Beirando os 100 anos, O Imparcial segue na vanguarda do jornalismo
Por Raimundo Borges
Diretor de Redação

O Imparcial – Logo após ser eleito governador do Maranhão, em outubro de 2006, o pedetista Jackson Lago, acompanhado do jornalista Neiva Moreira, visitou a diretoria deste jornal e disse ao presidente dos Associados do Maranhão, jornalista Pedro Freire, uma frase marcante: “O Imparcial é uma instituição histórica do Maranhão”. Neste dia 11 de dezembro de 2025, 19 anos após aquele fato, o matutino, no formato impresso e online, circulou com esta manchete principal: “O Imparcial é Patrimônio Imaterial do Maranhão”.
O reconhecimento foi determinado pela Lei nº 12.727/2025, de autoria da deputada Iracema Vale, presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, e sancionada pelo governador Carlos Brandão. Portanto, o jornal, que vai completar 100 anos no próximo dia 1º de maio, ganhou o título de Patrimônio de Natureza Cultural e Imaterial, que simboliza a longa trajetória de um veículo de comunicação comprometido com o jornalismo ético, dedicado, resistente e leal aos princípios que norteiam a boa informação.
Os manuais de comunicação ensinam que o bom jornalismo é a janela pela qual o leitor pode ver além do muro, sempre com a verdade acima das vaidades e a coragem acima da força bruta dos poderosos. Também pode ser definido como a “voz dos silenciados e o olhar dos invisíveis”. No dia 1º de maio de 1926, quando o jornalista e empresário João Pires Ferreira, o J. Pires, colocou O Imparcial nas ruas de São Luís, já o fazia com a visão de que havia espaço para um veículo capaz de noticiar o que os demais de sua época não podiam fazer, por serem propriedades de grupos políticos do poder ou da oposição.

O papel na história
Naquele Dia do Trabalho, por coincidência, nos Estados Unidos a Ford Motor Company implementou a jornada de trabalho de 40 horas (8 horas por dia, 5 dias por semana, com sábado livre), sem corte salarial, revolucionando o conceito de fim de semana e aumentando a produtividade. Não demorou muito para que se instituísse, pelo mundo afora, o que se denominou “semana inglesa”: trabalho de segunda a sexta e descanso no sábado e no domingo. Nova coincidência: a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado brasileiro aprovou, nesta quarta-feira (10), o fim da escala de seis dias de trabalho por um dia de descanso (6×1) e a redução da jornada das atuais 44 horas para 36 semanais. Ambas as mudanças não trazem redução salarial. Agora, o texto segue para o plenário do Senado.
É todo um contexto histórico que marca a trajetória de O Imparcial, um dos poucos jornais impressos circulando no Nordeste e um dos maiores portais de notícias online. No último dia 1º de dezembro, o jornal dos Diários Associados venceu o Prêmio Brasil Publisher Awards 2025, na categoria Melhor Site Regional de Notícias. A premiação foi entregue ao diretor-executivo Célio Sergio, em noite festiva na cidade de Porto Alegre (RS). A premiação é organizada pela Associação Nacional dos Publishers do Brasil (ANPB), com correalização da PremiumAds, e reconhece iniciativas que unem criatividade, responsabilidade e relevância editorial em um cenário de acelerada transformação tecnológica.

Vocação para crescer
Na década de 1920, São Luís era quase um deserto de leitores, mas o jornal já ganhava importância também no interior, viajando de barco para a Baixada e, mais tarde, a partir de 1938, também para as cidades cortadas pelo trem São Luís–Teresina. A capital tinha uma população de 30,9 mil habitantes, número semelhante ao do município de Vitorino Freire, hoje com 30,8 mil moradores. Os analfabetos chegavam a 72% da população maranhense, onde o acesso à educação era privilégio de poucos, com o ensino secundário e normalista restrito à capital e a cidades mais prósperas como Caxias, Alcântara e Viana, por exemplo.
Só a partir de 1941 o Maranhão passou a contar com uma emissora de rádio, a Timbira, inicialmente batizada de Rádio Difusora, que pertencia a O Imparcial. Foi, porém, estatizada pelo governo do interventor Paulo Ramos, nomeado por Getúlio Vargas, e adotou o nome oficial de hoje. Posteriormente, o jornal adquiriu a Rádio Gurupi, já pertencente aos Diários Associados, do jornalista Assis Chateaubriand, a partir de 1944. No ocaso da ditadura militar de 1964, ocorreu um revés no complexo de comunicação dos Associados por controlar um número de emissoras acima do que a ditadura estabelecia para uma empresa. No Maranhão, a Gurupi teve de ser vendida para o empresário Zildene Falcão e virou Rádio São Luís. Ele era dono da distribuidora de jornais e revistas Dimap.

Pulando obstáculos
Como se pode perceber, O Imparcial está beirando um século de circulação ininterrupta, desde o período da composição textual tipográfica, de impressão plana e rudimentar, até o moderno sistema offset, implantado em 1973. Enfrentou a “concorrência” do rádio, da televisão e, posteriormente, da internet, na década de 1990. Tem sido campo de estágio obrigatório dos cursos de comunicação social de São Luís, desde o primeiro do gênero, instalado na UFMA.
Hoje, o jornal dos Associados continua sendo uma trincheira de resistência. Seu portal de notícias é um dos maiores do Nordeste, e o impresso mudou de formato, do standard para o berliner, mas a linha editorial comprometida com a verdade e a defesa das causas de engrandecimento da população não mudou.

Agora, ao tornar-se Patrimônio Cultural e Imaterial do Maranhão, além de vencedor do Prêmio Brasil Publisher Awards 2025, na categoria Melhor Site Regional de Notícias, há vários significados. Mas o mais importante incentivo é também o reconhecimento de uma história de luta na defesa do Maranhão e das causas que enobrecem o trabalho de todos que atuam no jornal e dos que ajudaram a fazê-lo chegar tão longe, sem perder o rumo e mantendo-se na vanguarda de seu tempo.
