Bullying de Trump ao Brasil é um tiro saído pela culatra
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O chafurdo político, econômico e social em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, colocou o Brasil nas duas últimas semanas, ao tentar anistiar “imediatamente” o ex-presidente Jair Bolsonaro, virou uma tormenta mundial.
Além de sacudir os mercados dos dois países, deixou a diplomacia sem espaço para agir plenamente, alavancou a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas e desconcertou o bolsonarismo, o ex-presidente, seus filhos e parte significativa dos exportadores do agronegócio e da indústria — antilulistas e, em sua maioria, bolsonaristas.
Especialistas em política internacional, tanto de tendência esquerdista quanto direitista, estão simplesmente embasbacados com o chafurdo.
No entanto, em meio a tantas controvérsias, o jornal Washington Post, um dos mais respeitados e influentes da terra do Tio Sam, afirmou nesta segunda-feira, 21, que o bullying de Trump contra o Brasil foi um “tiro pela culatra”. A conclusão é do colunista Ishaan Tharoor, ao analisar o tarifaço de 50% imposto pelo presidente de seu país aos produtos brasileiros.
A tentativa de pressionar Lula a atuar junto ao Supremo Tribunal Federal para “encerrar imediatamente” o processo contra o extremista de direita Jair Bolsonaro serviu apenas para fortalecer o presidente brasileiro e prejudicar a imagem dos EUA.
O jornalista interpreta que “as ameaças tarifárias de Trump levaram outros países da região a se curvarem em direção a Washington”, mas entende que “a economia brasileira é maior e mais diversificada do que a de seus vizinhos”.
Ele aponta ainda o superávit comercial dos EUA com o Brasil e que “a Casa Branca não escondeu sua verdadeira agenda: a suspensão dos processos judiciais contra Bolsonaro, bem como medidas punitivas contra oito dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal, com suspensão dos vistos deles, de suas famílias e do procurador-geral da República, Paulo Gonet”. A medida de Trump veio após a PGR pedir tornozeleira eletrônica para Bolsonaro.
“As tarifas também prejudicam os interesses da elite empresarial — que costuma ser o maior apoio da oposição conservadora a Lula”, diz ainda o artigo do Washington Post. No último dia 10, após o tarifaço de 50% sobre as importações brasileiras, Lula publicou um artigo nos principais jornais de nove países, no qual observa o quanto mudou: “a ordem internacional construída a partir de 1945 desmoronou”, citando como exemplos as guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza — qualificando esta última como “genocídio”.
Ele afirma ainda que o comércio multilateral está ameaçado pela “lei do mais forte”, fazendo referência aos “tarifaços” de Trump, a quem já comparou a alguém que se acha “imperador do mundo”.
Ontem, 21, Lula e os presidentes Gabriel Boric Font (Chile), Gustavo Petro Urrego (Colômbia), Yamandú Orsi Martínez (eleito do Uruguai) e Pedro Sánchez (Espanha) assinaram um artigo na Folha de S.Paulo, com um chamamento internacional pela “Democracia sempre”. As punições de Trump ao Brasil inseriram o país na crescente lista de nações em que a imagem dos EUA se deteriorou drasticamente.
Eles afirmam que a democracia enfrenta um momento de grandes desafios e que a erosão das instituições, o avanço dos discursos autoritários impulsionados por diferentes setores e o crescente desinteresse dos cidadãos são “sintomas de um mal-estar profundo em amplos setores da sociedade”.
O prazo do tarifaço termina em 31/07, e as negociações em curso com a assessoria de Trump ainda não deram resultado. Esta semana, uma comitiva de oito senadores — governistas e de oposição — irá aos Estados Unidos tentar negociar com seus colegas americanos uma saída para o impasse. Ao mesmo tempo, pesquisa da Quaest constata que as medidas unilaterais de Trump minam a confiança da população brasileira nos EUA.
Os prejuízos ainda estão sendo calculados pelos exportadores de carne, aço, peças, frutas, suco de laranja, café, açúcar e etanol. Do lado americano, também há prejuízos incalculáveis em vários setores da economia que dependem desses produtos. Já no Brasil, os impactos das medidas de Trump sobre o processo eleitoral de 2026 são imprevisíveis.