23 de setembro de 2025
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Maranhão mingua presença na Esplanada dos Ministérios

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Quando a semana começa sem tensão política em Brasília, o Brasil está acamado. O material em combustão nas mãos dos líderes que dão as cartas nos três Poderes da República são votações e reuniões no Congresso Nacional, publicações no Diário Oficial da União e decisões saídas do Supremo Tribunal Federal.

Nem as explosivas cores da florada dos ipês, que dominam a paisagem do Planalto Central com o renascer da primavera, iniciada nesta segunda-feira, 22, nem a resiliência da árvore que floresce após o sofrimento, amenizam a efervescência que faz o Brasil ter uma moldura a cada dia diferente da outra.

Nada de cores, nada de flores, nada de perfume. As desavenças políticas cheiram a gambá. A separação e harmonia dos Poderes, previstas no art. 2º da Constituição de 1988, passam longe do que pregou Aristóteles em sua época. O Brasil está em guerra sem trégua e sem previsão de cessar-fogo.

No Executivo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Nova Iorque para, mais uma vez, abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas, puxando a tradição de ser o primeiro orador, nesta terça-feira. O mundo está atento a cada palavra dele, se tem relação com o conflito político-ideológico-comercial deflagrado pelo governo Donald Trump, anfitrião do evento e o segundo a discursar na tribuna da ONU.

Em Brasília, as atenções se voltam para a PEC da Blindagem, o projeto de anistia aos golpistas e a mudança no Ministério de Lula, com a saída de André Fufuca (Esportes) e Celso Sabino (Turismo). O ultimato de 24h foi dado pela UB para Sabino desocupar a cadeira na Esplanada, assim como fez o PP com Fufuca.

Os dois são da Federação PP-União Brasil e poderão entregar os cargos nesta 4ª feira, quando Lula retornar de Nova Iorque. Para não perder o apoio da UB, Lula avalia optar por Ana Carla Machado, adjunta de Sabino. Já o PDT de Weverton Rocha tem interesse em abiscoitar um dos ministérios a vagar.

Com o quase certo desembarque de André Fufuca do governo petista, o Maranhão deixa de contar com três ministros no governo federal e um adjunto, do recorde histórico de quatro nomeados em 2023 pelo presidente Lula. O primeiro a sair foi Flávio Dino, removido do Ministério da Justiça e Segurança para o STF.

Em abril foi a vez do ministro das Comunicações, Juscelino Rezende, pedir demissão, enrolado em denúncias da PGR ao STF. Com a saída de Fufuca, o Maranhão, que já perdeu também Hildo Rocha, da Secretaria Executiva do Ministério das Cidades, ficará na Esplanada apenas com a ministra dos Povos Indígenas, da Terra Arariboia, Sônia Guajajara, do PSOL.

Essas mudanças no Ministério de Lula têm enorme peso nas eleições de 2026, com Fufuca pré-candidato a senador, Weverton buscando a reeleição e Brandão relaxando a chance de ser senador para tentar eleger o sobrinho Orleans Brandão.

O relator da PEC da Blindagem, senador Alessandro Vieira (MDB-SE), promete “enterrar”, sem pena, a proposta que livra políticos de punição e protege bandidos. Os que votam contra a isenção de imposto da comida; aumentam seus ganhos; derrubam impostos dos bilionários; reprovam descanso para os trabalhadores; e escondem da lei dezenas de bilhões em emendas Pix. Por isso, os protestos de domingo passado (21/09) lotaram ruas do Brasil – maiores do que os organizadores previam, e a direita esperava.

Os bolsonaristas levaram uma “surra” de povo. Até o ministro do STF Gilmar Mendes avaliou que os atos contra a anistia e a bandidagem merecem “um olhar adiante” de quem tem juízo e pensa o Brasil.

Como se pode ver, esta semana está tensa no Congresso, no STF e no Executivo. Logo, Montesquieu, se vivo fosse, obviamente estaria do lado dos manifestantes nas ruas do Brasil para mostrar que agir ao arrepio do mandato eletivo também é crime.

O mundo mudou desde o seu tempo, mas a obra O Espírito das Leis está tão atual quanto a Constituição de 1988. Nela não cabe golpe de Estado, impunidade para legisladores e proteção a bandidos de colarinho branco, adornado por gravata Hermès. Portanto, a PEC da Blindagem e o projeto da anistia não cabem na norma. E não se pode transformar o espírito da lei em fantasma.

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