10 de dezembro de 2025
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Paradoxos da direita bolsonarista sem Jair

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Paradoxalmente, o PL está quase dentro do ano eleitoral de 2026 e quase fora das eleições presidenciais. Está com Jair Bolsonaro quase dando ordens na família, enquanto o filho mais velho, Flávio, está quase perdendo o juízo sem saber o que fazer. O “mito” está quase desmistificado, cumprindo 27,3 anos de cadeia na Polícia Federal, enquanto a sua vontade infinita de voltar ao Palácio do Planalto nem mesmo a ex-primeira-dama Michelle parece acreditar numa reviravolta milagrosa.

Na rota do “quase”, o senador Flávio Bolsonaro, o 01 do clã, viu o encontro suprapartidário marcado para a manhã desta segunda-feira, 08/12, ser quase esvaziado pelos líderes do Centrão. Marcada na véspera, a reunião, que seria para discutir os traçados pelo pai para 2026, com ele próprio indicado à disputa do Planalto, fracassou. Significa que a direita bolsonarista não é mais tão fiel a Bolsonaro como já foi. Há um monte de governadores pré-candidatos, mas com a preferência carimbada em Tarcísio de Freitas (Republicanos).

A reunião anunciada por Flávio em entrevista exclusiva à Record e ignorada pela Globo tinha como rascunho definir o tema central do projeto bolsonarista e a condição que ele impôs para seguir em frente com a empreitada: para começo de conversa, seria a anistia ampla, geral e irrestrita aos condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro e ao seu pai, Jair Bolsonaro. O senador admitiu até desistir da proposta de candidatura afiançada na sexta-feira pelo pai, desde que antes se definisse o “preço” dessa desistência.

Segundo o portal Metrópoles, Flávio convidou os principais comandantes partidários do Centrão, incluindo Valdemar Costa Neto, do Partido Liberal (PL); Antônio Rueda, do União Brasil; Ciro Nogueira, do Progressistas (PP); e Marcos Pereira, do Republicanos. Exceto por Valdemar, os outros convidados alegaram compromissos de agenda e recusaram o convite. Ciro, por exemplo, alegou já ter um compromisso no Paraná, mas disse que procuraria Flávio para uma conversa após retornar a Brasília.

Além dele, os outros líderes também não confirmaram presença. Rueda nem se manifestou sobre a reunião, enquanto Marcos Pereira informou por telefone que não poderia comparecer. A assessoria do senador não atualizou a agenda ou confirmou se a reunião aconteceria sem a presença dos principais convidados. Praticamente todos eles não escondem a preferência pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, eleito em 2022 debaixo do guarda-chuva do então presidente Bolsonaro.

A candidatura de Flávio gerou frustração entre esses grupos, que veem o ex-ministro como a opção mais viável para se tornar o herdeiro de Bolsonaro e representar a continuidade da direita. Chamou a atenção até da imprensa internacional o impacto do anúncio da candidatura de Flávio. É vista por analistas do mercado financeiro como “balde de água gelada”. De fato, naquela sexta-feira, 05 de dezembro, ficou registrada no índice Ibovespa a pior queda diária desde 2021.

Inesperadamente, essa aversão ao nome posto na disputa presidencial por “ordem” de Jair Bolsonaro causou calafrios no mercado financeiro brasileiro. O dólar registrou a maior alta desde outubro (2,34%, a R$ 5,43), enquanto o Ibovespa afundou (-4,31%, aos 157.369 pontos) e teve o pior desempenho diário desde 2021. Na avaliação do jornalista e escritor Ricardo Noblat, “Bolsonaro lançou Flávio e estendeu o tapete para a reeleição de Lula em 2026”. Diante da pulverização da direita e do Centrão nas eleições legislativas para mudar as regras do Supremo Tribunal Federal e outras medidas de impacto — se for o caso, até o regime político brasileiro — o presidente Lula observa esses cenários com muita cautela.

Os investidores veem Tarcísio e outros governadores de direita como os mais capacitados a unir o eleitorado de direita e centro, além de promover reformas defendidas por uma corrente econômica mais liberal. Quem sabe até o parlamentarismo. Em sua análise, Noblat observa que Michelle Bolsonaro, embora mais bem posicionada nas pesquisas e com forte apelo entre evangélicos e eleitoras, jamais foi considerada pelo marido, o ex-presidente, para encabeçar uma candidatura. O jornalista do Metrópoles argumenta que isso ocorre porque o ex-mandatário não teria sobre ela o mesmo grau de controle.

O texto recupera episódios da vida familiar de Bolsonaro para explicar sua dinâmica de poder, citando o caso de Rogéria, sua primeira esposa, que foi derrotada pelo próprio filho Carlos após demonstrar autonomia política. Ela também pode ser considerada “quase” pré-candidata presidencial, pelo menos enquanto Tarcísio permanecer quase aceitando ou quase desistindo de assumir o complicado papel de herdeiro de Bolsonaro na direita.

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