27 de setembro de 2025
DestaquesGeralPolítica

O “clima” entre Lula e Trump pode nem chegar à COP-30

Por Raimundo Borges

O Imparcial – Faltando dois meses para a COP-30 em Belém, que vai focar o tema central da crise climática do planeta, por coincidência, na reunião da ONU em Nova Iorque, o assunto de maior repercussão foi o “clima” que rolou entre os presidentes Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva.

O que parecia impossível acabou acontecendo num ato imprevisível, em que os dois se encontraram entre o encerramento do discurso do brasileiro e o início da fala do americano. O encontro, aparentemente amigável, faz parte do pesado jogo de poder travado por dois profissionais em articulações políticas: o líder do principal país da América do Norte e o da maior economia da América Latina.

Antes de aquele encontro acontecer no corredor da ONU, o presidente Lula já havia enviado carta ao colega americano, convidando-o a participar da COP-30. Logo que se conheceram no corredor, já ficou marcada uma nova conversa para a próxima semana, quando Lula repetirá o convite presencialmente.

Porém, como negacionista convicto, Trump classificou como a “maior farsa” o que os cientistas americanos dizem sobre a crise climática. “A pegada de carbono é uma farsa inventada por pessoas mal-intencionadas, que trilham um caminho de destruição total. É uma coisa muito grande e estão ganhando muito dinheiro com ela”, disse ele para o mundo todo – sem revelar nenhuma fonte científica.

Certo é que o encontro entre os dois chefes de Estado, no qual rolou uma “ótima química”, no dizer de Trump e confirmada por Lula, ainda é o tema mais debatido nas redes sociais, na política e nos meios de comunicação.

No Brasil, a Cúpula do Clima fará de Belém o centro do mundo ambiental, com os governos federal, estadual e municipal acelerando as obras de acomodação e instalações para os debates e exposições, além de envolver enormes esforços diplomáticos para impedir o esvaziamento. É tudo feito para não macular a imagem do Brasil, valorizar a liderança internacional de Lula e pavimentar seu caminho rumo ao quarto mandato, nas eleições daqui a pouco mais de 13 meses.

E não é por menos. Há pouco mais de três décadas, em 1992, o Brasil assumiu um papel de protagonista no esforço global para enfrentar os grandes desafios ambientais que ameaçam a economia mundial e, em última instância, a própria sobrevivência do planeta.

Naquele ano, o Rio de Janeiro sediou a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, lembrada em reportagem de capa da revista “Veja” que circulou nesta sexta-feira. Era o rescaldo do longo período da Guerra Fria, que pôs fim à divisão do mundo entre o bloco comunista (União Soviética) e o capitalista (Estados Unidos). O mundo passou a refletir sobre o futuro sem o risco de uma hecatombe nuclear.

Hoje, o mundo está às voltas com as guerras tecnológicas, movidas a drones e mísseis intercontinentais, e novamente com a divisão entre o “Sul Global”, descrito como o conjunto de países em desenvolvimento, geralmente na América Latina, África, Ásia e Oceania, e o “Norte Global”, referência aos países economicamente desenvolvidos, com economias avançadas, altos níveis de renda e influência política, como a América do Norte, Europa Ocidental, Austrália, Nova Zelândia, Japão e Coreia do Sul. O Brasil, ao lado da China, está no centro dessa divisão em que os Estados Unidos representam o outro lado.

Sem falar que, ideologicamente, nos dois polos globais, a direita, a extrema-direita e a esquerda se chocam e ganham relevância. No Brasil, o encontro de Lula com Trump fermentou o debate político entre o bolsonarismo, de direita, e o lulismo, de esquerda.

Na esteira do debate estão as eleições de 2026, com o ex-presidente Jair Bolsonaro em prisão domiciliar e condenado à prisão fechada, além da leva de instrumentadores e executores da tentativa de golpe de Estado. No encontro, Lula quer debater a soberania do Brasil e o tarifaço, enquanto Trump pode pender para a defesa de Bolsonaro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *