Moraes rastreia “remetentes de Pix” a Carla Zambelli, que ironiza extradição: “pagando para ver”
Revista Fórum – Arrecadação via Pix, que teria financiado a fuga, é o principal motivo da briga de Carla Zambelli com o clã Bolsonaro, que segue em silêncio sobre a fuga da deputada, que deve ficar nos EUA e pedir proteção a Trump.
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou ao Banco Central “que informe, detalhadamente, o valores e os remetentes de Pix para Carla Zambelli nos últimos 30 dias” no novo inquérito aberto contra a deputada bolsonarista, que fugiu do Brasil após ser condenada a 10 anos de prisão.
A abertura da nova investigação foi determinada por Moraes na noite desta quarta-feira (4), que pede que a Polícia Federal monitore e preserve os conteúdos publicados nas redes sociais de Carla Zambelli “ou de terceiros com ela relacionados, que guarde pertinência com esta investigação”. O ministro ainda determina que ela seja ouvida “no prazo de 10 dias”.
A investigação vai apurar supostos crimes de “coação no curso do processo” e “obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa” e coloca Carla Zambelli no mesmo patamar de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que fugiu para os EUA e também é alvo de investigação por conspirar contra autoridades brasileiras.
“Carla Zambelli afirma que está revendo ‘o plano original de se mudar para a Itália e cogita permanecer nos Estados Unidos e pedir asilo político ao governo Donald Trump’, o que reforça, como destacado, o intuito de adotar o mesmo modus operandi utilizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro para a prática de condutas ilícitas”, diz Moraes no pedido de abertura do inquérito, citando entrevista da deputada à CNN – leia a íntegra da decisão de Moraes.
Troça com extradição
A deputada bolsonarista, que fugiu do Brasil pela fronteira terrestre com a Argentina para não deixar rastro e, de lá, partiu para a Flórida, passou a cogitar a ficar nos EUA, após sinalizar que embarcaria para a Itália, onde tem cidadania.
“Tenho cidadania italiana e nunca escondi, se tivesse alguma intenção de fugir, eu teria escondido esse passaporte. (…) Como cidadã italiana, eu sou intocável na Itália, não há o que ele possa fazer para me extraditar de um país onde eu sou cidadã, então eu estou muito tranquila quanto a isso”, disse, em princípio.
Nesta quarta-feira (4), o deputado italiano Angelo Bonelli, da Aliança Verde de Esquerda, anunciou que já apresentou ao governo da Itália, ao ministro do Interior e ao ministro das Relações Exteriores um pedido sobre a colaboração judicial entre os dois países.
Bonelli afirmou que “não se pode usar a cidadania italiana para se escapar de uma condenação. A Itália, portanto, corre o risco de se tornar um paraíso para gente condenada. Aguardamos uma resposta clara do governo italiano em caso de, se pretende extraditar Carla Zambelli para o Brasil”.
Em entrevista à CNN, no entanto, Carla Zambelli fez troça sobre a inclusão do nome na lista vermelha da Interpol e de uma possível extradição, caso se abrigue na Itália.
“Estou pagando para ver um dia desses”, afirmou. “Se eu tenho o passaporte italiano, ele pode colocar Interpol atrás de mim, eles não me tiram da Itália”, emendou a bolsonarista.
Novos ataques ao STF e briga por Pix
A liderança da oposição na Câmara dos Deputados, cargo ocupado atualmente pelo deputado federal Zucco (PL-RS), defendeu Zambelli e desferiu novos ataques a Moraes e ao STF ao cobrar um posicionamento do presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), nesta quarta-feira (4), sobre o pedido de prisão preventiva da deputada.
O texto ainda reitera que serão feitas denúncias em instâncias internacionais por parte dos parlamentares da oposição. “A Liderança da Oposição se solidariza integralmente com a deputada Carla Zambelli e reafirma seu compromisso de denunciar esses abusos em todas as instâncias nacionais e internacionais. O Brasil não aceitará viver sob o regime da mordaça, da perseguição e do arbítrio”, completa.
“Diante de tamanha gravidade e da total ausência de precedentes na história do Parlamento brasileiro, a Presidência da Câmara dos Deputados — na figura do presidente Hugo Motta — tem o dever constitucional, institucional e moral de se manifestar com firmeza e urgência”, descreve a nota.
A ação acontece em meio ao silêncio do clã Bolsonaro por um motivo que vai além da mágoa de Jair Bolsonaro (PL), que culpa a aliada pela derrota eleitoral em 2022.
Antes da fuga, Zambelli falou sobre o caso e deixou clara a decepção com o ex-presidente, “uma pessoa que admiro tanto”, em entrevista.
“Eu também não quero mais falar em cima disso. ‘Perdoa também o presidente’, eu já perdoei. Ele nem pediu desculpas, nem nada, porque acha que está certo, mas perdoar no sentido de reavivar uma ferida que estava fechando, uma ferida muito grande”, disse a deputada, que alegou que entrou em depressão com os ataques de Bolsonaro.
Nesta terça-feira (3), ao anunciar a fuga, a deputada tentou se reaproximar do clã dizendo que vai “ombrear” com Eduardo Bolsonaro (PL-SP), disseminando a narrativa de “perseguição” na Europa. O filho “03” de Bolsonaro, que fugiu para os EUA, ignorou o aceno da aliada e, assim como os irmãos e a madrasta, Michelle Bolsonaro, silenciou sobre a estratégia da parlamentar.
No entanto, o principal motivo do silêncio do clã diz respeito à briga aberta com Carla Zambelli na máquina milionária de explorar aliados com campanhas via Pix.
A deputada teria se irritado por Bolsonaro lançar uma nova campanha para arrecadar dinheiro dos seguidores dias antes da ação anunciada por ela, com vistas a financiar a fuga do país. Em 2023, Bolsonaro já havia arrecadado R$ 17 milhões em doações dos extremistas.
A aliados, Carla Zambelli teria reclamado que tem dívidas que beiram R$ 3 milhões e que a campanha “mesquinha” de Bolsonaro iria esvaziar as doações a ela.
A campanha da deputada foi lançada em 19 de maio, quando já planejava a fuga do país.
“Aquela vaquinha que lancei ontem já deu R$ 285 mil até à noite e hoje tinha mais R$ 10 mil que entrou, então tem R$ 295 mil até agora. Mas, são R$ 3,5 milhões de multa. Para pedir prisão domiciliar, indulto – vamos supor que a gente eleja um presidente no ano que vem e em 2027 pedir indulto -, eu poderia fazer isso, mas teria que pagar multa. Então, estou me preparando para pedir prisão domiciliar, indulto em 2027, mas para isso preciso pagar uma multa que não tenho a mínimo condição de pagar”, disse ela, em entrevista um dia depois.
Nas redes, a deputada usou o filho, o “consultor político” João Zambelli, e a mãe, Rita, para apelas por mais doações.
“Como vocês sabem, minha filha está sendo duramente perseguida e enfrentando multas altíssimas, milionárias e totalmente desproporcionais. Peço, por favor, que, se acreditam na luta dela ao longo desses 14 anos, a ajudem com o que puderem”, diz o texto credito à mãe, que estaria sendo usada nas redes de Zambelli para evitar bloqueios.
Antes da fuga, a deputada, que teve o mandato cassado, também lançou a mãe e o filho como pré-candidatos nas eleições de 2026 e 2028.