As esquisitas interinidades de Camarão sem registros
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Em um mês, o governador Carlos Brandão (PSB) fez duas viagens à Europa em compromissos oficiais – um caso raríssimo na história do Maranhão. Porém, o que mais chamou atenção, além das premiações do governo por livrar o rebanho da Febre Aftosa sem vacina e os acordos de investimentos bilionários com o velho continente, foi a esquisitice das duas interinidades do vice-governador Felipe Camarão no Palácio dos Leões.
No dia 1º de junho, Brandão embarcou com uma comitiva para a Escócia e depois para a França, sem que se visse, nas redes sociais, nenhuma foto dele com o substituto, que ficou com a caneta e o Diário Oficial do governo — mas sem ninguém para demitir, ninguém para nomear ou contrato para firmar.
Brandão ficou até o dia 6 de junho em Estocolmo e Paris, onde se encontrou com o presidente Lula em evento oficial de reconhecimento do Brasil com a certificação sanitária do rebanho bovino. Na Suécia, ele cumpriu agenda intensa, discursou em inglês e firmou parcerias para desenvolver as cadeias produtivas de combustíveis sustentáveis, turismo, a agroindústria da carne bovina e a instalação de uma refinaria de petróleo em Bacabeira, no valor de US$ 1 bilhão.
Não consta que ele tenha levado, na comitiva, algum auxiliar dentre os filiados ao PT de Camarão. Em São Luís, o vice recebeu deputados do PL, visitou a nova Avenida Atlântida (prolongamento da Av. Litorânea) e foi a alguns municípios, mas também sem a presença dos secretários estaduais de Brandão.
No retorno ao Maranhão, o governador desembarcou num domingo e amanheceu no Palácio dos Leões, novamente sem imagens protocolares de recebimento do governo. Como domingo não tem expediente, obviamente não houve registro da entrega do Poder Executivo, nem mesmo um singelo “tudo certinho como o senhor deixou!”.
Como tem acontecido, parece até que Brandão anda mais alinhado com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva do que com o seu próprio vice petista. Pode ser, também, um novo jeito de convivência política entre governador e vice: sem rompimento, mas também sem afago ou batidinha camarada nas costas um do outro, como sinal de companheirismo.
Da mesma forma que nas relações esquisitas sem registro fotográfico da viagem anterior, Brandão voltou à Europa para visitar a Inglaterra e a Itália, com passagem por Roma, onde, junto com a primeira-dama Larissa, recebeu a bênção do Papa Leão XIV. A audiência fez parte do Jubileu dos Governantes, com parlamentares e chefes de governo de 68 países.
Um dos destaques da reunião foi a apresentação do programa Maranhão Livre da Fome, do governo estadual, com a meta de retirar 460 mil pessoas da pobreza extrema. O evento contou com a participação de uma comitiva de parlamentares brasileiros, liderada pelo presidente da Frente Parlamentar Católica, deputado federal Luiz Gastão.
Novamente, ao retornar da Europa, Brandão chegou na noite de sexta-feira, dia 27, e foi direto curtir a parte final do festejo junino. Não ocorreu, portanto, a devolução do Poder ao titular pelo vice. A última interinidade do mês de junho passou, portanto, despercebida.
Novamente, Camarão não teve o prazer de assinar algo que marcasse sua passagem pelo comando da gestão estadual. Foi-se o tempo em que, quando o titular do mandato viajava ao exterior, deixava alguma lei ou contrato importante para o vice interino, valorizando a união política que os colocou à frente do Poder Executivo.
Brandão é um político com enorme experiência no Maranhão, bem acima da média de alguns antecessores que passaram pelo Palácio dos Leões. Assim, ele vai levando sua relação com o vice Camarão em visível desanimação. Nunca mais eles apareceram juntos. O estilo é parecido com o de Luiz Rocha com o vice João Rodolfo Gonçalves.
Até o gabinete do vice, que nunca assumiu o governo em quatro anos, foi retirado do Palácio dos Leões para uma sala na Rua do Egito. Por coincidência, Luiz Rocha foi quem abriu a Avenida Litorânea – contra tudo e contra todos –, terminada por Edson Lobão. Hoje, a parte final da via está em obras no governo Brandão, em parceria com o governo Lula, que Felipe Camarão arriscou visitar na 1ª interinidade de junho, acompanhado do titular da Infraestrutura, Aparício Bandeira.