12 de março de 2025
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Ressaca do carnaval deixa gosto amargo na política

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Passado o carnaval 2025, com seus números contados em milhões de foliões e bilhões de reais movimentados na festança, a semana começou com a política mostrando descompensação e descompasso no Congresso Nacional e no Planalto.

Nem data para aprovar o orçamento federal deste ano existe ainda, enquanto o Supremo Tribunal Federal torna réus dois deputados federais do Maranhão e marca, no fim de março, o julgamento do imbróglio sobre a eleição que reelegeu a presidente da Assembleia Legislativa, deputada Iracema Vale (PSB). No Executivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu posse aos petistas Alexandre Padilha, no Ministério da Saúde, e Gleisi Hofmann na pasta das Relações Institucionais, responsável pela interlocução política do governo.

Os deputados Josimar de Maranhãozinho e o Pastor Gil, ambos do PL, estão metidos na encrenca que não é nova, mas agora chegou à primeira Turma do STF que formou maioria para torná-los réus. O processo é centrado na acusação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal (PGR) sobre cobrança de uma propina de R$ 1,66 milhão em 2020 ao ex-prefeito de São José de Ribamar, Eudes Sampaio para a liberação de R$ 6,66 milhões em emendas parlamentares para o município.

O fato, que não é novo nem único, é apenas a ponta do iceberg de um escândalo que tem sido longamente denunciado, envolvendo um esquema de corrupção no Maranhão e de vários outros estados. Na esteira das emendas pix e do orçamento secreto, a corrupção fala alto.  

Por incrível que pareça o desfecho desse caso maranhense tem potencial para fazer o presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, pressionado por Jair Bolsonaro, sacar Josimar do controle da legenda no Maranhão e passá-lo ao deputado estadual Yglésio Moises, hoje um bolsonarista roxo, mesmo tendo sido eleito em 2022 pelo PSB, junto com Carlos Brandão e Flávio Dino (senador).

O deputado está filiado ao PRTB, mas assumidamente entusiasta da extrema direita, ao contrário de Josimar que, mesmo controlando o PL e os 40 prefeitos de 2024, no entanto, não reza a cartilha de Jair Bolsonaro, que o odeia e vem defendendo o expurgo do parlamentar, juntamente com os três deputados federais, eleitos pelo PL, sob a influência direta de Maranhãozinho.

Jair Bolsonaro pode acabar preso pelo STF

   

Na semana passada, em meio ao andamento do processo de tentativa de golpe de Estado que pode acabar em sua prisão pelo STF, Bolsonaro, inelegível até 2030, deu entender que não acredita nessa hipótese. Ele disse que “só morto” indicará outro candidato para disputar o Palácio do Planalto em 2026. É uma fala sem nexo, pois morto não manda em nada.

Em 2021, Bolsonaro também atrelou a morte ao seu futuro político, quando descartou a possibilidade de deixar o cargo de presidente. Disse que só encerraria o mandato antes do fim preso, morto ou com vitória. Não foi preso, não morreu e nem ganhou a reeleição em 2022, talvez por isso foi o articulador da tentativa de golpe de Estado, que também fracassou.

Já o presidente Lula está no terceiro mês da segunda metade do mandato e com o governo amargando derrotas no Congresso – até agora não aprovou o orçamento de 2025 –, sentindo a popularidade despencar e, novamente, como ocorreu no governo Dilma, as mesmas forças atuando articulada para impedir sua reeleição em 2026.

Nem os avanços no crescimento do PIB, nem emprego pleno, nem a melhoria da renda da população ajudam o governo sair das cordas. As medidas anunciadas para baixar o preço dos alimentos, não surtiram o efeito desejado, muito menos a tímida e reduzida reforma ministerial.   

Assim, o Brasil saiu do maior Carnaval dos últimos tempos, mas com o risco de a ressaca se perdurar por mais um bom tempo. O principal sintoma pode ser o cansaço do petismo no poder, a idade do presidente da República, o sumiço da militância das ruas e o engajamento assombroso das forças de direita nas mídias digitais sem uma reação à altura das esquerdas.

Se percebe, portanto, que nem os avanços da conjuntura econômica e um bom discurso sobre os impactos do clima na vida das pessoas, defendido por Lula & Cia, conseguem inverter a polarização política e aliviar a tensão dos brasileiros que se apegam aos preços dos alimentos sazonais para olhar com simpatia a investida bem articulada da direita, misturada ao Centrão no Congresso e ao Bolsonarismo num espaço mais abrangente.

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