Tempo passa e a sucessão no Maranhão vira fumaça
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Passam-se semanas, passam-se meses, e as eleições no Maranhão não passam de barulho nas redes sociais, discursos de época e articulações infinitas que se movimentam sem, porém, sair do lugar. O governador Carlos Brandão percorre o Maranhão, conversa em Brasília, ouve indagações por todo lado, mas prefere apenas fazer gestos e sinalizar que somente em 2026 vai definir o que fazer do seu futuro.
Esse futuro está vinculado a incontáveis políticos e partidos, principalmente o vice-governador Felipe Camarão (PT), o secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), a deputada Iracema Vale (PSB), deputados federais e os senadores Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PSB).
Com o largo conhecimento da política do Maranhão, com suas relações amarradas a Brasília e às cúpulas partidárias, Brandão mantém a cautela por motivos óbvios: se antecipar o jogo da sucessão por sua conta e risco, seu governo será a maior vítima. Começa a desembalar os problemas antes do tempo certo.
No meio do governo, tem o PT de Camarão, com o presidente Lula querendo emplacar, em 2026, um governo do partido no Maranhão, uma de suas principais bases eleitorais no Brasil. Já o ministro do STF, Flávio Dino, saiu organicamente da política, mas deixou a sombra, recusando-se a vestir a toga. Enquanto isso, Brandão tenta segurar a onda da sucessão dentro de uma frente ideologicamente difusa.
Enquanto ganha tempo, ele incentiva aliados estaduais e municipais a transformarem o sobrinho Orleans Brandão numa candidatura viável à sua sucessão, sabendo que Camarão se movimenta no mesmo rumo para continuar o projeto de poder tocado por Flávio Dino e Brandão desde 2014.
Brandão não abriu o jogo com o PT, nem com o presidente Lula, sobre esse imbróglio ao seu redor. O partido de Lula tem, no governo do Maranhão, mais de cinco mil cargos comissionados, segundo um dirigente local – desde secretarias, passando por adjuntos, até os milhares de empregos de menor influência.
Em 2010, o PT estadual decidiu apoiar Flávio Dino (PCdoB) ao governo, mas a Executiva Nacional interveio e fechou com Roseana Sarney, colocando Washington Oliveira (PT) na vice. Como a oposição estava dividida entre Dino, Jackson Lago e José Reinaldo disputando o Senado, Roseana derrotou todos e ainda elegeu os senadores Edison Lobão e João Alberto.
O PT, nessa ocasião, chegou ao governo com Washington Oliveira que, no entanto, renunciou em 2013 em troca do cargo de conselheiro do TCE-MA, onde se aposentou em 2024 e hoje é secretário do governo Brandão em Brasília. O 2º vice-governador do PT no Maranhão é Felipe Camarão, eleito com Brandão em 2022.
Quando o jogo da sucessão estadual entrar na fase de aquecimento, o PT viverá o velho frisson interno pela direção regional na próxima eleição do PED, uma espécie de “cavalo de pau” que tenta desmanchar as manobras ocorridas com a eleição de Augusto Lobato em 2019, com mandato de quatro anos, que seriam divididos entre o 1º e o 2º colocados, mas acabou entre o 1º e o 3º colocados – Francimar Melo.
Seus dois anos, porém, foram prorrogados até hoje. Lobato brigou, mas não viu o critério da divisão meio a meio ser adotado. Agora, as várias “teses” do PT estão engalfinhadas na eleição do PED-2025, com a maioria esmagadora no governo Brandão e a menor parte com o vice Felipe Camarão no cenário de 2026.
A ex-presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, hoje secretária de Articulação de Lula, acompanha o que acontece no Maranhão, onde o PSD de Gilberto Kassab já lançou o prefeito de São Luís, Eduardo Braide, ao governo, sem definir a senadora Eliziane Gama, do mesmo partido, na chapa majoritária.
São duas vagas no Senado que contam com Carlos Brandão, Weverton Rocha (PDT), André Fufuca (PP) e, possivelmente, Roseana Sarney (MDB), que aparecem pontuando bem nas pesquisas. Significa que nenhum martelo foi batido por Brandão sobre ficar ou sair do governo em abril; nenhuma conversa com Lula sobre Felipe Camarão; e nenhuma decisão de Eduardo Braide deixar a prefeitura para a vice, Esmênia Miranda, e entrar tinindo na corrida aos Leões.