27 de agosto de 2025
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Sem Dino, PCdoB é desidratado no MA

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Ao definir a política como “a arte do possível”, o príncipe, estadista e diplomata prussiano Otto von Bismarck nos permite refletir sobre a importância do pragmatismo na liderança e nas decisões governamentais. A frase enfatiza a flexibilidade como um elemento essencial para o sucesso das relações políticas e da governança. Portanto, ela se encaixa perfeitamente na realidade política do Maranhão nos dias atuais, principalmente na relação histórica entre PT e PCdoB. Juntos com o PSB e outros 12 partidos, entre 2014 e 2023, eles provocaram a maior ruptura política da história do Maranhão, sob a liderança de Flávio Dino, um esquerdista de origem familiar, e Carlos Brandão, um centrista também de origem familiar.

Foram 11 anos de entrosamento em um projeto de poder estadual, anunciado como uma espécie de renascimento e inovação na prática de governança. A verdadeira arte do possível de Bismarck, embora pareça paradoxal, é redesenhada no século 21 na prancheta “dinista” para o projeto hoje gerenciado pelo governador Carlos Brandão. No entanto, no meio da crise que se afunila rumo às eleições de 2026, encontra-se o PCdoB, principal protagonista da ruptura de 2014. Hoje, Flávio Dino é ministro do STF e o PCdoB ficou com o deputado Márcio Jerry na Câmara, quatro deputados na Assembleia Legislativa e dois prefeitos.

No âmbito do governo estadual, a estrutura política do grupo que assumiu o poder encontra-se esfacelada, mas operando em cargos oficiais. PT, PCdoB, PSDB, PSD, Republicanos, PP, PDT e outras legendas, por enquanto, são mantidas por Brandão. Ele perdeu o comando do PSB para a senadora Ana Paula Lobato e agora avalia para onde e como ir com seus aliados. O mais provável é o MDB, presidido por seu irmão Marcus Brandão, pai do pré-candidato ao Palácio dos Leões Orleans Brandão. Até abril do próximo ano, muita ventania vai soprar de dentro do Palácio dos Leões e no sentido reverso. A arte da política está passando por um novo experimento com ingredientes tão fortes quanto foi em 2014.

É óbvio que ninguém se conhece mais na política do Maranhão do que o centrista Carlos Brandão e o esquerdista Márcio Jerry – dois vizinhos que nasceram e cresceram na mesma rua no centro de Colinas. Da mesma forma, politicamente, ninguém se conhece mais no Estado do que Flávio Dino e Carlos Brandão – dois que mudaram a história estadual em três eleições seguidas para o governo e o Senado, sem qualquer desavença. Portanto, a ruptura entre eles, que solta labaredas no centro do grupo original (Brandão, Felipe Camarão, Jerry e Dino), pode ser um chamado à razão para a crise que eles criaram. Márcio Jerry prefere não debater o tema, nem soprar a fogueira, mesmo sem falar com Brandão desde março de 2025.

O pior é que o foco da crise tem uma parte derretendo a relação política dentro do Supremo Tribunal Federal em forma de processos, alguns na gaveta de Flávio Dino. Por sua vez, Brandão já tem usado a caneta para expurgar alguns petistas do governo, ligados ao seu vice Felipe Camarão, também pré-candidato ao Palácio dos Leões. Como bem disse Bismarck, as possibilidades da arte da política estão postas em um momento crucial para o Maranhão. Afinal, a eleição de 2026 promete ser uma das mais complexas e decisivas dos períodos “sarneísta” e “flavista”, que somam 60 anos de história de um Maranhão desafiado e derrotado pelas mazelas sociais, sustentadas por políticas oligárquicas, de renda mal distribuída e ambições desmedidas.

Desde 2002, o PCdoB manteve sua estratégia de conviver com o PT, que chegou ao Planalto pela primeira vez, apoiando uma candidatura vitoriosa. De 2006 a 2016, novamente com Lula e Dilma Rousseff, o velho PCdoB chegou ao auge no Maranhão, elegendo Flávio Dino como seu primeiro governador, em 92 anos de uma trajetória única na história política do Brasil. Em 1985, o “Partidão” saiu da clandestinidade e ganhou vida legal pelas mãos de José Sarney na Presidência da República. Naquele ano, o vice-presidente do PCdoB e deputado Aldo Rebelo (SP) bradou: “Nunca fomos stalinistas”. Hoje, ele é testemunha de Jair Bolsonaro no processo em que este nega a tentativa de golpe de 08/01.

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