18 de dezembro de 2025
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Esculhambação na dosimetria esconde a sequência do golpe

Por Raimundo Borges

O Imparcial – A palavra dosimetria virou chavão popular em pleno encerramento de 2025, com potencial para agravar ainda mais a tensão entre o Congresso Nacional, o governo Lula e o Supremo Tribunal Federal. Tudo tocado na pressa de a política brasileira ingressar no ano eleitoral de 2026, dando uma dinâmica acelerada à corrida presidencial nos partidos do Centrão, agarrados ao PL bolsonarista.

Desde setembro, quando o STF iniciou a condenação do chamado Núcleo 01, dos que organizaram, financiaram e executaram a tentativa de golpe de Estado entre o fim de 2022 e o 8 de janeiro de 2023, a dosimetria virou uma palavra recorrente em todo o noticiário e nas decisões do STF.

No campo jurídico, a dosimetria é o processo de “dosar” ou calcular a punição (pena) de um condenado em um processo criminal, feito pelo juiz em três fases, individualizando a sanção com base na gravidade do crime e nas circunstâncias do réu (antecedentes, personalidade, motivos). No direito, segue regras para definir tempo de prisão, regime e benefícios, buscando a proporcionalidade.

Depois do julgamento em que os ministros do STF adotaram esse conceito para definir as condenações dos golpistas, o Congresso Nacional passou a colocar o tema como prioridade absoluta, principalmente após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27,3 anos de prisão, pena que ele já cumpre na PF.

Em 11 de setembro, a Câmara dos Deputados aprovou, por 209 x 148, projeto de lei que reduz penas de pessoas condenadas pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e pela tentativa de golpe de Estado, como o ex-presidente Jair Bolsonaro.

No Senado Federal, o texto virou um pandemônio, sobre aplicar ou manter as regras da Câmara, consideradas fora dos parâmetros legais, com seu alcance estendido a outros crimes que não têm nada a ver com golpe de Estado contra a democracia, como corrupção, exploração sexual, sonegação fiscal etc., tudo resultado da pressão dos lobbies que operam no Congresso.

Nas condições em que o texto foi alterado no Senado, o jornalista Valdo Cruz, da GloboNews, avaliou que a pena para quem tentar dar golpe de Estado no Brasil ficou mais leve do que a de quem rouba uma bicicleta. Já o relator do projeto da dosimetria no Senado, Esperidião Amin, defendia a proposta inicial de Marcelo Crivella para conceder anistia a Bolsonaro e aos demais golpistas do 8 de janeiro.

Ele usou uma metáfora bíblica do Velho Testamento para justificar seu bolsonarismo: “Somos Jacó e estaremos em Betel, na busca pela casa de Deus”. Já a revista Fórum escreveu que a anistia light vai beneficiar também Fernandinho Beira-Mar, André do Rap e Marcola, líder máximo do PCC.

O texto restabelece parâmetros mais brandos da execução penal, permitindo progressão com 1/6 da pena e enfraquecendo os percentuais estabelecidos pelo Senado. Para crimes cometidos com violência, a progressão cai para 25%. Em crimes hediondos, os deputados mantiveram 40%, ignorando o patamar de 70% aprovado pelos senadores.

Nos casos de crimes hediondos com morte, o requisito caiu para 50%, muito abaixo dos 75% definidos na Lei Antifacção. A flexibilização também favorece líderes de facções, que passam a cumprir 50% da pena para progredir — antes, exigia-se 75%, sem direito a livramento.

A pressa do Senado para votar o PL da dosimetria acirrou a tensão entre Alcolumbre e o governo Lula, com fôlego para esbarrar no Supremo Tribunal Federal, que já sofre notável cerco do Congresso em razão das punições contra os golpistas. A tensão subiu ainda mais com a nova pesquisa Genial/Quaest, divulgada ontem, que mostra o aumento da vantagem de Lula sobre os atuais presidenciáveis da direita.

O levantamento indicou que seu principal adversário nas eleições do próximo ano poderá ser o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), recém-lançado candidato pelo pai preso, e não o governador Tarcísio de Freitas, preferido das mídias conservadoras e do “mercado”.

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