Brandão desidrata candidatura de Felipe e reforça a de Orleans
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O governador Carlos Brandão não faz mais segredo sobre a condução do projeto de tornar o sobrinho e secretário de Assuntos Municipalistas, Orleans Brandão (MDB), o seu sucessor. É o jogo jogado em que ele é o técnico e o atacante do time.
Enquanto o chefe do Executivo maranhense mergulha de cabeça na pré-candidatura do jovem Orleans, o vice-governador Felipe Camarão (PT) vê sua proposta de concorrer ao Palácio dos Leões em 2026 cada dia mais esvaziada, a partir do próprio partido em que é filiado há apenas três anos, desde 2022. Ele segue visitando os municípios, mas sem qualquer estrutura governamental, como ocorre com o emedebista Orleans.
Por coincidência, nesta sexta-feira à noite, o PT abriu, em Brasília, o seu 17º Encontro Nacional, com discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O evento termina neste domingo, com a participação de mais de mil delegados, escolhidos pelo Processo de Eleições Diretas (PED), ocorrido no dia 6 de julho.
O debate principal é sobre “Justiça Climática e COP30”, dentro do ciclo permanente de formação “A realidade brasileira e os desafios do PT”, organizado pela Fundação Perseu Abramo. Não está prevista discussão sobre as eleições de 2026 nem sobre seus históricos problemas internos relativos à unidade – a exemplo do que ocorre atualmente no Maranhão.

A corrente petista Construindo um Novo Brasil (CNB) é majoritária tanto no diretório nacional, com o presidente Lula, quanto nos estados. No Maranhão, esse campo ideológico congrega o presidente regional Francimar Melo, o deputado federal Rubens Jr., o estadual José Inácio, o ex-vice-governador Washington Oliveira, a diretora-geral do sistema educacional Iema (governo estadual), Cricielle Muniz; os secretários Lília Raquel de Negreiros (Direitos Humanos), Luís Henrique Lula (Trabalho e Economia Solidária) e Washington Oliveira (Representação do Estado em Brasília), além de Felipe Camarão e do adjunto da Educação, José Antônio Heluy. Todos arrastam centenas de cargos na máquina estadual.
Como se pode perceber, o PT está com sua estrutura totalmente comprometida com Carlos Brandão. Como o seminário nacional não está discutindo as eleições, a candidatura de Felipe Camarão ao governo escancara um racha igual ao de 2010, quando a Executiva Nacional interveio no diretório estadual do Maranhão e oficializou apoio a Roseana Sarney (MDB), indicando seu líder local, Washington Oliveira, como vice.
No entanto, uma parte significativa, apoiada pelo então deputado federal Domingos Dutra, que fez greve de fome dentro da Câmara, preferiu manter o apoio à candidatura de Flávio Dino, que perdeu para Roseana.
Hoje, com a divisão interna do PT e no grupo dinista/brandonista, faz todo sentido o tema central do seminário nacional: “A realidade brasileira e os desafios do PT”, em busca de aprofundar reflexões sobre os rumores do Brasil e o papel do partido diante das atuais demandas sociais e políticas.
Logo se observa que o desafio está cristalizado no Maranhão, segundo reduto eleitoral de Lula em 2022, com 73% dos votos. Se não apoiar o emedebista Orleans, o PT estará num beco sem saída. Não terá outra opção viável pela faixa da esquerda ideológica. Brandão sabe muito bem disso. Portanto, está apostando tudo no projeto de fazer o sucessor com um familiar bem próximo.
A esfera que decide no PT sobre as eleições estaduais é o diretório regional, mas obedecendo a critérios sobre alianças definidos pelo nacional. No entanto, caso haja fatos extraordinários, como em 2010 no Maranhão, é possível haver intervenção.
Só que, até agora, não se abriu essa eventual janela de oportunidade para o PT desembarcar do governo Brandão e partir para o confronto nas urnas. Até porque Felipe Camarão, com apenas três anos no PT, não tem o perfil de político radical, muito menos sinaliza disposição de partir para o confronto com Carlos Brandão. Segue nos municípios plantando a semente de sua candidatura, mas sem saber que safra irá colher nas urnas de 2026.