14 de outubro de 2025
Geral

Jornais de 9 países publicam artigo de Lula sobre combate à fome; leia

Revista Fórum – Do Reino Unido a Moçambique, Lula emplaca artigo nos principais jornais do mundo.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conquistou nesta segunda-feira (13) um feito raro na diplomacia: emplacou um artigo assinado nos principais jornais de nove países, entre eles The Independent (Reino Unido), Público (Portugal), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), Libération (França), Al Jazeera (Qatar), Daily Nation (Quênia), Infobae (Argentina) e Jornal Notícias (Moçambique).

Nos próximos dias, o texto será republicado também em veículos da Colômbia, Chile e México, ampliando o alcance global da mensagem.

Publicado sob o título “A existência da fome é uma escolha política”, o artigo defende que o combate à fome deve ser tratado como prioridade mundial e que a desigualdade é resultado direto de decisões econômicas e políticas. A publicação ocorreu enquanto Lula participava, em Roma, do Fórum Mundial da Alimentação, promovido pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura).

“A fome não é uma condição natural da humanidade, nem é uma tragédia inevitável: ela é fruto de escolhas de governos e de sistemas econômicos que optaram por fechar os olhos para as desigualdades. Ou mesmo promovê-las”, escreveu o presidente.

No texto, Lula critica a falta de compromisso das nações mais ricas com o desenvolvimento global e cobra medidas concretas para reverter a fome e a pobreza.

“Em 2024, as nações mais ricas ajudaram a impulsionar o maior aumento em gastos militares desde o fim da Guerra Fria, que chegaram a US$ 2,7 trilhões no ano. Mas não tiraram do papel o compromisso que elas mesmas assumiram: investir 0,7% do PIB em ações concretas para a promoção do desenvolvimento nos países mais pobres”. 

O presidente também apontou a necessidade de reformar a governança global, defendendo o fortalecimento do multilateralismo e a criação de mecanismos que deem aos países condições de implementar políticas públicas consistentes.

“É necessário reformar os mecanismos globais de governança. Precisamos fortalecer o multilateralismo, criar fluxos de investimentos que promovam o desenvolvimento sustentável e garantir aos Estados a capacidade de implementar políticas públicas consistentes de combate à fome e à pobreza”. 

O artigo também destaca resultados concretos alcançados pelo Brasil desde o retorno de Lula ao poder. Segundo o texto, 26,5 milhões de brasileiros foram libertos da fome desde 2023, graças à retomada de políticas de transferência de renda, alimentação escolar e apoio à agricultura familiar.

“Dados oficiais divulgados há poucos dias mostram que libertamos da fome 26,5 milhões de brasileiros desde o início de 2023. Além disso, o Brasil saiu, pela segunda vez, do Mapa da Fome da FAO em seu relatório sobre a insegurança alimentar no mundo”. 

O presidente defende que o enfrentamento da fome passa também por justiça tributária e taxação dos super-ricos, tema que o Brasil conseguiu incluir na declaração final do G20 de 2024, sob sua presidência.

“É fundamental incluir os pobres no orçamento público e os mais ricos no imposto de renda. Isso passa pela justiça tributária e a taxação dos super-ricos, tema que conseguimos incluir – pela primeira vez – na declaração final da cúpula do G20 em novembro de 2024. Uma mudança simbólica, mas histórica”. 

Além disso, Lula cita a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa brasileira que já reúne 200 membros entre países e organizações.

“Com a Aliança, queremos que os países tenham as capacidades necessárias para conduzir as políticas que efetivamente reduzam a desigualdade e garantam o direito à alimentação adequada”. 

O artigo foi amplamente repercutido como um chamado à ação internacional em torno de um novo pacto de solidariedade global, que una as agendas de combate à fome, pobreza e crise climática.

“Ao sediar a COP30 na Amazônia, no mês que vem, o Brasil quer mostrar que o combate à mudança do clima e o combate à fome e à pobreza precisam andar juntos. Queremos adotar, em Belém, uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima que reconheça os impactos profundamente desiguais das mudanças climáticas e seu papel no agravamento da fome em certas regiões do mundo”. 

A publicação simultânea em veículos de diferentes continentes reforça o protagonismo internacional de Lula na luta contra a fome e a desigualdade, temas que marcaram sua trajetória política desde o primeiro mandato.

Leia a íntegra do artigo

“A existência da fome é uma escolha política

A fome não é uma condição natural da humanidade, nem é uma tragédia inevitável: ela é fruto de escolhas de governos e de sistemas econômicos que optaram por fechar os olhos para as desigualdades. Ou mesmo promovê-las.

A mesma ordem econômica que nega a 673 milhões de pessoas o acesso à alimentação adequada permite a um seleto grupo de 3 mil bilionários deterem 14,6% do PIB global.

Em 2024, as nações mais ricas ajudaram a impulsionar o maior aumento em gastos militares desde o fim da Guerra Fria, que chegaram a US$ 2,7 trilhões (2,3 milhões de milhões de euros) no ano. Mas não tiraram do papel o compromisso que elas mesmas assumiram: investir 0,7% do PIB em ações concretas para a promoção do desenvolvimento nos países mais pobres.

Vemos, hoje, situações semelhantes àquelas que existiam há oitenta anos, quando a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a FAO, foi criada. Diferente daquela época, contudo, não temos apenas as tragédias da guerra e da fome se retroalimentando, mas também a urgente crise climática. E a concertação entre as nações criada para resolver os desafios de 1945 não dá mais conta dos problemas atuais.

É necessário reformar os mecanismos globais de governança. Precisamos fortalecer o multilateralismo, criar fluxos de investimentos que promovam o desenvolvimento sustentável e garantir aos Estados a capacidade de implementar políticas públicas consistentes de combate à fome e à pobreza.

É fundamental incluir os pobres no orçamento público e os mais ricos no imposto de renda. Isso passa pela justiça tributária e a taxação dos super-ricos, tema que conseguimos incluir – pela primeira vez – na declaração final da cúpula do G20 em novembro de 2024, realizada sob a presidência brasileira. Uma mudança simbólica, mas histórica.

Defendemos tal prática no mundo – e a adotamos no Brasil. Está em vias de ser aprovado no Congresso brasileiro uma mudança substancial nas regras tributárias: pela primeira vez no país, haverá uma taxação mínima sobre a renda das pessoas mais ricas do país, isentando do imposto milhões de pessoas com salários menores.

Também à frente do G20, o Brasil propôs a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. A iniciativa, embora recente, já conta com 200 membros — 103 países e 97 parceiros como fundações e organizações. Não se trata só de trocar experiências, mas de mobilizar recursos e cobrar compromissos.

Com a Aliança, queremos que os países tenham as capacidades necessárias para conduzir as políticas que efetivamente reduzam a desigualdade e garantam o direito à alimentação adequada. Políticas que têm resultados rápidos, como os registrados no Brasil após elevarmos o combate à fome à condição de prioridade de governo em 2023.

Dados oficiais divulgados há poucos dias mostram que libertamos da fome 26,5 milhões de brasileiros desde o início de 2023. Além disso, o Brasil saiu, pela segunda vez, do Mapa da Fome da FAO em seu relatório sobre a insegurança alimentar no mundo. Mapa ao qual não teria retornado se as políticas iniciadas ainda nos meus primeiros governos (2003-2010) e da Presidenta Dilma Rousseff (2011-2016) não tivessem sido abandonadas.

Por trás desta conquista, estão ações coordenadas em diversas frentes. Qualificamos e ampliamos nosso principal mecanismo de transferência de renda, que passou a atender a 20 milhões de lares, com atenção a 8,5 milhões de crianças de até seis anos.

Ampliamos os recursos destinados à alimentação gratuita nas escolas públicas, que beneficia 40 milhões de estudantes. Por meio de compras públicas de alimentos, garantimos renda a famílias de pequenos agricultores e distribuímos comida gratuita e de qualidade a quem realmente precisa. Além disso, aumentamos o fornecimento gratuito de gás de cozinha e eletricidade às pessoas de menor renda, abrindo espaço no orçamento familiar para fortalecer a segurança alimentar

Nenhuma dessas políticas, porém, se sustenta sem um ambiente econômico que as impulsione. Quando há empregos, quando há renda, a fome perde sua força. Por isso, adotamos uma política econômica que priorizou o aumento dos salários e nos levou ao menor índice de desemprego já registrado no Brasil. E também ao menor índice de desigualdade de renda familiar per capita.

O Brasil ainda tem muito a avançar até garantir a plena segurança alimentar a toda sua população, mas seus resultados confirmam que a ação do Estado é capaz, sim, de vencer o flagelo da fome. Tais iniciativas, contudo, dependem de mudanças concretas nas prioridades mundiais: investir em desenvolvimento, e não em guerras; privilegiar o combate à desigualdade, e não as políticas econômicas restritivas que por décadas têm provocado enorme concentração de riqueza; e encarar o desafio da mudança do clima, tendo as pessoas no centro de nossas preocupações.

Ao sediar a COP30 na Amazônia, no mês que vem, o Brasil quer mostrar que o combate à mudança do clima e o combate à fome e à pobreza precisam andar juntos. Queremos adotar, em Belém, uma Declaração sobre Fome, Pobreza e Clima que reconheça os impactos profundamente desiguais das mudanças climáticas e seu papel no agravamento da fome em certas regiões do mundo.

Também levarei estas mensagens ao Fórum Mundial da Alimentação e à reunião do Conselho de Campeões da Aliança Global Contra a Fome, eventos dos quais terei a honra de participar hoje, dia 13, em Roma. Mensagens que mostram que as mudanças são urgentes, mas são possíveis. Pois a humanidade, que criou o veneno da fome contra ela mesma, também é capaz de produzir o seu antídoto”. 

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