Dino na emboscada política do pós-Lula
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Desde março de 2006, quando abandonou a toga de juiz federal para se filiar ao PCdoB — ato ocorrido na sede da OAB-MA —, Flávio Dino jamais deixou de fazer história e de produzir polêmica por onde passou: como deputado federal, governador do Maranhão, senador, ministro da Justiça e, depois, ministro do Supremo Tribunal Federal.
Ainda com a toga de magistrado federal, em 2004, a ala do PT liderada pela deputada Helena Heluy por pouco não o convenceu a disputar a Prefeitura de São Luís, vencida pelo médico Tadeu Palácio. Helena concorreu pelo PT, ficou em 4º lugar, e Dino esperou dois anos para abandonar a magistratura e concorrer ao mandato de deputado federal, apoiado pelo então governador José Reinaldo Tavares.
No último domingo, 19/10, a revista Veja publicou uma matéria especulativa, assinada pela jornalista Laryssa Borges, sobre uma possível renúncia de Flávio Dino ao STF para voltar aos holofotes da política. O texto, baseado em informações anônimas colhidas no entorno do ministro, afirma que “o presidente Lula, eventualmente reeleito em 2026, tenderia a escolher Dino para ser seu sucessor, a exemplo do que fez com a então desconhecida ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, quando a ungiu como sua preferida em 2008”. O atual presidente da 1ª Turma do STF estaria disposto a voltar à política em um cenário hoje inimaginável.
Não é de agora que se especula o retorno de Dino à política. Ele mesmo alimentou a discussão ao dizer que, enquanto estiver vestindo a toga, não falará de política — mas poderia fazê-lo em 2030. Há duas semanas, a senadora Eliziane Gama (PSD), amiga de Dino, afirmou que ele tem um perfil político que se encaixaria no futuro pós-Lula, em 2030.
Dentro do PT, há comentários sobre o ministro vir a ser vice na chapa de Lula em 2026, com a incumbência de se tornar candidato presidencial ao fim do eventual quarto mandato do petista. Há quem diga que Dino saiu da política para o STF, mas a política não saiu dele. Na Corte, tem liderado uma simpática cruzada pela transparência no uso das volumosas emendas Pix.
Enquanto é alvo da ira dos bolsonaristas e do Centrão no Congresso Nacional — a ponto de pedirem o impeachment dele e de outros ministros —, Dino é o mais engajado dos 11 membros da Corte Suprema nas redes sociais. Tem ampla vantagem, com 1,5 milhão de seguidores no Instagram, segundo a Ativaweb. Quando o STF decidiu impor limites às big techs, irrompeu uma gritaria sobre censura, além de campanhas de desinformação e ameaças. No entanto, os ministros são livres para o uso das plataformas digitais. Enquanto Alexandre de Moraes desativou sua conta, Dino se destaca com uma base digital sólida, publicando sobre livros, literatura, shows de Gilberto Gil e fotos com Leonardo Boff.
Em outubro de 2023, ainda como ministro da Justiça, Dino afirmou que não tinha pretensão política nas eleições de 2026, porém, não descartou concorrer na seguinte. “Estão preocupados com a eleição? Eu só disputo em 2030, com a graça do Senhor Jesus”, disse em tom de brincadeira. Mas, falando sério, hoje seu entorno não duvida que ele possa antecipar o retorno às urnas. O pós-Lula dependerá das eleições de 2026, caso o presidente conquiste um quarto mandato. Na política, no entanto, o tempo é como o vento: tudo é tão imprevisível quanto o rumo e os desdobramentos.
Para quem tem uma trajetória política e profissional cheia de surpresas, o retorno do ministro do STF à política não seria nada extraordinário. Foi o primeiro juiz federal a abandonar a toga para disputar uma eleição; o único governador eleito em quase 100 anos pelo PCdoB; derrotou o sarneísmo em três eleições e, depois, tornou-se amigo de José Sarney; foi eleito senador e entregou o mandato inteiro à suplente Ana Paula Lobato — primeiro caso na história do Senado Federal — e, finalmente, passou pelos Três Poderes em poucos meses, como ministro da Justiça, senador por 20 dias e ministro do STF. Portanto, pode tentar ocupar o vácuo político no pós-Lula daqui a um ano ou um pouco mais adiante.