Lula detona Trump no Jornal Nacional: “não aceitamos intromissão”
Revista Fórum – O presidente Lula criticou a carta de Trump sobre investigações e julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e disse que Brasil “não aceita desaforo”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira (10) a carta divulgada por Donald Trump em suas redes sociais. No texto, o presidente dos Estados Unidos ataca o processo judicial que investiga Jair Bolsonaro e fala em “caça às bruxas” no Brasil. Para Lula, a manifestação de Trump representa ingerência em assuntos internos do país. A declaração foi dada em entrevista ao Jornal Nacional.
“O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do país, ele tem o direito de tomar decisão no país dele, mas com base na verdade. Os EUA são superavitários na negociação com o Brasil”, afirmou o presidente. “Poucas coisas um país deve admitir, e a ingerência de outro país em seus assuntos internos é uma delas. Trump está mal informado. Ele não sabe o que está acontecendo aqui”, declarou Lula.
Lula destacou que o Brasil mantém uma relação histórica com os Estados Unidos, construída ao longo de dois séculos, e criticou o tom da carta que atribui a nova tarifa sobre os produtos brasileiros a uma suposta perseguição política. “O motivo da tarifa é inverossímil. Nos últimos 15 anos, o déficit comercial chega a R$ 415 bilhões. Não há razão econômica plausível. Isso é desinformação e uma tentativa de sabotar uma relação que sempre foi virtuosa entre os dois países”, afirmou.
“Se algum empresário acha que o governo deve ceder a tudo que o outro presidente quer, esse cidadão não tem orgulho de ser brasileiro. É hora de mostrar que o Brasil quer ser respeitado”, declarou. “É hora de mostrar que o brasil quer ser respeitado, que o brasil não tem contencioso com nenhum país do mundo e não aceitamos nenhum desaforo”, completou.
Críticas ao comportamento de Trump
O presidente foi enfático ao dizer que, caso Trump tivesse feito no Brasil o que fez nos Estados Unidos — ao incitar seus apoiadores a tentar reverter o resultado das eleições — também estaria sendo julgado pela Justiça, numa referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro, que hoje responde a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). “O que o Trump precisa saber é que, se ele tivesse feito aqui o que fez lá, também seria julgado. Nunca me meti em decisões da Justiça americana. Espero reciprocidade”, afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de diálogo com Trump, Lula disse que não se recusa a conversar, mas que não vê motivo para isso no momento. “Presidentes não ligam para contar piada. Quando for necessário, eu ligo. Mas não sou obrigado a aturar falta de respeito. Educação a gente dá e gosta de receber”, completou.
BRICS e independência do Sul Global
Lula também refutou a tese de que a aproximação do Brasil com os BRICS tenha motivado a reação de Trump. “Cansamos de ser subordinados ao Norte. O BRICS representa metade da população mundial e quase 30% do PIB global. Queremos independência nas relações comerciais e políticas. Cada país faz o que quer — o Brasil nunca ficou nervoso com a participação dos EUA no G7”, afirmou.
Ao comentar o avanço das investigações sobre a tentativa de golpe de 2023, Lula lembrou as declarações de militares que mencionaram um plano para assassiná-lo e ressaltou que o julgamento será técnico. “Não é a pessoa do Bolsonaro que será julgada, são os autos do processo. Se ele não tiver razão, será preso. É assim que a Justiça funciona”, disse.