16 de junho de 2025
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Por que Lula e o PT estão perdendo popularidade tão rápido?

Duas novas pesquisas mostram que eleitores tradicionais da esquerda estão economicamente mais confiantes – e mais conservadores na política. Sucesso do programa petista parece se voltar contra o próprio Lula.

No momento, muita coisa corre bem na economia brasileira: o nível de desemprego é historicamente baixo; há três anos o Brasil cresce mais do que muitos outros países de todo o mundo. A inflação está basicamente sob controle; empresas investem; o Estado lançou a concorrência para grandes programas de infraestrutura que criarão novos postos de trabalho. O dólar está fraco; os agricultores provavelmente lucrarão com a política de isolamento de Donald Trump em relação à China.

Apesar disso tudo, as taxas de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva despencam, sobretudo no Nordeste, onde ele tradicionalmente é tido em alta conta.

Não há dúvida, pelas ruas quase todo mundo reclama da crise, dos gêneros alimentícios caros e dos preços em alta, em geral – o que também é verdade. Lula decepciona igualmente pela falta de ambição do programa de seu terceiro mandato. Cresce a impressão de que não há ninguém com coragem de dizer ao quase octogenário que ele vive no passado, sem perceber em que direção o mundo está se desenvolvendo.

Porém duas pesquisas publicadas nas últimas semanas demonstram de forma vívida que há uma explicação estrutural para a queda de popularidade de Lula e do PT.

Por um lado, o relatório do IBGE Pnad Contínua: Rendimento de todas as fontes 2024 mostra que naquele ano os rendimentos reais dos brasileiros mais pobres foram o que mais aumentaram. No geral, a renda mensal média per capita cresceu 4,7%, e chegou a um nível recorde desde que esses dados são computados.

Os motores de tal tendência foram o programa Bolsa Família ampliado e um crescimento robusto do emprego (mais 2,6 milhões de pessoas trabalhando), assim como um aumento sensível do salário-mínimo.

Ascensão social, veneno eleitoral para o PT?

O que, à primeira vista, parece um êxito político, paradoxalmente resulta no distanciamento crescente em relação a Lula e ao PT. Muitos antigos eleitores do PT pertencem hoje à classe média em expansão. Seus interesses são outros: alívio tributário em vez de transferência social, e esperam da política estabilidade, segurança e perspectivas de ascensão. A clássica retórica de distribuição do partido não lhes cai bem.

Exemplo disso é o rechaço do PT por parte dos trabalhadores de plataformas digitais, ou seja: motoristas do Uber, entregadores de refeições e motoboys – a rigor, seria de pensar, os típicos eleitores do Partido dos Trabalhadores.

Mas eles não querem nem ouvir falar das ofertas governamentais de um padrão social mais alto ou de contratos de trabalho fixo. De fato, isso não surpreende, já que tradicionalmente Lula esbarra em forte rejeição entre os trabalhadores autônomos de rendas mais baixas. A agenda política do presidente o desconectou de parte de seu próprio eleitorado.

O governo já está reagindo à perda de popularidade entre a classe média, com as propostas de lei para uma elevação da isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, a criação de um novo segmento do Minha Casa, Minha Vida para famílias com renda de até R$ 12 mil mensais, novos programas de créditos e mais possibilidades de saque do FGTS.

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