Lobão lança livro de memórias de uma época fascinante da história
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O maranhense Edison Lobão, natural de Mirador, iniciou sua trajetória como jornalista, atuando no Rio de Janeiro e em Brasília. Na capital federal, foi diretor da TV Globo e colunista político do jornal Correio Braziliense, do grupo Diários Associados. Também exerceu a função de assessor político nos Ministérios da Viação e Obras Públicas e dos Transportes. Brasília tornou-se o ponto de partida para sua carreira política, na qual viria a ser governador, presidente do Senado e ministro de Estado.
Com forte prestígio junto ao regime militar instaurado em 1964, Lobão ingressou na política em 1978, elegendo-se deputado federal por Imperatriz — então o maior polo madeireiro e de produção de arroz do Maranhão.
Às vésperas de completar 89 anos, em dezembro, e afastado da vida pública desde 2019, Lobão prepara o lançamento de seu livro de memórias nesta quarta-feira, 20, no Salão Negro do Senado Federal. A obra, intitulada Memórias e Testemunhos, promete trazer revelações surpreendentes sobre a trajetória de quem sempre esteve próximo — e muitas vezes dentro — do núcleo do Poder Federal, antes, durante e depois da ditadura militar de 1964.
O prefácio foi escrito por José Sarney, parceiro de longa data e figura com quem Lobão compartilhou caminhos paralelos e transversais na política nacional. Também transitou nesse círculo de poder o ex-deputado federal, ex-governador e ex-senador João Alberto, atualmente vereador em Bacabal, onde foi o mais votado no interior maranhense em 2024.

Na eleição de 1978, quando disputou seu primeiro mandato, Edison Lobão levou ao palanque em Imperatriz o então presidente, general Ernesto Geisel, em demonstração de prestígio junto à cúpula militar. Na renovação de seu mandato, repetiu o feito, desta vez com o general João Batista Figueiredo — aquele mesmo que, certa vez, afirmou: “Prefiro cheiro de cavalo ao cheiro de povo”. Militar da Cavalaria, Figueiredo nunca teve proximidade com a população, que, à época, não votava nem para presidente, nem para governador. Tanto Geisel quanto Figueiredo só subiram em palanque eleitoral uma única vez: com Lobão.
O lançamento da obra no Senado gera grande expectativa, pois reúne memórias de um político que conheceu profundamente os bastidores do poder, tanto como observador, na condição de jornalista, quanto como protagonista. Além de sua própria carreira, ajudou a projetar familiares na política: a esposa, Nice Lobão, foi deputada federal por dois mandatos, e o filho, Lobão Filho, chegou ao Senado enquanto ele exercia o cargo de ministro de Minas e Energia nos governos Lula e Dilma Rousseff.
Lobão presidiu o Senado em duas ocasiões, comandou diversas comissões técnicas e foi testemunha ocular dos principais acontecimentos políticos do país ao longo de cinco décadas — de Juscelino Kubitschek ao pós-Dilma Rousseff, a primeira mulher presidente do Brasil, destituída pelo impeachment em 2016.
Durante a ditadura, embora fosse visto por colegas jornalistas como um homem próximo ao poder, Lobão transitava em um ambiente político que ainda não havia se radicalizado nos moldes atuais, marcados por uma polarização ideológica entre direita e esquerda. Articulado e moderado, sempre teve em José Sarney um aliado de confiança, o que o levou a ocupar um dos ministérios mais importantes nos governos petistas.
Por que Memórias e Testemunhos é uma obra relevante? Porque Edison Lobão percorreu com desenvoltura os três Poderes da República — ora transformando fatos em notícias e análises, ora sendo ele próprio o protagonista dos acontecimentos. Filho do professor Barjonas Lobão, ele se tornou um personagem privilegiado que, ao fazer política, também ajudou a escrever parte da história do Brasil.
“Lobão nos abre as portas dos Poderes da República para a garimpagem de fatos históricos e curiosidades da práxis oficial. Até segredos de Estado são revelados intrigantemente”, afirma José Sarney no prefácio.