Gibão como símbolo político de Brandão
Por Raimundo Borges
O Imparcial – A imagem do governador Carlos Brandão (PSB) numa vaquejada, “uniformizado” num garboso gibão e chapéu de couro, imediatamente repercutiu nas redes sociais pelo simbolismo que a vestimenta traz, principalmente no meio rural. Sugere um ruralista, mas do agronegócio, dono de fazendas de gado em Colinas e produtor de queijo coalho.
Não é um vaqueiro clássico dos que derrubam boi na caatinga e o dominam no chão com ajuda de um cachorro pé-duro. Brandão não é nada disso. É um médico veterinário que se formou para cuidar das fazendas da família, mas acabou ingressando na política, onde aprendeu tudo que o fez deputado federal, secretário, vice-governador e mandatário do Palácio dos Leões.
O “terno” de couro curtido não faz nenhum sentido na vida política de Carlos Brandão, que já faz história tornando o Maranhão livre de febre aftosa sem vacina, uma conquista para a pecuária nacional. O gibão caiu bem como um símbolo originário de um passado que se foi, mas deixa farto material na literatura e nas artes cênicas em geral.
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, publicado em 1938, é um desses clássicos do gênero modernista brasileiro, caracterizado pelo realismo temporal, encaixado no regionalismo nordestino. Mas Carlos Brandão fez apenas uma demonstração de sua admiração pelo esporte das vaquejadas, que ultimamente ganham força popular no interior do Maranhão.
Brandão, porém, tem demonstrado enorme capacidade de aproximar o governo dos municípios, focado na ideia do municipalismo, tão pouco levado a sério pelos seus antecessores no Palácio dos Leões. Trata-se de uma ideologia política que objetiva oferecer maior autonomia aos municípios, atendendo especialmente à organização e prerrogativas das cidades, por meio de uma descentralização da administração pública.
Ao criar a Secretaria de Assuntos Municipalistas e nomear o sobrinho Orleans para chefiá-la, certamente o governador já tinha em mente um projeto não apenas de caráter administrativo, mas, principalmente, político no curto prazo.
Nos três anos em que está à frente do governo, Carlos Brandão tem adotado a política de relação estreita com os municípios não apenas vinculados ao seu partido, o PSB, mas também os comandados pelas demais legendas. Em 2024, ele montou a frente suprapartidária que elegeu aproximadamente 170 prefeitos, quase todos de centro-direita.
Exceto, obviamente, o PSB e o PDT, de centro-esquerda. O primeiro elegeu 19 prefeitos e o segundo, liderado pelo senador Weverton Rocha, 18. Depois das eleições, Brandão já fez reuniões conjuntas com todos os chefes municipais, liderados pelo presidente da Federação dos Municípios do Maranhão (Famem), Roberto Costa (MDB), um aliado de todas as horas.
Depois de contabilizar os resultados das urnas de 2024, em fevereiro o governador passou a fazer uma série de mudanças nas Secretarias de Governo (Segov) e na de Assuntos Municipalistas, que acabou sob o comando de Orleans Brandão, filho do atual presidente regional do MDB, Marcus Brandão, irmão do governador.
Coincidentemente, foi quando se agravaram os atritos entre Brandão, os deputados estaduais ligados ao ministro do STF Flávio Dino e o próprio magistrado. A eleição de presidente da Alema, com dois empates entre Iracema Vale e Othelino Neto (SD), até hoje judicializada no STF, agravou de vez a relação na cúpula do dinismo.
Agora, o burburinho ao redor de Brandão e Dino virou uma crise que se agrava a cada dia com a possibilidade de Brandão desapegar de vez do “terno” de couro curtido e partir para definir o que interessa em 2026: abandonar a ideia de renunciar em abril, passar o governo ao vice Felipe Camarão, do PT lulista – com quem já troca cotoveladas nas redes sociais – e partir para fortalecer o sobrinho Orleans junto aos municípios.
Depois de fazer encontros regionais com prefeitos, Brandão também acelera o programa de ações municipalistas, todas coordenadas por Orleans, além de receber dezenas de prefeitos no Palácio dos Leões. Tudo no melhor estilo de quem não quer ver o brandonismo morrer nas eleições de 2026. De preferência, para ele, que desapareça o dinismo.