7 de setembro de 2025
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Por que Trump quer escrotear com Brasil?

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Pouco usual no Brasil, mas já dicionarizada em alguns glossários da língua portuguesa, a expressão do verbo transitivo direto “escrotear” calha na posição intervencionista do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao supertarifar as importações do Brasil e investigar outros itens, inclusive o Pix.

Ao punir o maior país da América Latina com falsos argumentos, no bojo do apoio político ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Trump está escroteando o seu parceiro comercial de 200 anos. Ao taxar em 50% todos os produtos importados do Brasil, o presidente republicano de extrema-direita ameaça quebrar desde a indústria de aço laminado até os produtores de café do Brasil e de manga do Nordeste.

Faz-me lembrar o ex-goleiro do Sampaio Corrêa e então vereador Severino Brito, já falecido. Certa vez, ele entrou na sessão da Câmara comendo um enorme cachorro-quente, o que levou a presidente da Casa, Lia Varela, a fazer soar a campainha de sua mesa: “Alerto Vossa Excelência que é proibido comer neste recinto.

É falta de decoro parlamentar!” Britão, como era conhecido, olhou a presidente nos olhos e soltou a pergunta desconcertante: “Vossa Excelência quer escrotear comigo?”. E continuou devorando o hot dog até acabar. Agora, cabe perguntar a Trump: “Por que Vossa Excelência quer escrotear o Brasil?”

Ainda não satisfeito com o impacto do tarifaço que atinge em cheio a economia do Brasil e também dos Estados Unidos, Donald Trump escalou a crise para outros setores. Mandou o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) abrir investigação contra o Brasil em seis frentes de apuração: comércio digital e serviços eletrônicos de pagamento (Pix); tarifas preferenciais; enfraquecimento do combate à corrupção; propriedade intelectual; barreiras ao etanol americano; e desmatamento ilegal.

Do Pix, a apuração vai à Rua 25 de Março (São Paulo) – maior centro comercial de falsificados do Brasil. Naquela região, os produtos são chineses e coreanos – mas muitos de marcas americanas.

Portanto, a encrenca articulada nos Estados Unidos pelo deputado licenciado Eduardo Bolsonaro para pressionar as autoridades brasileiras por anistia aos golpistas do 08/01/2023 e, por tabela, beneficiar o seu pai, Jair Bolsonaro, caiu como uma bomba no bolsonarismo.

Atinge em cheio o agronegócio, a partir da madeira, aço, carne, manga, café e centenas de outros produtos que geram milhões de empregos e movimentaram, só em 2025, US$ 20 bilhões em mercadorias aos EUA – cerca de 12% do total das exportações brasileiras, que somaram US$ 165 bilhões. De quebra, as medidas alavancaram a aprovação do governo Lula, com a forma como está reagindo ao tarifaço e à interferência na soberania do Brasil.

As consequências dessa armadilha dos Bolsonaro no comércio exterior e na economia do Brasil, armada pela nata da extrema-direita em aliança com Trump, estão longe de serem dimensionadas. Porém, o caos está instalado cá e lá também, entre importadores. Matérias da imprensa internacional desta quarta-feira dão conta de que Trump e o clã Bolsonaro se aliam às gigantes Visa e Mastercard para acabar com o Pix.

A nova frente de batalha contra o Brasil, com “investigação” sobre o Pix, escancara o elo da ultradireita trumpista-bolsonarista na defesa dos interesses dos grandes banqueiros transnacionais. Na ofensiva contra o Brasil, Trump se baseia na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974.

O que mais chama atenção no documento americano é a inclusão do Pix, sistema de pagamentos desenvolvido em 2018 pelo Banco Central (governo de Michel Temer), aplicado em 2020, no de Bolsonaro, e aperfeiçoado na gestão de Lula. Trump considera o sistema um exemplo de “prática desleal”.

Tudo isso mostra que, pela primeira vez, os Estados Unidos, que nunca deram a mínima para o “quintal” Brasil e a América Latina, passaram a ver o principal país desse continente com tanta atenção. Principalmente diante da liderança na região, da ampliação da influência do BRICS no mundo e do peso da economia brasileira, amplamente apoiada pelo gigantismo da China, com quem os Estados Unidos disputam a hegemonia econômica e tecnológica do planeta.

Seja como for, vale perguntar: “Trump, por que está escroteando com o Brasil?”

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