As tarifas de Trump e os impactos para a economia maranhense
Por Michel Teixeira*
A recente intensificação das políticas protecionistas pelos Estados Unidos, com a imposição de tarifas adicionais sobre produtos chineses e de outros parceiros comerciais, reacende um alerta para economias periféricas como a do Maranhão. Embora à primeira vista pareça uma disputa entre gigantes, os reflexos desses movimentos alcançam até os portos do norte e nordeste brasileiro.
Com um perfil exportador fortemente baseado em commodities, especialmente soja, alumina e celulose, o Maranhão se insere em cadeias produtivas globais que são diretamente afetadas por essas tensões. Em 2024, o estado exportou US$ 5,5 bilhões, sendo a soja responsável por 34% desse total, movimentando US$ 1,9 bilhão. A China, principal destino das exportações maranhenses, respondeu por uma corrente comercial de US$ 1,4 bilhão, seguida por Canadá e Estados Unidos.
A redução da demanda chinesa por commodities, devido ao encarecimento de suas exportações e ao desaquecimento industrial, pode impactar a atividade do Porto do Itaqui, um dos principais vetores econômicos do estado. Além disso, políticas protecionistas nos EUA pressionam o dólar para cima, o que, embora beneficie exportadores no curto prazo, encarece insumos importados e aumenta os custos de produção local, especialmente para o agronegócio. O resultado é um ambiente de incerteza que dificulta investimentos e planejamento estratégico.
O Maranhão, como parte de uma economia regional interligada ao mercado global, sente os efeitos de decisões tomadas a milhares de quilômetros. É preciso que nossas políticas estaduais estejam atentas a essas movimentações externas e ajam com inteligência. Fortalecer programas de agregação de valor às exportações, investir em infraestrutura logística, ampliar acordos comerciais com novos mercados e incentivar a industrialização local são caminhos que podem reduzir a vulnerabilidade externa. O planejamento econômico precisa ir além do curto prazo, sob pena de sermos novamente surpreendidos por uma crise que não começamos, mas da qual certamente participamos.
*Michel Teixeira é maranhense, economista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP) e especialista em engenharia financeira pela USP.