25 de agosto de 2025
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As ‘supervacas’ que fizeram do Brasil o maior exportador de carne do mundo

Estamos no início de maio em Uberaba (MG), importante centro agropecuário do interior do Brasil.

Cerca de 400 mil pessoas e quase 2,5 mil cabeças de gado estão reunidas para uma vibrante celebração da cultura pecuarista do país.

Ali acontece a feira anual ExpoZebu, dedicada à “supervaca” zebu — uma raça de gado geneticamente modificada, apreciada pela sua carne e que domina a produção pecuária brasileira. O país exportou 2,9 milhões de toneladas de carne bovina em 2024.

Será que as supervacas brasileiras podem alimentar o mundo?

O gado e seus genes

“Os zebus são enormes. São altos, alguns têm 1m80, grandes chifres, pele branca e uma corcunda sobre o pescoço”, descreve a fotógrafa Carolina Arantes. Ela passou 10 anos documentando o desenvolvimento do gado zebu no Brasil.

“Eles foram cruzados e criados por muitos anos, até atingirem o nível que pode fornecer a melhor carne”, ela conta.

Existem exemplares de vacas e touros cuja genética é particularmente valorizada pelos produtores. Eles são levados às feiras como a ExpoZebu, para serem exibidos e vendidos pelo melhor preço.

“A ExpoZebu é a principal feira de gado do Brasil, talvez a principal feira da raça zebu de todo o mundo”, segundo Arantes. “Os animais passam por jurados que escolhem os melhores exemplares.”

Zebu branco com corcunda típica da sua raça
Os zebus são caracterizados pela sua corcunda

Uma equipe de vaqueiros cuida dos zebus durante sua participação na feira.

“O tratamento e a dedicação aos animais são incríveis”, ela conta.

“Eles dão banho nos animais com muito cuidado todos os dias, cortam o seu pelo e os preparam para que fiquem bonitos. Os vaqueiros ficam disponíveis 24 horas por dia para aqueles zebus.”

Todo este esforço se justifica. Afinal, ganhar um

prêmio na ExpoZebu pode significar enorme retorno financeiro para os donos dos animais.

Além da avaliação, existem leilões em que os produtores oferecem lances pelos melhores exemplares. No ano passado, uma única vaca foi vendida na ExpoZebu por quase R$ 25 milhões.

É claro que este tipo de animal não chega ao matadouro. Seu material genético contribui, em grande parte, para criar a próxima geração de zebus.

Um touro chamado Gabriel se tornou uma celebridade, devido à quantidade de crias geradas com seu sêmen: foram produzidos 600 mil bezerros.

Tudo isso gerou enorme crescimento do rebanho de gado zebu no Brasil. E Arantes afirma que a quantidade continuará aumentando.

“Existem no Brasil 225 milhões de vacas”, segundo ela. “E a intenção dos produtores é duplicar esta cifra.”

Os números são impressionantes, mas o gado zebu não vive no Brasil há tanto tempo assim.

A chegada dos zebus

“O início da indústria pecuarista brasileira foi liderado pela expansão imperial portuguesa na América no século 16”, explica o historiador Oscar Broughton, da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres.

“Predominava, então, o gado crioulo, composto por animais relativamente pequenos, importados da Península Ibérica. Eles proporcionavam uma fonte de proteínas barata e de fácil conservação, na forma de carne seca salgada, para alimentar as populações escravizadas.”

“Mas produzir grandes quantidades de carne para abastecer as populações urbanas não era uma opção particularmente adequada”, destaca ele.

No século 19, além de precisar alimentar o crescente número de pessoas que moravam nas suas cidades, o Brasil estava ansioso para aproveitar o mercado internacional, que estava no seu apogeu.

“A globalização levou à expansão da produção de carne bovina, particularmente em lugares como a Argentina e o Uruguai”, prossegue o historiador.

“A demanda, principalmente da Europa e da América do Norte, aumentou exponencialmente. Por isso, os legisladores e pecuaristas brasileiros procuraram expandir a indústria.”

Até então, o gado era criado principalmente no sul do Brasil, com seu clima temperado. Mas, para satisfazer a nova demanda mundial, a produção de carne de vaca precisou se estender para o norte, em ambientes de clima mais tropical.

Mas, naquelas regiões, o gado crioulo passava mal.

Manada de zebus em fundo amarelado
A raça zebu se adaptou ao clima tropical, que prevalece na maior parte do território brasileiro

“Eles eram muito vulneráveis às pragas e o calor reduzia muito as taxas de reprodução”, segundo Broughton.

A solução foi recorrer ao gado zebu, que, naquele momento, florescia na Índia e era muito mais apropriado para as pastagens tropicais do Brasil.

“O zebu é muito mais resistente às altas temperaturas, doenças e pragas do que outros animais europeus. E também já estava acostumado à menor abundância de pasto”, explica o historiador.

“Os zebus se adaptaram melhor aos trópicos devido às suas patas mais compridas e ao seu metabolismo mais lento, que permitem que eles conservem energia de forma muito mais eficaz. Por sua vez, seus cílios são muito mais longos e os protegem contra o sol intenso e o pó.”

Por tudo isso, o Brasil registrou importações em massa de gado zebu no final do século 19.

“Entre 1893 e 1914, o Brasil importou mais de 2 mil cabeças de zebu da Índia para fins de reprodução”, conta Broughton.

“Como resultado, no início do século 20, o zebu passou a ser o tipo dominante de gado no Brasil, gerando sua própria raça nacional, conhecida como induzebu ou indubrasil.”

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