26 de novembro de 2025
DestaquesGeralPolítica

Tarifaço cai aos pedaços, mas o Brasil comemora

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Ao revogar o tarifaço de 40% sobre as exportações de mais de 900 produtos brasileiros, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, provocou euforia e comemoração tanto no setor empresarial quanto na diplomacia e no Palácio do Planalto. Mesmo tendo deixado alguns itens fora do decreto que zerou as tarifas, há motivos de sobra para os exportadores brasileiros festejarem o Natal muito mais animado do que esperavam. Do Maranhão, porém, produtos como alumina, alumínio, soja, celulose, etanol, minério de ferro, ouro bruto e semimanufaturados permanecem amargando o tarifaço de 40%.

Desde 30 de agosto, quando Trump colocou a economia brasileira em estado de choque e os exportadores em desespero, ocorreu algo inédito no país: formou-se um imenso esforço conjunto para reverter a situação. Foram meses de angústia, negociações, tensão política entre Brasil e Estados Unidos, e levantou-se uma nuvem de incerteza até no mercado financeiro. Com o país dividido ideologicamente entre direita e esquerda, os bolsonaristas logo transformaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no alvo de seus ataques, por não haver impedido o tarifaço. Até os discursos de Lula, mostrando que Trump estava errado ao agir impulsionado por desinformação, foram rebatidos por seus opositores no Congresso e no meio empresarial, principalmente no campo do agro.

Poucos economistas e analistas de relações internacionais vislumbravam a possibilidade de o Brasil buscar mercados alternativos, diante das dificuldades de uma empreitada dessa magnitude ter sucesso em situação emergencial — como, por exemplo, as mangas do Nordeste já na fase de colheita, o suco de laranja e tantos outros produtos agrícolas sazonais. Exigia-se uma corrida contra o tempo em busca de novos mercados ao redor do mundo — Ásia, África, União Europeia e América Latina. O México foi uma exceção: de repente, passou a ser o grande comprador de carne brasileira, atrás apenas da China, enquanto o hambúrguer americano disparava de preço pelo encarecimento da carne do Brasil.

Na lista de exceções às tarifas, Trump ampliou para mais de 900 produtos, como café, mel e carne, por exemplo, mas deixou de fora, com os 40%, café solúvel, madeira, móveis, calçados, equipamentos de terraplenagem, eletrônicos, aeronaves e peças aéreas (exceto especificações civis), têxteis e vestuário de lã, pneus e borracha industrializada, compensados e peças de turborreatores. Mesmo sendo um alívio para setores importantes da economia brasileira, o decreto de Trump não foi nenhum favor ao Brasil. Foi resultado de fatores internos — com os preços disparando nos supermercados —, da postura firme do governo brasileiro, dos empresários junto aos importadores e da diplomacia, acima de tudo.

Trump citou as conversas dele com o presidente Lula e o encontro dos ministros Sérgio Vieira, do Brasil, e Marco Rubio, dos Estados Unidos, mas não lembrou Jair Bolsonaro, prestes a ser preso pelo STF. O julgamento da trama golpista, com ele liderando o núcleo crucial, foi usado por Trump como pretexto para o decreto do tarifaço. Desta vez, o bolsonarismo ficou quieto, e o deputado foragido Eduardo Bolsonaro aproveitou para uma narrativa delirante de quem foi ignorado. Para a associação dos exportadores de carnes, a decisão demonstra a efetividade do diálogo técnico e das negociações bem conduzidas pelo governo brasileiro.

Lula mandou mensagem para Trump e agradeceu “parcialmente” o recuo sobre o tarifaço. Para ele, foi uma vitória da soberania, do vice-presidente Geraldo Alckmin e do governo. “Ninguém respeita quem não se respeita”, disse. Já havia anunciado um plano de contingência para proteger a economia e as empresas nacionais. As medidas incluem uma linha de crédito de R$ 30 bilhões e um pacote de incentivos fiscais. Já o tarifaço escancarou as desigualdades entre as regiões do Brasil: Sudeste, Sul e Centro-Oeste foram altamente impactados, enquanto Nordeste e Norte sofreram menos, por exportarem pouco e produtos de baixo valor agregado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *