Fake news e conflito ideológico marcam o conclave mais internacional da Igreja
DCM – O conclave que escolherá o novo papa será o mais global da história da Igreja Católica. Após a morte do Papa Francisco, que nomeou cardeais de regiões menos representadas do mundo, o Colégio Eleitoral terá integrantes de 71 países. Mesmo com a Europa ainda sendo maioria, com 53 cardeais, há representantes da América do Sul, África, Ásia e até de países como Sudão do Sul e Timor Leste. Nunca o grupo foi tão diverso, o que aumenta as tensões internas e externas sobre os rumos da Santa Sé. Com informações da coluna de Jamil Chade, no UOL.
Impacto das redes sociais e fake news
Além da disputa entre alas conservadoras e progressistas, a eleição enfrentará um novo fator: o impacto das redes sociais.
Segundo levantamento da empresa Cyabra, 31% das contas que comentaram a saúde do papa antes de sua morte eram falsas. O estudo revelou um esforço coordenado para espalhar desinformação, incluindo rumores de que o pontífice já estaria morto, o que acendeu um alerta no Vaticano.
O temor é que essas campanhas de fake news se intensifiquem até o início do conclave, previsto para ocorrer duas semanas após o sepultamento.
“Será o primeiro conclave que viverá, de forma plena, o poder das redes”, afirmou o teólogo Massimo Faggioli. Para tentar conter o avanço da desinformação, o Vaticano decidiu adotar uma postura mais transparente, publicando boletins médicos regulares e até mensagens do papa gravadas diretamente do hospital.
Reforço nas medidas de isolamento
A preocupação com a influência digital levou a Santa Sé a reforçar medidas de isolamento dos cardeais durante o conclave. Eles estarão proibidos de acessar TV, celular ou jornais.
A tradição da reclusão — que originou a palavra “conclave”, do latim cum clave (“com chave”) — será mantida com rigidez para evitar qualquer tipo de interferência externa no processo de escolha.
O Vaticano já reconhece oficialmente o desafio das plataformas. Em 2023, o Dicastério para as Comunicações publicou um documento sobre o papel das redes sociais na evangelização e alertou para o risco de “polarização e extremismo”. A preocupação agora é proteger os cardeais da manipulação.
Historicamente, conclaves já sofreram pressões políticas, como em 1271, quando os cardeais foram literalmente trancados em Viterbo durante quase três anos.