PSB e PCdoB apagam a história que construíram no Maranhão
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O Maranhão é o único estado brasileiro a ser comandado, em dez anos consecutivos, pelos dois principais partidos de esquerda registrados no país. Ironicamente, as duas legendas vivem os dias atuais mergulhadas numa crise sem precedentes, tendo como pano de fundo as eleições de 2026.
O PCdoB, com o hoje ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino, mudou a sua própria história e a história do Maranhão ao alcançar o poder máximo do Estado, até então dominado por sucessivas oligarquias desde os anos da ditadura Vargas. No entanto, por uma questão até hoje não explicada, Dino trocou o PCdoB pelo PSB em junho de 2021, no auge do segundo mandato no Palácio dos Leões.

Em janeiro de 2022, quem trocou o PSDB pelo PSB foi o então vice-governador Carlos Brandão, que o fez numa conjuntura nacional junto com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, na época pré-candidato a vice-presidente na chapa do petista Luiz Inácio Lula da Silva. Assim como Brandão, Alckmin era uma proeminente figura do PSDB de São Paulo, estado que governou por quatro vezes.
Como não poderia ser de outra forma, a crise instalada no Maranhão entre o PSB de Carlos Brandão e o PCdoB do deputado federal Márcio Jerry tem repercussão nacional. Embora suas lideranças políticas vivam momentos de desavenças, o PCdoB mantém ainda cargos importantes no governo do PSB e no do PT de Lula.
O deputado Othelino Neto, eleito pelo PCdoB em 2022, foi nomeado secretário de Relações Institucionais do governo do Maranhão em Brasília, mas, em abril de 2024, entregou o cargo e virou oposição. Com a esposa senadora Ana Paula e a irmã Flávia Alves, assumiram o controle do braço maranhense do Solidariedade.
Em seguida, tornou-se líder da bancada que se opõe ao Governo Brandão e à presidente da Assembleia Legislativa, Iracema Vale (PSB), com quem disputou a eleição da Mesa Diretora e empatou em duas votações. Depois de idas e vindas, o caso dorme na gaveta do STF, numa manobra do ministro Luiz Fux, que retirou o processo do plenário virtual, com o placar de 8×0, e o transferiu para o presencial.

O PSB do governador Brandão vive às turras, com seus deputados se digladiando na Alema entre oposicionistas e governistas. Portanto, comunistas do PCdoB, que Flávio Dino levou ao poder em 2015, atravessam o Rubicão de alguns socialistas do PSB, se empurrando no mesmo barco.
Agora, Othelino Neto perdeu para o grupo de Brandão o controle do Solidariedade no Maranhão e tenta uma investida por dentro do PSB, articulando-se com o presidente João Campos, prefeito de Recife, para assumir o seu comando. Mas Carlos Brandão entrou em cena, pronto para contra-atacar a jogada dos ex-aliados.
Esta semana vai ser decisiva para Brandão se acertar – ou não – com o PSB nacional, ainda sem pensar no plano B, que seria ingressar no MDB, presidido pelo irmão Marcus Brandão, pai do secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão, pré-candidato da família ao governo estadual em 2026. Brandão já disse que não vai renunciar para o vice petista Felipe Camarão assumir em abril e ser candidato à sua sucessão.
Como se pode ver, toda essa desarrumação esbarra no Palácio dos Leões e nos demais mandatos majoritários e proporcionais em disputa no próximo ano, uma encrenca que nem de longe apresenta sinais de reunificação das esquerdas estaduais, enquanto a direita já cuida em ocupar os espaços.
A oposição na Alema conta com Othelino Neto, Fernando Braide (PSD), Francisco Nagib (PSB), Carlos Lula (PSB), Júlio Mendonça (PCdoB), Rodrigo Lago (PCdoB), Ricardo Rios (PCdoB), Leandro Bello (Podemos) e Wellington do Curso (Novo).
O restante é governista, mas, nos bastidores da sucessão estadual, transita Eduardo Braide (PSD), que lidera as pesquisas, nas quais Orleans Brandão já se aproxima com força total do Palácio dos Leões e de prefeitos de todas as regiões. Lahesio Bonfim (Novo) já aparece em 3ª posição. Significa que, enquanto socialistas e comunistas se misturam numa encrenca local, na esfera nacional o PT continua apostando em Lula na reeleição e em Felipe Camarão no estado que sempre lhe deu as maiores votações. Já o bolsonarismo, até aqui, está na moita.