Brandão quer fazer em 2026 o que Flávio Dino fez em 2014
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Como cada eleição no Brasil tem uma história estadual dentro da história do poder nacional, no Maranhão, desde 2014, as disputas no Executivo e no Legislativo trazem à tona fatos carregados de imprevisibilidades. Os cenários que se desenham para 2026 serão marcados por uma rearrumação das forças que assumiram o poder apenas 12 anos atrás.
Em tão pouco tempo, o país viveu a maior pandemia da história contemporânea, os políticos se juntaram e se separaram com a mesma intensidade com que o poder se acomoda em certos patamares de comando ou se afasta das lideranças construídas em cada jornada eleitoral. Portanto, as eleições de 2026 não terão nem aparência das de 2014.
Flávio Dino, que fez a maior ruptura política em séculos no Maranhão, deixou o comando da política em 2023, para envergar a toga do Supremo Tribunal Federal, depois de ter abandonado, em 2006, a carreira da magistratura como juiz federal. Ele foi inserido na história do Brasil pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e deixou o legado nas mãos do governador Carlos Brandão (PSB), que, por sua vez, quer se tornar protagonista dos cinco anos à frente do Palácio dos Leões – sem Flávio Dino. É a tentativa de fazer a sua história política renascer dentro da história de Flávio Dino que, obviamente, construiu a sua dentro da história do sarneísmo, num de seus momentos mais dramáticos de caducidade.
As eleições de 2026 no Maranhão estão com tudo por fazer. Nem os partidos nacionais já traçaram seus rumos. Pelo menos onze legendas estão se movimentando para se fundirem ou formalizarem federações, num processo de rearrumação jamais visto antes. As escancaradas manifestações de infidelidade dentro dos partidos de centro no Congresso são a demonstração de que as divisões ideológicas entre esquerda, centro e centro-direita estão desafiando a realidade partidária brasileira. O próprio governo Lula tem sido a maior vítima dessa falta de parâmetros que dê conformidade à participação de vários partidos na administração federal, mas sem o correspondente alinhamento no Congresso.
O governo federal trabalha para ter um mínimo de segurança em sua base de apoio que justifique a divisão do poder. União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB deixaram para trás os compromissos com as votações de interesse do Planalto, mas permanecem firmes nos ministérios que usam para se fortalecer nos estados, onde acabam perfilados com os bolsonaristas. No Maranhão, o fenômeno é o contrário. Os mesmos partidos que gravitam em torno do governo Carlos Brandão até agora não sinalizam arrependimento ou esboçam reação de traição. Nem o prefeito Eduardo Braide (PSB), que lidera as pesquisas eleitorais sobre a disputa do governo, conseguiu desmanchar a estrutura brandonista.
Enquanto PP, União Brasil, Republicanos, PSD e MDB controlam onze ministérios na Esplanada, alguns ensaiam votar livremente contra o governo que integram, na certeza de que não acontecerá nada que os faça mudar de posição. O governo está acuado pelos partidos do Centrão, pela nova classe média que não considera a ascensão fruto das políticas sociais de inclusão do governo petista, pelos evangélicos que avançam sobre o eleitorado pobre das periferias e zonas rurais e, principalmente, pelo agro, com sua grandiosidade mundial. Sem falar nas mídias eletrônicas tradicionais (TVs), jornais e big techs das redes sociais, engrenagens políticas de enorme poder como fábrica de fake news e desinformação.
Todos esses aparatos são incorporados aos segmentos políticos de direita e centro, enquanto a esquerda e o PT fazem política à moda antiga. O governo Lula tem cinco partidos que, se fossem leais à aliança de poder, seriam cruciais para manter a governabilidade no Congresso. Mas não é isso que acontece. Esse mesmo sentimento de pertencimento ao poder sem obrigação de defendê-lo vai desaguar nas disputas estaduais, como na do Maranhão em 2026, quando o governador Carlos Brandão testará todos os instrumentos políticos sob seu controle para se tornar um Flávio Dino de centro-direita e tentar fazer o sucessor à sua maneira e mudar novamente o rumo da história.