Consumo do Nordeste já supera a região Sul
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Em 1973, na cobertura de um jogo Sampaio x Corinthians no Estádio Nhozinho Santos, conheci o jornalista José Moura, de Pernambuco, mas chefe da Fotografia dos jornais Diário da Noite e Diário de São Paulo, na capital paulista.
No final do jogo, ele não só gostou do meu trabalho como repórter-fotográfico, como também me convidou para trabalhar na maior metrópole do Brasil, com um salário bem acima do que eu ganhava n’O Imparcial, então dirigido pelo juiz Arthur Almada Lima. Trabalhar em São Paulo era o sonho de qualquer nordestino, principalmente como convidado para dois jornais dos Diários Associados, junto com a TV Tupi, que estava no auge como principal emissora do país, enquanto a TV Globo ainda engatinhava.
Convite aceito, quinze dias depois, Moura mandou um vale postal com o dinheiro da passagem pela Itapemirim, maior empresa de ônibus do país. Quando cheguei aos jornais, na Rua 7 de Abril, 2030, Centro de São Paulo, Moura chamou o diretor da Redação para me apresentá-lo.
Ele, de pronto, me cumprimentou com a estranha indagação: “Maranhão, tu trouxestes intérprete?” Uma boa-vindas carregada de preconceito xenofóbico. Pensei rápido e fui ao contra-ataque: “Meu nome é Raimundo Borges e venho de São Luís, onde se fala o melhor português do Brasil.” – “Desculpa, cara, estou brincando. Seja bem-vindo.”
Foi a primeira e única vez que Nelson me chamou de “Maranhão”. Hoje em dia, quando se fala em xenofobia no Brasil, algo salta com realce cristalino: o preconceito de sulistas e sudestinos contra nordestinos e nortistas, até hoje lambuzando as redes sociais. Em São Paulo, em décadas passadas, todo brasileiro chegado do Nordeste era do “Norte” ou baiano.
As máquinas de cortar asfalto e colocar brita nas ruas, com seu som trepidante inconfundível, eram as “lambretas de baiano”. Felizmente, o Nordeste há anos deixou de ser, para o Sul e Sudeste, a parte do Brasil considerada como o lugar de famintos, analfabetos, braçais e incultos – mesmo sendo a região de história mais marcante do país.
Neste 19 de maio de 2025, o Nordeste aparece nas pesquisas socioeconômicas não mais como sinônimo de pobreza, folclore e desamparo, mas sim como a região que está dando a volta por cima, prestes a ultrapassar o Sul como a de maior consumo no Brasil, atrás apenas do Sudeste.
A previsão para este ano é que as famílias nordestinas movimentem R$ 1,513 trilhão, 18% do consumo nacional, enquanto o Sul fica com 18,51%. Com muito trabalho e talento, o Nordeste desempenha papel significativo no desenvolvimento econômico do Brasil, com um crescimento do PIB superior à média nacional em 2024 (3,8%) e projeção ainda melhor para 2025. São R$ 750 bilhões de investimentos em 10 anos na região.
Tem mais dados positivos: os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte lideraram o ranking estadual de crescimento no país. A Paraíba alcançou o melhor desempenho, com uma alta de 6,6%, seguida pelo Rio Grande do Norte, com 6,1%. Depois vêm o Ceará, Pernambuco, Piauí e Maranhão, todos com 3,6%, segundo dados do Consórcio Nordeste. Uma integração bem articulada de políticas públicas entre os estados nordestinos potencializa o desenvolvimento econômico e social.
A região tem se beneficiado de programas sociais, reajustes no salário mínimo, investimentos em energia renovável, gás, queda no desemprego, avanço do turismo, da indústria e do agro. A transição energética é uma realidade.
No primeiro quadrimestre de 2025, 159 mil turistas estrangeiros desembarcaram na região, com um faturamento de R$ 4,56 bilhões – 40% do total nacional. O desemprego caiu de 11% para 9,4% entre 2023 e 2024. Também os estudiosos das questões sociais têm observado uma queda vertiginosa de nordestinos desembarcando em São Paulo em busca de subemprego.
Por sua vez, o Maranhão, grande fornecedor dessa mão de obra desqualificada, já não é mais como foi. Na região Sul do estado, há centenas de vagas disponíveis, enquanto o SENAI e o SENAR têm uma atuação forte na área de qualificação de mão de obra, assim como a estrutura do próprio governo estadual. Tudo andando na mesma direção de um futuro promissor.