Maranhão vive enredo de nova comédia bufa
Por Raimundo Borges
O Imparcial – A ruptura no centro do grupo Flávio Dino/Carlos Brandão, formado em 2014, sugere recuperar o enredo que mudou a história 11 anos atrás no Maranhão. Num encontro festivo no Hotel Luzeiros, em São Luís, no dia 12 de maio de 2014, o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, oficializou a aliança do partido tucano com o PCdoB, na chapa Flávio Dino/Carlos Brandão estadual.
No contraponto desse arranjo político estava o empresário Edson Lobão Filho, o Edinho, posto de última hora para tentar salvar o sarneísmo. Liderava 18 partidos, com Roseana Sarney no Palácio dos Leões coordenando o momento. Dino contava com nove partidos, liderados pelo PCdoB, legenda longamente estigmatizada no Brasil por ser comunista, onde passou boa parte de sua existência, desde 1922, na clandestinidade.
Aécio discursou naquele dia e classificou Flávio Dino de “íntegro, preparado e um dos mais qualificados candidatos a governador em todo o país”. O tucano foi mais incisivo ao afirmar que o Maranhão merecia “uma aliança em favor de seu futuro, da redução das desigualdades com ética na vida pública”.
Para um estado que passara 49 anos sob o comando de José Sarney, falar em aliança em “favor do futuro” parecia um achado político com enorme poder de transformar desilusão em esperança. Unir comunismo com a social-democracia tucana era algo realmente inédito e capaz de levar o sarneísmo à derrocada.
Aquele encontro teve o ápice em 1º de janeiro de 2015, com a posse de Flávio Dino e Brandão, de mãos levantadas, na festa da posse do primeiro governador “comunista” do Brasil, no estado mais pobre e historicamente controlado por oligarquias políticas desde os tempos do Império. “Hoje é um momento muito especial, da luta profunda do povo em nome da esperança.
Vamos fazer um governo bom, limpo, honrado e honesto, com uma política baseada no diálogo e na conversa”, garantiu Dino após o juramento constitucional. Era o Maranhão dando uma cambalhota política sobre si mesmo.
O momento parecia um desprezo total pelo lado canhestro da política estadual. Não resta dúvida de que o eleitorado que provocou aquela mudança, via voto popular, esperava que as práticas de governança que fizeram do Maranhão o campeão nacional de atraso estavam indo para o lixo da história.
Em 10 de abril de 2022, ao tomar posse como governador, Carlos Brandão disse estar diante de um grande desafio: “Substituir Flávio Dino, três vezes eleito o melhor governador do Brasil”. Sob aplausos, ele continuou dizendo que sempre esteve do lado de Dino, portanto, conhecia profundamente as políticas públicas do governo. “Não tenho dúvidas de que vamos dar continuidade, por ter participado de todas as ações, e me impus ao desafio de melhorá-las ainda mais”.
Daquele dia até hoje, a história do Maranhão se transformou em campos de batalha política. Em 2023, Flávio Dino passou o mandato inteiro de senador à suplente Ana Paula Lobato, para envergar a toga do Supremo Tribunal Federal. Já o neossocialista Carlos Brandão, eleito em 2022, assumiu a liderança do grupo dinista de 2014, e a história ganhou outro enredo.
Os dois tornaram-se adversários – ou inimigos – na esteira das eleições de 2026. Os discursos empolgados se perderam nas dobras da nova história política, enquanto Brandão se dispõe a ficar no cargo até o último dia e lutar para eleger o sobrinho Orleans Brandão como sucessor. O vice Felipe Camarão (PT), ligado a Flávio Dino, engole em seco os dissabores de um projeto de candidatura mal arrematado.
Na Assembleia Legislativa, a calmaria política dos anos Dino e Brandão no Palácio dos Leões deu lugar a uma rinha entre seguidores dos dois líderes da história de 2014. Governistas e oposicionistas trocam acusações todo dia.
Em Brasília, Ana Paula conseguiu até assumir o controle do PSB de Carlos Brandão e da presidente da Alema, Iracema Vale, enquanto seu marido, Othelino Neto, lidera o grupo rebelado no plenário. Já aquela aliança de três eleições seguidas está aos frangalhos, com Dino a perseguir Brandão em ações no STF e aliados do governo anunciando CPIs para investigar a gestão de Flávio Dino.