27 de agosto de 2025
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Brandão só sai para o Senado se Camarão sair para a Câmara

Por Raimundo Borges

O Imparcial – A eleição majoritária no Maranhão em 2026 está mergulhada em indecisões e contradições, com os jogadores armando suas estratégias, sempre de olho no que acontece nos lados, na frente e atrás.

O racha dentro do grupo liderado pelo governador Carlos Brandão (PSB), que o herdou de Flávio Dino quando este vestiu a toga do Supremo Tribunal Federal (STF), promete tornar a disputa pelo Palácio dos Leões em 2026 com algumas semelhanças à de 2014. Só que, desta vez, com personagens em papéis trocados. Naquela eleição, o grupo Sarney enfrentava o fim de uma era, mas estava no poder. Flávio Dino aproveitou esse fato para juntar tudo num grande balaio e partir pro tudo ou nada — e ganhou.

Agora, a lógica política local se inverteu. Brandão está no poder, Dino no STF, o que permite a ele tentar transformar os avanços de seu governo em votos suficientes para fazer do sobrinho Orleans Brandão (MDB) o sucessor. Já o grupo dinista tem feito muito barulho na Assembleia Legislativa, mas sem conseguir lastrear tal posição nos grotões eleitorais, facilmente influenciados pelas ações de governo voltadas para suas demandas.

Brandão criou a Secretaria de Assuntos Municipalistas e colocou Orleans no comando dos programas que interagem diretamente com os prefeitos, vereadores e as lideranças que atuam na base da pirâmide política: os cabos eleitorais.

Uma fonte do Palácio dos Leões disse a este Bastidores que só há uma hipótese de Brandão renunciar ao governo em abril do próximo ano para disputar o Senado: se o vice Felipe Camarão (PT) também fizer o mesmo, para concorrer à Câmara dos Deputados. É um movimento de estontear que, caso se concretize, levaria o governo às mãos da presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB), enquanto Brandão disputaria o Senado ao lado do pedetista Weverton Rocha.

O desdobramento dessa engenharia bateria de frente com o projeto do atual ministro dos Esportes, André Fufuca (PP), hoje pré-candidato a senador, mas sofrendo pressão do PP nacional para debandar do governo Lula e fazer-lhe oposição na Câmara.

Os estrategistas do Palácio dos Leões já avaliam diferentes cenários para 2026. Um deles com o prefeito Eduardo Braide (PSD) no páreo pelo governo. Além de ter sido reeleito com mais de 70% dos votos em 2024, hoje aparece liderando as pesquisas realizadas no contexto estadual. Mas essa posição é confrontada pelos brandonistas, que realizam pesquisas nos principais municípios, e Orleans lidera.

Outro cenário é com o médico Lahesio Bonfim (Novo), que pontua em segundo lugar, atrás de Braide, nas pesquisas estaduais. Porém, Bonfim não tem nenhuma estrutura partidária nem experiência de governança fora do minúsculo São Pedro dos Crentes. Mas tenta capturar o apoio dos bolsonaristas desgarrados no Maranhão, com o PL sob controle de Josimar do Maranhãozinho.

Por último, o fator Luiz Inácio Lula da Silva. Ele trabalha para disputar a reeleição, mesmo enfrentando o Centrão, a extrema direita no Congresso, os donos da riqueza do Brasil e as mídias tradicionais, que já mostram de que lado estão: contra o governo petista.

O confronto travado no Congresso que derrubou o decreto do IOF, em que os ricos pagariam mais do que pagam, mostra o quanto não é fácil adotar medidas que mexam no bolso das elites dos supersalários e do empresariado que conta dinheiro em bilhões. No Maranhão, Lula tem tido sucessivas votações acachapantes, o que anima Felipe Camarão a se escorar nessa popularidade para disputar o Palácio dos Leões, com eventual apoio de Brandão.

No entanto, a mesma fonte palaciana pergunta: “Lula vai trocar o apoio de um candidato que tem a maior estrutura política no Maranhão por um nome esvaziado – apenas por ser do PT e ligado a Flávio Dino?”. Seja como for, o jogo da sucessão estadual promete emoções fortes. Está apenas no aquecimento.

Nem o ex-presidente José Sarney, maior conhecedor da política local e nacional, arrisca qualquer palpite. No artigo que escreveu ontem em O Imparcial, ele preferiu lembrar de sua mãe, Kiola, que, se viva fosse, estaria fazendo 114 anos. No lindo texto “História de Amor e Saudade”, Sarney descreve a mãe com raro sentimento de admiração infinita de “um menino de 95 anos que não tem mais seu tesouro”.

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