Espionagem mequetrefe contra deputados do MA
Por Raimundo Borges
O Imparcial – A campanha eleitoral de 2026 está longe de começar, mas há um chafurdo ensurdecedor contaminando os bastidores do antigo grupo dinista, hoje rachado ao meio. A encrenca está a exigir até a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar consertar o desmoronamento, em conversa prometida para esta semana com o governador Carlos Brandão.
O mais novo episódio envolvendo os personagens do mesmo grupo do poder estadual é uma prosaica espionagem contra os deputados federais Márcio Jerry (PCdoB) e Rubens Júnior (PT). Os dois pediram ao presidente da Câmara, Hugo Motta, providências à Polícia Federal para investigar quem são os espiões e a serviço de quem estão.
Aliás, espionagem na política é algo tão comum quanto fascinante à curiosidade pública. No caso maranhense, esse tipo de ação clandestina (se não for clandestina, não é espionagem) sempre aparece nas campanhas eleitorais ao longo do tempo. O curioso é que esse tipo de espionagem nunca mudou o curso de uma eleição no Estado.
O caso Reis Pacheco, de enorme repercussão nas eleições de 1994 no Maranhão — fruto de uma fake news sobre o “assassinato” de Raimundo Reis Pacheco, supostamente a mando de Epitácio Cafeteira — morreu no arquivo. Foi descoberto que Pacheco estava vivo e trabalhando no interior do Pará.
O enredo parece o de filmes de suspense, repletos de tramas com agentes infiltrados em ações impensáveis, para roubar planos de construção de armas poderosas, explodir depósitos de munição em Nova York ou mesmo o aeroporto de Brasília, em 2022, dentro da trama golpista contra a eleição de Lula.
O STF está julgando o núcleo 4 do golpe, com espionagem a torto e a direito. No cinema, o mais novo filme do gênero é Código Preto (2025), em que um agente secreto britânico investiga o vazamento interno de um software chamado Severus, com funcionários do MI6 suspeitos — incluindo Kathryn, esposa do agente — também uma superespiã da organização, agindo nas sombras.
No Maranhão, porém, as espionagens estão longe de chegar a esse nível. São praticadas por agentes atrapalhados e amadores, como ocorreu no caso chamado “Clio do Milhão” na campanha municipal de 2024. Até hoje, ninguém sabe a que conclusão a polícia chegou. Em 2019, o deputado Aluísio Mendes disse que vinha recebendo denúncias e documentos que ajudavam na apuração do caso envolvendo o ex-delegado Thiago Bardal e o delegado Ney Anderson Gaspar.
Apontavam o então secretário de Segurança Jefferson Portela como mandante de interceptações telefônicas ilegais, também contra quatro desembargadores, seus familiares e políticos adversários do governo Flávio Dino. Nada ficou provado. O caso também foi parar na Comissão de Segurança da Câmara dos Deputados, com ampla cobertura da imprensa. Até o então senador Roberto Rocha teria sido alvo da arapongagem clandestina no “sistema Guardião”, da Secretaria de Segurança.
Na eleição de 2018, a Vara de Auditoria Militar do Ministério Público colocou em segredo de justiça a ação penal sobre o suposto uso da estrutura da Polícia Militar do Maranhão para espionagem de opositores do governador Flávio Dino nas eleições. As apurações deram muita mídia dentro e fora do Maranhão, mas trouxeram pouco resultado.
Agora, vieram à tona supostas gravações ilegais de conversas dos deputados federais Márcio Jerry e Rubens Júnior pela Polícia do Maranhão. É estranho, porque eles são vice-líderes do governo na Câmara e pertencem a dois partidos que fazem parte do governo Carlos Brandão: o PCdoB e o PT. Tudo indica, portanto, que, se verdadeira a informação dos parlamentares, trata-se de uma patacoada, praticada por espiões mequetrefes.
Se fosse espionagem de uma rede profissional, realizada com planejamento, astúcia e infiltração nos ambientes secretos, não seria facilmente detectada pelos espionados. Afinal, espionagem é para causar impacto, derrotar adversários e derrubar governos — nunca do tipo “O Espião que Entrou numa Fria”.