17 de junho de 2025
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Sem bombeiros, a política do MA queima em fogo brando

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Desde a semana passada, o governador Carlos Brandão (PSB) está na Europa, com compromissos oficiais em Paris e Estocolmo (Suécia), numa agenda cultural e ambiental, inclusive tendo encontro na capital francesa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Além de “treinar” o inglês em discurso para franceses na sede da Unesco, Brandão tratou de um tema-tabu para os maranhenses: encontro com as multinacionais Stegra (Suécia) e Oil Group (França), em busca de investimentos para o Maranhão. Ele carregou um calhamaço de dados sobre o potencial do Estado como estratégico para a instalação de refinarias modulares na região de Bacabeira, onde está prevista uma Zona de Processamento de Exportações (ZPE).

No Palácio dos Leões, o vice-governador Felipe Camarão (PT) está cumprindo rigorosamente a liturgia da interinidade, sem mover uma palha além do alcance de sua função. Politicamente, ele recebeu uma visita da cúpula do PL maranhense, no mesmo dia em que novo confronto entre deputados estaduais dos ramos dinista e brandonista ocorria no plenário da Assembleia Legislativa. Já o PL aproveitou para visitar Camarão, ironicamente, filiado ao PT e ligado ao tronco político do dinismo. Num gesto destoante, mais simbólico, os deputados federais Detinha e Josimar Maranhãozinho, os estaduais Fabiana Vilar, Hélio Soares e Aluízio Santos, o presidente estadual do PL e o vereador de São Luís, Aldir Júnior, deram seu recado.

Embora parecendo um sinal trocado, esse tipo de relacionamento entre liberais do PL e petista, no centro do Poder estadual, tem seus significados. Dentre eles, o recado de que Josimar e seu grupo não são bolsonaristas e estão ao lado de Camarão. Historicamente, Josimar se tornou um campeão de votos transitando em faixa própria da política maranhense, apoiado pelo presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto, e odiado por Jair Bolsonaro. Mas o que Josimar sinaliza é como quem quer dizer: “Essa briga raivosa entre dinistas e brandonistas não me interessa nem um pouco”. Logo ele, com um monte de rolos no STF.

De qualquer forma, há uma crise de fuxicaria, leva e traz em redes sociais e lengalenga ao redor do ministro Flávio Dino e do governador Carlos Brandão, com contornos de uma ruptura viável e irreversível. Neste sábado, Brandão retomará o comando do governo, trazendo de Paris e Estocolmo boas notícias sobre a vinda a São Luís da cúpula da Unesco para o ato de comemoração do título de Patrimônio Imaterial e Cultural da Humanidade concedido ao Bumba-Meu-Boi, e de Patrimônio Natural da Humanidade ganho pelos Lençóis Maranhenses. Brandão formulou o convite à Unesco, depois de ser autorizado pelo presidente Lula, que também estará no próximo dia 27 em São Luís para os eventos.

A vinda de Lula ao Maranhão não se trata apenas de uma visita protocolar. Significa que ele e o governador do PSB, partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, permanecem atuando politicamente alinhados. Tal alinhamento em ações de governo tem tudo a ver com as eleições de 2026, em cujo calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) elas estão distantes 15 meses, a partir desta quarta-feira, 4/06. É até compreensível que os 18 deputados federais e os três senadores apareçam cautelosos sobre a guerra travada na Alema. Nem a senadora Ana Paula Lobato repercutiu, no Senado, a gritaria travada na oposição estadual, sob a liderança de seu marido Othelino Neto (SD).

Portanto, é interessante observar-se que, apesar da contundência do confronto entre os deputados brandonistas e os dinistas, eleitos em 2022 pelo mesmo grupo liderado por Flávio Dino e Carlos Brandão, predomina o silêncio da maioria do plenário da Alema, que escuta tudo, mas sequer interfere com apartes. O decano da Casa, Arnaldo Melo, com a experiência de oito mandatos consecutivos, é um dos que nem estimula nem apazigua. Já a presidente Iracema Vale, também pela posição que ocupa, só lhe cabe interferir nos excessos que extrapolem as regras de conduta previstas no Regimento Interno. Portanto, é uma briga na orfandade – não tem pai nem mãe, mas tem futuro tão próximo quanto incerto.

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