Condenação de Jair Bolsonaro destroça os caminhos de 2026
Por Raimundo Borges
O Imparcial – O Maranhão nunca foi levado pelo radicalismo de direita ou de esquerda, nem quando elegeu Flávio Dino como primeiro governador, na história do Brasil, filiado ao PCdoB. A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a mais de 27 anos de prisão carrega para os estados uma pesada incerteza sobre os rumos que a direita vai tomar em 2026, na disputa presidencial e nas eleições estaduais de governadores, deputados e senadores.
Quanto ao Palácio do Planalto, o cenário ficou totalmente nebuloso para o bolsonarismo radical, diante de vários nomes do centro dispostos a assumir a briga pelo enfrentamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas nenhum capaz de unificar a direita.
No flanco esquerdista, a situação não é tão diferente. Embora Lula esteja bem cotado nas pesquisas para concorrer ao quarto mandato, não é fácil a maturidade da democracia brasileira tornar tão irrelevante reeleger a mesma figura tantas vezes, num ambiente nunca antes marcado pela divisão ideológica que se vive hoje.
Mas, como a esquerda não criou outro nome para um caso de emergência, Lula permanece como a figura central, e Fernando Haddad ainda não ganhou musculatura eleitoral capaz de enfrentar a direita no pós-Bolsonaro, que, mesmo preso, ainda tem imensa força política a ser transferida. Obviamente, a estas alturas da crise, o futuro logo ali adiante incomoda os seus seguidores.
Assim como a prisão de Bolsonaro faz desandar todos os projetos da disputa presidencial, também nos estados e no Congresso — onde o ex-presidente fez cabelo, barba e bigode em 2022, elegendo um monte de deputados e senadores — o caldeirão da incerteza já levanta fumaça e mau cheiro.
No Maranhão, por exemplo, o governador Carlos Brandão decidiu ficar no Palácio dos Leões até o fim do mandato e tentar fazer do sobrinho Orleans Brandão (MDB) o seu sucessor. Mas falta conversar com Lula sobre os motivos de não apoiar o vice-governador Felipe Camarão (PT), como estaria combinado lá atrás.
A prisão de Jair Bolsonaro, prevista para acontecer até o fim deste ano, terá enorme repercussão nas eleições presidenciais, estaduais e do Congresso. Brandão não é bolsonarista, mas também não reza na cartilha da esquerda. Sempre navegou pelo centro, onde está o prefeito Eduardo Braide (PSD), outro que também não tem o perfil político capaz de atrair todos os bolsonaristas maranhenses e parte da esquerda.
Quem se identifica com a direita é o ex-prefeito de São Pedro dos Crentes, Lahesio Bonfim, que, no entanto, não tem estrutura para suportar o rolo compressor de Orleans e de Braide na campanha.
O governo Carlos Brandão continua recebendo apoio estrutural do governo Lula para obras de forte potencial eleitoral em diferentes pontos do Maranhão. Por exemplo, o plano rodoviário do governo está a pleno vapor em várias regiões do Estado, como a MA-014, que liga Vitória do Mearim à Baixada e passa por completa requalificação.
Em São Luís, o prolongamento da Avenida Litorânea, com o nome de Avenida Atlântica, até a Praia do Araçagi terá enorme impacto político na capital, que Eduardo Braide transformou na sua vitrine política, com obras urbanísticas, de saúde, no meio rural e de destravamento do trânsito. Ele não é lulista, não é bolsonarista, nem se alinhou com Brandão, mas lidera as pesquisas para o governo.
As eleições de 2026 continuam um mistério. Ninguém sabe qual será o impacto eleitoral, no Maranhão, da prisão de Jair Bolsonaro. O que há de fato é uma “sangria” política vazando do confronto entre brandonistas e dinistas (de Flávio Dino), e ninguém capaz de colocar um torniquete nessa ferida.
No âmbito nacional, a condenação de Bolsonaro põe em discussão temas ligados à Justiça e à figura da prisão na lei, os quais podem afastar o eleitorado moderado que historicamente define as eleições. Para presidente, o candidato que for capaz de atrair as franjas do outro espectro ideológico certamente terá muito mais chances de sucesso. Tarcísio de Freitas tenta capturar o bolsonarismo, encampando a tese de perseguição jurídica, mas só isso não basta num ambiente tão conturbado.