À frente da CBF, Fernando Sarney promete ser apenas transitório
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Ao participar, no último dia 05, da solenidade de entrega de medalha ao ex-presidente José Sarney, na Federação das Indústrias do Maranhão (Fiema), pelo presidente da entidade, Edilson Baldez, em reconhecimento aos serviços prestados à indústria maranhense e nacional, o empresário Fernando Sarney foi interpelado por este jornalista, Raimundo Borges, sobre quando iria assumir a presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Por enquanto não está nos planos”, desconversou ele, no seu estilo discreto, de fino trato, mas sem nunca tomar a frente dos holofotes.
Até na atividade empresarial, como CEO do conglomerado Mirante (rádio, TV e portais de internet), o segundo filho de José Sarney prefere atuar nos bastidores, inclusive na política, ramo adotado longamente por toda a sua família — menos ele. Sempre atuou nas sombras das campanhas do pai no Amapá, da irmã Roseana Sarney, quatro vezes governadora do Maranhão, e do irmão Zequinha Sarney, deputado federal por cinco mandatos consecutivos e um estadual.
Na última quinta-feira, Fernando Sarney foi nomeado interventor da CBF após o afastamento do presidente Ednaldo Rodrigues, conforme ação judicial de autoria do próprio empresário. A nomeação foi assinada pelo desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Gabriel de Oliveira Zeferino. Sarney assumiu o posto como interino e será o responsável por convocar uma nova eleição em até 60 dias. Alegando ser “transitório”, disse que não vai mexer no acerto com o novo técnico da Seleção, Carlo Ancelotti.
Fernando Sarney foi um dos signatários do acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que reconheceu como legítima a eleição de Ednaldo. No entanto, Sarney passou a ser mais um a questionar a autenticidade da assinatura do coronel Nunes no documento.
Fernando José Sarney tem 70 anos e é filho do ex-presidente da República e do Senado, José Sarney (PMDB), com sua esposa Marly Sarney. Ele nasceu em São Luís (MA) e é formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1978. É o poliglota da família Sarney, ao falar quatro idiomas, além de profundo conhecedor das entranhas do futebol, graças à atuação na CBF desde 1998.
Ele entrou na entidade como diretor de Relações Governamentais. Ganhou destaque por sua habilidade diplomática e, em 2015, assumiu uma cadeira no Comitê Executivo da Fifa, indicado por Marco Polo Del Nero, que havia renunciado ao posto.
Além de cargos nas gestões de Ednaldo Rodrigues e Marco Polo Del Nero, Fernando Sarney fez parte das administrações de Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Rogério Caboclo. É um dos personagens mais longevos e influentes dos bastidores do futebol brasileiro. Desde 2004, ele ocupa uma das vice-presidências da entidade máxima do futebol nacional, cargo que atravessou gestões, crises e mudanças de comando sem perder sua relevância interna. Consolidou-se como figura de continuidade em um ambiente marcado por turbulências e disputas de poder.
Segundo a Revista Lance, em 2015, Fernando Sarney foi indicado por Del Nero para ocupar uma cadeira no Conselho da Fifa, cargo que exerceu até o início de 2024. A saída forçada, substituída por Ednaldo Rodrigues por indicação da Conmebol, marcou o início de um distanciamento político que se agravou nos meses seguintes.
O ponto de ruptura definitivo veio na eleição de março deste ano. Pela primeira vez, Fernando Sarney não foi incluído na chapa da situação, reeleita por aclamação, o que foi interpretado como uma exclusão estratégica por parte de Ednaldo Rodrigues. A partir desse momento, Sarney passou a liderar uma ofensiva nos bastidores e no Judiciário para contestar a legalidade da permanência de Ednaldo no cargo.