra Força com ela, porque ela não aguenta a porrada que vai tomar sozinha”, afirmou o tenente-coronel Sérgio Cavaliere ao coronel Gustavo Gomes.
Os áudios foram divulgados pelo Fantástico no domingo (23/2). O programa entrou em contato com os citados. A defesa de Cid disse que não comentaria o caso. A de Mario Fernandes alegou que a denúncia apresenta apenas trechos desconexos. A assessoria de Damares, por sua vez, disse que não se recorda de ter passado o tal contato da assessora de Bolsonaro.