1 de novembro de 2025
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As perguntas que podem levar Cláudio Castro à prisão

ICL – Governador evita responder por que corpos foram deixados na mata, novatos foram enviados à ação mais letal do estado e armas desapareceram do local.

O governador Cláudio Castro deve respostas claras, completas e urgentes sobre a ação policial que transformou os complexos da Penha e do Alemão em um cenário de horror. O que se viu não foi uma política de segurança, mas um retrato de descontrole, improviso e desumanidade.

Mais de uma centena de pessoas mortas, corpos abandonados na mata, perícias dificultadas e um governo que insiste em se autopromover em vez de prestar contas. A tragédia, longe de representar vitória sobre o crime, simboliza o colapso da credibilidade das forças de segurança e o fracasso de um Estado que prefere a retórica da guerra à transparência da justiça.

As perguntas que o governador insiste em ignorar continuam ecoando nas ruas, nas delegacias e entre as famílias que ainda aguardam respostas:

  • Por que os corpos foram deixados na mata, sem qualquer cuidado pericial?
  • Por que a área não foi isolada, como mandam os protocolos mais básicos de segurança?
  • Por que o governo decidiu transferir as lideranças do Comando Vermelho apenas 12 horas depois do início da operação e não antes?
  • Como a ação vazou se era considerada sigilosa?
  • Por que o enfrentamento foi direcionado apenas à facção que disputa território com as milícias?
  • Por que um policial com apenas 40 dias de corporação foi enviado a uma ação dessa magnitude?
  • Onde estão as armas dos mortos encontrados na mata? Quem recolheu esse material?

Essas perguntas não são meras formalidades. Elas expõem a distância entre um governo que contabiliza apreensões e uma sociedade que enterra seus mortos. A justificativa de que a operação foi um sucesso é incompatível com a ausência de transparência, a destruição de provas e a omissão diante de indícios graves de irregularidade.

O governador não pode continuar fingindo que a sociedade não quer saber quem decidiu abandonar os corpos e esconder as armas. A cada novo dia de silêncio, cresce a sensação de que o governo tem mais a esconder do que a explicar.

A tragédia também escancarou a precariedade da formação policial no Rio de Janeiro. Entre os mortos está um agente com apenas 40 dias de corporação. Que comando envia um novato a uma ação dessa magnitude? Onde estavam os superiores responsáveis pelo planejamento e pela supervisão da operação?

Um Estado que coloca um recém-formado diante de um confronto desse porte demonstra, no mínimo, irresponsabilidade institucional. A pressa em exibir força parece ter custado não apenas vidas de civis, mas também a de quem deveria estar protegido por protocolos de segurança e comando.

Outro ponto que precisa ser esclarecido: parte dos mortos encontrados na região de mata da Penha tinha, de fato, envolvimento com o crime. No entanto, quando os corpos foram localizados, estavam sem armas. Isso significa que a polícia — ou alguém sob seu comando — recolheu o armamento, mas deixou os corpos para trás.

Essa sequência levanta questões ainda mais sérias: as armas foram apreendidas oficialmente? Foram periciadas? Por que não há laudos que indiquem onde e quando foram encontradas? A ausência de documentação reforça suspeitas de manipulação de cena e fraude processual. Cada arma desaparecida representa uma prova destruída, e cada corpo deixado é uma história que o Estado preferiu apagar.

A falta de coordenação entre os estados também acende o alerta sobre a natureza dessa operação. Em entrevista à GloboNews, o governador do Pará, Helder Barbalho, revelou que policiais paraenses estavam no Rio para atuar em conjunto com as forças fluminenses no combate aos criminosos que eram alvo da ação.

No entanto, segundo ele, ao questionarem quando a operação ocorreria, receberam a resposta de que ainda não havia data definida. Quando o governo do Pará foi finalmente informado de que a operação seria deflagrada, já era tarde demais para mobilizar o efetivo.

O relato de Barbalho soma-se a outros que indicam que a ação foi realizada de maneira afobada, sem coordenação adequada e, acima de tudo, colocando em risco tanto os agentes da lei quanto a população civil.

Milícias fora do alvo da operação

A decisão judicial que embasou a ação é outro elemento que não pode ser ignorado. O texto dizia claramente que o Comando Vermelho promovia uma “expansão violenta do tráfico em áreas de milícia”. No entanto, o Estado escolheu enfrentar apenas um dos lados.

Essa seletividade, que poupa grupos formados por policiais e ex-policiais, lança dúvidas sobre o real objetivo da operação: combater o crime ou preservar zonas controladas por milicianos? O silêncio do governo diante dessa contradição é revelador. O combate ao crime não pode ser seletivo, nem se transformar em instrumento de proteção a redes criminosas infiltradas nas instituições.

Especialistas em segurança pública alertam que a ausência de planejamento e o uso desproporcional da força mostram uma política pautada por espetáculo e conveniência. A retórica da “tolerância zero” serve bem aos discursos eleitorais, mas na prática tem produzido chacinas, não segurança.

O Estado que deveria proteger está matando sem responder, e a banalização da morte virou método de gestão. Cada vez que Cláudio Castro celebra “resultados positivos”, o Rio afunda mais em um ciclo de violência que não distingue culpados de inocentes.

Enquanto o governador insiste em se manter calado, as famílias das vítimas continuam sem respostas, os registros seguem incompletos e a confiança nas instituições se dissolve. O que se viu na Penha e no Alemão foi barbárie e improviso.

Nenhuma democracia se sustenta sobre a indiferença diante da morte, nem sobre a proteção institucional à impunidade. Cláudio Castro ainda não explicou nada — e o seu silêncio, mais do que as balas, é o que continua ferindo o Rio de Janeiro e enterrando, junto com suas vítimas, qualquer esperança de justiça verdadeira.

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