Os 40 anos de Sarney no Planalto e os 95 de idade
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Faltando dois dias para completar 40 anos de sua posse histórica na Presidência da República, o político, jornalista e acadêmico José Sarney permanece em plena lucidez, com o prestígio nas alturas e sendo uma figura relevante na capital do Poder Central.
No próximo dia 24 de abril, ele estará completando 95 anos de admirável trajetória na política brasileira, na qual nunca ficou sem mandato entre 1955, quando assumiu na Câmara dos Deputados como suplente, até 2014, quando encerrou o 3º mandato de senador pelo Estado do Amapá, para onde mudou o domicílio eleitoral em 1990, tão logo deixou a Presidência da República, cargo que assumiu no dia 14 de março de 1985, com a morte de Tancredo Neves.
Na última 3ª feira, Sarney se fez presente no Palácio do Planalto, prestigiando a posse da ministra da Articulação Política do governo, Gleisi Hoffmann, ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Além de conhecer profundamente os meandros e funcionamento do Palácio do Planalto, onde despachou por cinco anos, Sarney se tornou amigo pessoal de Lula, assim como dos demais ex-presidentes que o sucederam.
Para ele, aquele 15 de março de 1985 foi a culminância de sua carreira política, quando assumiu o poder, substituindo João Batista Figueiredo, o último general da ditadura militar. Ele saiu pelos fundos do Palácio do Planalto para não assar a faixa ao civil, que fez a transição democrática, mas como governador do Maranhão teve todo o apoio do Marechal Castelo Branco.

Foram 40 anos de história que fizeram o Brasil e o mundo experimentar as transformações mais profundas nos séculos 20 e 21. Como presidente da República, Sarney fez três planos de congelamento de preços para combater a inflação – que não deram certos. Fez a transição democrática sem traumas, convocou a Constituinte que elaborou a Constituição de 1988 e foi o único brasileiro a presidir o Congresso Nacional por quatro vezes.
Escreveu 30 livros nos mais variados gêneros literários e ainda permanece na sua primeira atividade profissional, escrevendo semanalmente, no jornal O Imparcial, onde se tornou jornalista ainda como estudante da Faculdade de Direito da Ufma, na década de 1950.
Há 40 anos Sarney chegou ao Palácio do Planalto, em meio à crise política com a internação do presidente eleito Tancredo Neves, no dia 14 de março, no hospital de Base de Brasília.
A noite de 14 para o dia 15 (da posse), Sarney viveu os momentos mais tensos de sua vida. Tancredo temia que Figueiredo não desse posse ao vice, e poderia armar um golpe para ficar. Brasília fervia, tomada pela população de todo o Brasil para assistir o momento da mudança de regime, com índios, trabalhadores, carros de som em cada canto da Praça dos Três Poderes, tocando “Vai Passar”, música de Chico Buarque, o “hino” da Nova República.
O último general do regime militar no poder, João Figueiredo, nutria profundo rancor por Sarney, tido como “traidor” por muitos militares, depois que deixou a ex-Arena, ex-PDS, egresso da Frente Liberal, filiou-se ao PMDB para formar, com Tancredo, a chapa presidencial da chamada Aliança Democrática, vitoriosa no Colégio Eleitoral em janeiro de 1985.
Um ano antes, em 1984, o Brasil se mobilizou nas ruas, com jovens, de caras pintadas, exigindo eleições diretas já, na campanha política mais vigorosa pela causa da democracia em toda a história do Brasil. Com sua imensa capacidade de articulação, ponderação e diálogo, o filho de São Bento conseguiu segurar a onda e fazer o país chegar aonde se encontra. Por isso, Sarney é sempre respeitado como nenhum outro ex-presidente.
Hoje, com toda a humildade de quem teve a mais longa e histórica trajetória política, Sarney se diz, orgulhosamente, ser o “cuidador” de dona Marly, com quem se enamorou em 1946, quando ela tinha 14 anos. Sarney, portanto, foi seu primeiro e único namorado, com quem noivou e casou em julho de 1952.
Agora, ele vai completar 40 anos da posse na Presidência da República e, mais adiante, 95 anos de idade, prestigiado e convidado para solenidade no Palácio do Planalto, como um gesto simbólico do presidente Lula para os políticos de direita e do Centrão de que ele não quer embarcar no radicalismo danoso ao Brasil, num dos seus bons momentos que atravessa na economia e na posição que ocupa perante o mundo.