15 de novembro de 2025
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PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA: 4 CURIOSIDADES SOBRE A DATA

AH – Fim da monarquia e o início da República no Brasil em 15 de novembro de 1889 foram resultados de articulações militares, políticas e econômicas.

No dia 15 de novembro de 1889, o Brasil se transformava oficialmente em uma República. O gesto, liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca e um grupo de militares, marcou o fim de 67 anos de monarquia constitucional sob Dom Pedro II. Porém, ao contrário da imagem romantizada que muitas vezes se perpetua nos livros escolares, a Proclamação da República não foi resultado de um movimento popular amplo ou de um clamor coletivo por liberdade.

O episódio, que encerrou o Segundo Reinado, foi um golpe de Estado conduzido por militares e civis influentes, movidos por insatisfações políticas, econômicas e sociais. Para compreender a complexidade desse marco histórico, é preciso olhar além do mito e revisitar quatro aspectos fundamentais que explicam como o Império ruiu e a República nasceu.


1. A questão militar

Crianças lutando na Guerra do Paraguai
Crianças lutando na Guerra do Paraguai – Domínio Público

Após a Guerra do Paraguai (1864–1870), o Exército brasileiro ganhou protagonismo e prestígio, tornando-se uma das instituições mais poderosas do país. No entanto, esse reconhecimento não se traduziu em valorização dentro da estrutura política imperial. Oficiais que haviam participado do conflito retornaram ao país com a sensação de terem sido explorados e ignorados. O Império mantinha uma hierarquia rígida e aristocrática, onde as decisões políticas eram dominadas por civis e nobres, o que incomodava profundamente os militares de carreira.

Além disso, o Exército buscava modernização e autonomia, inspirando-se em modelos europeus e nas ideias positivistas que ganhavam força na época. A chamada “questão militar” se agravou quando o governo imperial começou a punir oficiais que expressavam opiniões políticas ou críticas ao regime, como o caso do tenente-coronel Sena Madureira, punido por elogiar um escritor republicano. Essa repressão acirrou a oposição dentro das fileiras e consolidou o sentimento de que o Império era um obstáculo à modernização nacional. Assim, quando os republicanos precisaram de apoio armado para depor o governo, encontraram nas casernas um ambiente fértil para a conspiração.


2. Ideias de República

Embora a palavra “República” evocasse ideais de igualdade e representação popular, o movimento republicano brasileiro estava longe de ser homogêneo ou popular. Ele surgiu e se consolidou nas camadas urbanas instruídas e entre as elites regionais, principalmente nas províncias do Sudeste. Em São Paulo, a elite cafeeira via com desconfiança a centralização política do Império e a excessiva influência da monarquia sobre as províncias. A República, portanto, surgiu como uma forma de garantir maior autonomia econômica e administrativa às oligarquias locais.

Os jornais republicanos da época — como A Província de São Paulo, futuro O Estado de S. Paulodesempenharam papel decisivo na disseminação das ideias republicanas, mesmo que o povo em geral permanecesse alheio a esse debate. As manifestações públicas pró-República eram raras e pouco expressivas, e o apoio popular ao imperador ainda era significativo, especialmente nas áreas rurais. Assim, o republicanismo não nasceu de uma revolta social, mas de um rearranjo entre as elites que desejavam reposicionar o poder político e econômico no país.


3. Abolição da escravidão

Foto mostra o documento da Lei Áurea
Foto mostra o documento da Lei Áurea – Arquivo Nacional do Brasil

A abolição da escravidão em 13 de maio de 1888 foi um divisor de águas que acelerou o colapso da monarquia. Quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, formalizando a “liberdade” dos cerca de 700 mil escravizados que ainda existiam no país, o ato foi celebrado por abolicionistas e pela população negra. No entanto, para os grandes fazendeiros — sustentáculo econômico e político do Império —, a medida foi vista como uma traição. Sem indenização e sem compensações, os proprietários de escravos sentiram-se abandonados pela coroa e passaram a apoiar abertamente o movimento republicano.

Esse rompimento entre a monarquia e a elite agrária foi fatal. O Império, que dependia da lealdade desses grupos para manter sua estabilidade, perdeu uma de suas bases mais sólidas de sustentação. Com isso, a República se tornou uma alternativa conveniente para os fazendeiros, que enxergavam no novo regime a possibilidade de proteger seus interesses econômicos e de manter a estrutura social hierarquizada, ainda que sob uma nova bandeira.


4. A Proclamação da República

Ao contrário da imagem de um levante popular espontâneo, a Proclamação da República foi, na prática, um golpe de Estado militar cuidadosamente articulado. Nos dias que antecederam o 15 de novembro, grupos de civis republicanos, como Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant, se reuniram com oficiais do Exército para convencer o marechal Deodoro da Fonseca a liderar o movimento. Deodoro, monarquista de convicção e amigo pessoal de Dom Pedro II, resistiu inicialmente, mas acabou cedendo diante das pressões políticas e da alegação de que o governo do Visconde de Ouro Preto preparava sua prisão.

Na manhã daquele 15 de novembro, tropas do Exército marcharam pelo Rio de Janeiro e cercaram o Quartel-General. O Visconde de Ouro Preto foi deposto, e poucas horas depois, sem resistência popular, o regime imperial chegou ao fim. Dom Pedro II, surpreso com a rapidez dos acontecimentos, foi informado que a República estava proclamada e partiu para o exílio na Europa dias depois. Nenhum disparo foi trocado, nenhuma revolta popular tomou as ruas — a transição ocorreu de forma pacífica e silenciosa.

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