28 de outubro de 2025
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Escolas destruidoras de sonhos em Bom Jardim

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Da pré-escola à universidade, em qualquer lugar, língua, cultura ou condição socioeconômica, a escola é fundamental, não apenas como o lugar de aprendizado. Acima de tudo, é o espaço vital para o desenvolvimento social, emocional e de troca de experiências, no qual os alunos aprendem também regras de disciplina, de assumir deveres, conviver com as diferenças e construir habilidades para o futuro.

É pela escola que os seres humanos se diferenciam entre si no desenvolvimento social, no raciocínio e na capacitação para a vida. Paulo Freire ensinou que “o professor deve ser sensível à história de vida dos alunos, resgatar seus sofrimentos, mazelas e cicatrizes. A partir daí é que o conhecimento passa a ser construído.”

O revolucionário patrono da Educação Brasileira tinha razão ao sustentar que “quanto mais tivermos seres pensantes, menos isso é interessante para quem está no poder”. De fato, “o aluno percebe que tudo o que aprende é fruto do olhar de certas pessoas.”

Essas “certas pessoas” foram escancaradas pelo Fantástico, no domingo, 26/10, em bela reportagem da jornalista Cristina Souza, sobre as mazelas que, inacreditavelmente, existem no município de Bom Jardim (e não é apenas lá), distante 215 km de São Luís, a oeste do Maranhão. As palhoças transformadas em “escolas” públicas municipais fazem lembrar o tempo da colonização em determinados grotões longínquos do interior do Brasil.

O município recebeu, em 13 anos, R$ 650 milhões do Fundeb (Fundo de Financiamento e Desenvolvimento da Educação Básica), mas mantém escolas em situação deplorável, funcionando em casebres de palha de babaçu, moradias paupérrimas dos moradores ou em casas de farinha – sem banheiro e com vários níveis escolares no mesmo espaço. Eudinete se desdobra como zeladora, merendeira e vigilante.

Ela sonha em ver os seis filhos em uma escola que tenha pelo menos um banheiro. Em 2014, essas escolas de taipa, cobertas de palha e tapadas de barro, eram 1.090 (Censo Escolar). O governo Flávio Dino lançou o programa Escola Digna e, em 2018, investiu mais R$ 22 milhões em 50 unidades.

Em 2022, Carlos Brandão deu sequência ao programa, em parceria com os municípios. Mas as escolas indignas não acabaram. Nem todos os municípios atuam como deveriam na sua obrigação com o Ensino Fundamental. Ainda assim, o governo colocou o Maranhão na maior variação em alfabetização do Brasil, saindo da 23ª posição para a 10ª no Nordeste.

Em 2025, o Estado investiu R$ 275 milhões na aquisição de 250 mil tablets para os alunos do ensino médio e 30 mil chromebooks para professores. Porém, em Bom Jardim, entre 2010 e 2020, de cinco prefeitos, quatro foram presos, afastados e condenados por corrupção, lastimavelmente, por malversação da verba do Fundeb.

O retrato do descaso com o ensino em Bom Jardim é estampado por Eudinete e seus seis filhos, cujo sonho é vê-los estudar em uma escola que tenha pelo menos um banheiro.

Em pleno século XXI, com as tecnologias digitais dominando a vida das pessoas, incluindo a Inteligência Artificial, naquele município maranhense um estudante ainda sonha com uma escola que lhe proporcione meios dignos de aprendizado por meio de um computador. Tem toda razão o promotor de Justiça Fábio Oliveira ao constatar que a corrupção que assola a área da educação escolar é um mal “destruidor de sonhos”.

Um dos estudantes de Bom Jardim, Jean, de 7 anos, sabe muito bem avaliar o significado dessa dura realidade que enfrenta para aprender e viver. “A escola ideal é a que tem carteiras novas, mesas boas… um piso mais adequado, um banheiro de boa qualidade e uma caixa de água potável para beber.” E completa: “Com internet, com aula de brincar, escola com parede de cimento, coberta de telha.”

Quando Paulo Freire disse que “quando a Educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor”, ele chama a atenção para a desimportância que os poderosos dão à Educação, por ser o caminho do pensamento da libertação.

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