Maranhão imita Brasil em situações curiosas
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O Maranhão e o Brasil têm a primazia de serem coincidentes como únicos no mundo em alguns temas relevantes. O país tem a megadiversidade biológica da Floresta Amazônica, citada pela ciência como pulmão do mundo, foi pioneiro na invenção do avião por Santos Dumont e também criador do SUS, único do planeta a garantir o acesso gratuito e universal à saúde pública, além de ser o primeiro pentacampeão do mundo de futebol. Já o Maranhão apresenta José Sarney como contribuição nessas questões históricas em casos pioneiros. Ele foi o único vice-presidente da República a assumir o mandato inteiro com a morte do titular Tancredo Neves em 1985, antes de tomar posse.
Também saiu do Maranhão a primeira governadora eleita do Brasil, Roseana Sarney, em 1994, que bateu outro recorde: ser a única mulher com quatro mandatos no mesmo cargo, igual ao número de vezes em que o pai, José Sarney, foi eleito presidente do Senado Federal. Em outra configuração política, o hoje ministro do Supremo Tribunal Federal Flávio Dino foi eleito o primeiro e único governador do PCdoB em 102 anos de fundação no país. O mesmo Dino marcou ponto na história como único a ter transitado, em um mês, pelos Poderes Executivo (ministro da Justiça), Legislativo (senador) e Judiciário (STF), além de ter permitido um mandato de oito anos à suplente Ana Paula Lobato.
Agora entra outro personagem nessa história. O governador Carlos Brandão decidiu deixar de ser eleito senador em 2026 para lutar pela candidatura do sobrinho Orleans Brandão ao Palácio dos Leões. Caso o eleja, também será o único do tio na política maranhense. Brandão descarta a máxima: “A política é a arte do impossível”. Prefere seguir Fernando Henrique Cardoso, como ele, tucano de origem e apoiador da ideia de Bismarck: “A política é a arte do possível”. Se conseguir eleger o parente como sucessor, Brandão inaugura uma nova etapa histórica, tornando-se a maior liderança política do Maranhão, assumindo de uma vez por todas o legado deixado por Flávio Dino.
Desde 1808, quando, na primeira e única vez na história da humanidade, toda uma corte imperial europeia, com seu aparato administrativo, se deslocou para um território colonial no Novo Mundo, até os dias de hoje, a história do Brasil é fragmentada em episódios únicos. Os estados também têm dado suas contribuições a eventos isolados significativos, como os da política maranhense e também na literatura. O Maranhão tem o exemplo notável de Maria Firmina dos Reis (1822-1917), considerada a primeira romancista brasileira e a primeira negra a publicar uma obra do gênero abolicionista no Brasil, Úrsula, em 1859, cuja biografia produzida pelo escritor Agenor Gomes já é um clássico.
O Maranhão tem vasta tradição de políticos ligados por laços de família. Um prefeito elege a esposa deputada; um deputado elege o irmão prefeito; e os laços de parentesco se espalham pela engrenagem dos três poderes. Sarney foi bem-sucedido com os filhos Zequinha Sarney e Roseana na política, e o deputado Josimar do Maranhãozinho colocou a esposa Detinha na Câmara dos Deputados e vários parentes como mandatários. Além de Detinha ser campeã de votos no Maranhão, o marido ficou em terceiro lugar em 2022. No interior, existem centenas de políticos em graus de parentesco. Portanto, se Brandão eleger o sobrinho Orleans, estará seguindo a cartilha consuetudinária da política brasileira.
A cidade de Caxias também tem sua contribuição. O vereador Antônio José Bitencourt de Albuquerque Júnior, o Catulé, é detentor de 10 mandatos consecutivos na Câmara Municipal, único caso no Maranhão e talvez no Brasil. Ele já foi quatro vezes presidente da Câmara e é pai do deputado estadual Catulé Júnior. É com essa política rica em personagens que se entrelaçam pelo DNA familiar que o Maranhão vai às urnas em 2026 para eleger o futuro governador, dois senadores, 18 deputados federais e 42 estaduais, dentre estes, Iracema Vale, única mulher a presidir a Assembleia Legislativa do Maranhão em 190 anos.