28 de julho de 2025
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Trump: Projeto de sufocar a China passa pelo Brasil e Venezuela

Revista Fórum – Negar recursos minerais ao gigante asiático.

A recente carta de senadores democratas criticando a postura do presidente Donald Trump diante do Brasil diz: “Os objetivos primordiais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da República Popular da China”.

Isso deixa claro que existe consenso entre democratas e republicanos sobre o cerco à China. Este é um consenso de Estado, ou seja, não de um governo de turno. É prioridade do Pentágono, da Central de Inteligência Americana (CIA) e de outros centros de poder estadunidenses.

A política de cerco à China se estende a todo o planeta, inclusive ao mar da China, onde está se realizando através de influência de Washington sobre o governo das Filipinas.

Os EUA são os maiores produtores de petróleo do mundo. O pico de produção se deu no governo democrata de Joe Biden. Washington projeta que a economia planetária vai depender do petróleo e derivados muito além do que se previa antes, por conta de novas tecnologias de exploração e refino, reservas em águas profundas e em regiões antes inalcançáveis.

Dependência externa dos chineses

Com quase 1,5 bilhão de habitantes, a China depende de imensas quantidades de matérias primas importadas para manter sua indústria com preços competitivos, abastecer o mercado interno e melhorar a qualidade de vida da população.

A política externa chinesa na África é um exemplo de sucesso: sem exigir o mesmo que o Fundo Monetário Internacional para fazer empréstimos, os chineses espalharam obras de infraestrutura pelo continente praticamente a fundo perdido. Em troca, Beijing obteve acesso a reservas de cobalto, cobre, lítio, platina, bauxita, grafite, titânio e outros.

Não é exagero dizer que a opulência de Shangai é resultado direto do acesso chinês ao minério de ferro relativamente barato da reserva de Carajás, no Pará.

A ferrovia Transoceânica, que ligaria o porto de Açu, no Rio de Janeiro, ao de Chancay, no Peru, será essencial para escoar matérias primeiras de toda a América do Sul até a China, através do oceano Pacífico. Inaugurado em dezembro do ano passado, Chancay é controlado majoritariamente pela chinesa Cosco Shipping (60%).

Os chineses também dependem de importações de alimentos. A produção local só dá conta de dois terços das necessidades crescentes da população. A China importa 80% da soja com a qual alimenta o seu rebanho.

Prioridade na América Latina

As recentes ações do governo Trump em relação ao Brasil e à Venezuela tem como pano de fundo a prioridade estadunidense de retomar o controle das reservas minerais da América Latina em condições vantajosas, negando à China matéria prima abundante no continente — os chineses hoje compram 60% do cobre do Chile e são os maiores importadores de petróleo venezuelano, por exemplo.

Isso é compatível com outra prioridade estadunidense, a de reduzir sua própria dependência do petróleo do Oriente Médio, focando em reservas mais baratas de defender, na costa da África e na América Latina.

O modelo ideal para Washington é o governo de Javier Milei, que ao assumir praticamente congelou todos os projetos estratégicos que mantinha com a China e deu prioridade total aos Estados Unidos na política externa, sem a necessidade da presença de um único fuzileiro naval em solo argentino.

Argentina, Bolívia, Chile, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Peru, República Dominicana e Venezuela aderiram formalmente à Nova Rota da Seda chinesa. O Panamá, sob pressão dos EUA, se retirou em 2025.

O Brasil ficou em cima do muro. No interior dos BRICS, o governo Lula está mais próximo da posição da Índia, de “neutralidade”, do que da aliança estratégica China-Rússia.

A insistência de Donald Trump em eleger Jair Bolsonaro ou aliado em 2026 trata-se disso: impor governos amigáveis na América Latina que sigam o caminho de Milei, tendo como pano de fundo a batalha de longo prazo dos EUA contra a China.

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