Dinistas brigam no MA, direita se une no Brasil
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Em agosto de 2006, o jornal Folha de S. Paulo escalou a jornalista Elvira Lobato para uma reportagem em São Luís sobre a campanha eleitoral em curso. “Pela primeira vez em 40 anos, a família Sarney disputa uma eleição no Maranhão tendo contra ela a máquina do governo estadual, a maioria dos prefeitos e da Assembleia.”
A campanha estava fervendo de denúncias de corrupção envolvendo tanto o grupo Sarney quanto o então governador José Reinaldo Tavares (PSB), cria política do ex-presidente, com o qual estava rompido desde 2004. Apoiava Jackson Lago (PDT), Edson Vidigal (PSB) e Aderson Lago (PSDB), todos contra a senadora Roseana, que desdenhava: “Quem tem três não tem nenhum.”
Olhando hoje para aquele retrospecto de 21 anos atrás, observa-se que muita coisa mudou na política maranhense. Jackson venceu aquele pleito, mas perdeu meio mandato para Roseana, em processo no TSE por compra de votos. Em 2011, Jackson morreu, depois de perder nas urnas para Roseana em 2010 – hoje deputada federal.
O ex-presidente José Sarney está com 95 anos, mas ainda opera como “consultor” informal de temas relevantes, como está agora, ao lado de Michel Temer, buscando uma alternativa para 2026. Os demais candidatos de 2006 sumiram da política. Apenas José Reinaldo bate ponto no poder, como secretário de Desenvolvimento Econômico e Programas Estratégicos do governo Brandão.
Em 2014, no final do mandato de Roseana, ela lançou o empresário Lobão Filho (MDB) contra Flávio Dino, que havia sido derrotado por ela em 2010. Dino, filiado ao PCdoB, se uniu a nove partidos, venceu Lobão, com 18, no primeiro turno, e repetiu o feito em 2018. Quebrou a estrutura de meio século do grupo Sarney e assumiu a liderança absoluta do Maranhão, tendo como vice Carlos Brandão (PSDB).
Em 2022, Brandão foi para o PSB se juntar a Dino, que já havia deixado o PCdoB em 2021. Tendo Lula como artífice do acordo que elegeu Flávio Dino senador, Brandão, governador, com Felipe Camarão (PT) na vice. O combinado era de chegar a 2026, com Brandão concorrendo ao Senado e Camarão ao governo.
O incrível da política surgiu nesse ínterim. Sarney e Flávio Dino (hoje ministro do STF) já haviam fumado o cachimbo da paz, se tornaram “velhos amigos” e confrades da Academia Maranhense de Letras. E Roseana, que sofreu a derrota de 2014 para Dino-Brandão, em 2024 entregou, de mão-beijada, o MDB regional ao empresário Marcus Brandão, irmão de Carlos, governador.
Agora, Roseana e o pai assistem de camarote a outra cambalhota política, desta vez irrompida no centro do grupo dinista. Brandão e Dino estão de relações cortadas, enquanto a disputa de 2026 vive em turbulência, que é adrenalina pura.
O racha passa pela reeleição da deputada Iracema Vale (PSB) na presidência da Assembleia Legislativa, e tramita a passos de tartaruga no Supremo Tribunal Federal, para decidir se vale o critério de desempate por maior idade ou por número de mandatos no Poder. Com o placar de 4×0 a favor de Iracema, o ministro Alexandre de Moraes, relator, protelou o julgamento e só agora o liberou ao plenário.
Já a Alema, que viveu os anos de Dino e Brandão com uma oposição desmilinguida, a partir de fevereiro mudou tudo. Irrompeu uma oposição aguerrida, liderada por Othelino Neto, ex-PCdoB. São os mesmos deputados eleitos em 2022 sob as bênçãos de Brandão. Bem ao lado, o prefeito Eduardo Braide (PSD) acompanha a refrega vizinha com particular interesse, torcendo para o racha se tornar irreversível, com ele disputando a cadeira central do Palácio dos Leões.
Na última quinta-feira, o deputado Márcio Jerry (PCdoB) fez um discurso na Câmara, apelando à reconciliação no grupo dinista. Defendeu a “conexão dos tempos presentes com aquele movimento que mudou o Maranhão em 2014”. Foi o mesmo que pedir um armistício entre os dois lados que, unidos, chegaram ao poder apenas onze anos atrás.
Enquanto isso, os ex-presidentes Michel Temer e José Sarney (MDB) se reuniram em São Paulo, no dia 22/05, para discutir a construção de uma chapa única de centro-direita para 2026. O encontro, que durou mais de duas horas, faz parte do projeto “Movimento Brasil”, que visa unir lideranças da direita. Quando chegar ao Maranhão, certamente encontrará um terreno fertilíssimo.