14 de agosto de 2025
DestaquesGeralPolítica

Diálogos interrompidos

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Desde os longínquos tempos da predominância da filosofia grega, o tema sobre diálogo na política nunca esteve tão evidente como neste primeiro quadriênio do século 21 pelo mundo afora. Os povos de todos os continentes tentam dialogar, mas os avanços são cada vez mais restritos ou acabam em guerra. Depois de aplicar um tarifaço sobre os produtos de uma infinidade de países, o presidente estadunidense Donald Trump passou a impor um diálogo modulado por ele para todos os chefes de Estado, em todos os idiomas.

Ao Brasil, ele impôs uma tarifa diferenciada de 50% sobre tudo o que compra e condicionou o diálogo à garantia de que a Justiça brasileira concedesse anistia aos golpistas de 08/01 de 2023, tendo à frente o ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.

Como falta diálogo na questão do tarifaço, deputados e senadores provocaram um escarcéu na Câmara e no Senado com o mesmo propósito de livrar os golpistas da prisão. Sem diálogo, a confusão parlamentar ganhou repercussão mundial. Também sem diálogo entre os políticos do Maranhão, a disputa pelo Palácio dos Leões em 2026 escancara uma crise dentro do mesmo grupo que chegou ao poder em 2014 sob o comando de Flávio Dino.

Como os dois lados trancaram o confessionário que permite diálogo, os pré-candidatos daquele tronco político – Orleans Brandão e Felipe Camarão – seguem defendendo suas respectivas ideias até quando elas valerem mais do que valiam em 2014.

Enquanto o presidente Lula não encontrar uma brecha para dialogar com o colega Donald Trump e o Congresso não dialogar entre si, resta aguentar as consequências políticas e econômicas do confronto. Já no caso maranhense, Carlos Brandão encerrou o diálogo com os deputados ligados a Flávio Dino. Os dois lados travaram tudo.

Aliás, foi o hoje ministro do STF que criou, em 2013, como pré-candidato a governador, o movimento “Diálogo pelo Maranhão”, representado hoje por Camarão. A ideia era juntar todas as correntes políticas no que resultou na aliança de 14 partidos de variadas ideologias. Foi a mais profunda mudança em um século na política estadual.

Realmente, o movimento obteve sucesso absoluto de adesão popular e participação social progressista e progressiva no debate sobre a realidade política e econômica do Maranhão. Foi uma construção coletiva que parecia feita para durar outro século. Flávio Dino e Carlos Brandão dialogaram com todas as classes sociais maranhenses.

Três eleições gerais e duas municipais se passaram, com o movimento tão cristalizado que nem a pandemia da Covid-19, nem a má vontade do governo Bolsonaro para com Flávio Dino afetaram o Maranhão. Os projetos “Mais Asfalto”, “Mais IDH”, “Escola Digna”, salário de professor, mais policiais e hospitais forjaram as condições do Maranhão de hoje.

A política tem sua dinâmica própria, com altos e baixos, avanços e recuos. Porém, o diálogo que cimentou o grupo Flávio Dino-Carlos Brandão ainda não virou peça de reciclagem. Felipe Camarão continua reafirmando sua candidatura, acreditando que a possibilidade de o presidente Lula partir para a reeleição pode recolocá-lo em um patamar mais confiável nas pesquisas eleitorais.

No entanto, com a estrutura de governo maquinando a seu favor e a liderança que Carlos Brandão tem em todo o território maranhense, o crescimento do nome de Orleans Brandão é visível e crescente nas pesquisas eleitorais. No grupo, ele é favorito, sem dúvida alguma.

Portanto, lá atrás, quando Platão refletiu sobre política em A República, mostrou que o centro nevrálgico de uma relação humana é o diálogo ou a falta dele. No mundo atual, essa verdade permanece intacta. As formas e estruturas de relacionamento do governo com seus cidadãos são tão fundamentais no século 21 quanto foram na Grécia Antiga. Moral e justiça são caminhos que conduzem e regulam os embates políticos e traçam a solução das crises.

Não é menos verdade que os argumentos aduzidos em torno do problema da tirania e da democracia, por exemplo, encontram-se na pauta dos conflitos contemporâneos, que vão desde o rompimento de um grupo político no Maranhão e podem chegar a uma extensão global, como a do tarifaço de Donald Trump contra o mundo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *