Deputada Luizianne Lins permanece presa em Israel junto com delegação humanitária brasileira
Revista Fórum – Grupo detido na prisão de Ketziot denuncia privação de água, alimentos e medicamentos no deserto de Negev.
A deputada federal Luizianne Lins (PT-CE) segue presa ilegalmente em Israel, junto com outros integrantes da delegação brasileira da Flotilha Global Sumud, interceptada pela Marinha israelense enquanto levava alimentos e medicamentos à população de Gaza. O grupo está detido na prisão de Ketziot, localizada no deserto de Negev, após ser sequestrado em águas internacionais.
Segundo a advogada que acompanha o caso, Luizianne se recusou a assinar o documento de deportação acelerada oferecido pelas autoridades israelenses, por considerar o conteúdo abusivo e contrário aos direitos humanos. A parlamentar optou por permanecer solidária aos demais brasileiros que também rejeitaram o acordo, entendendo que sua responsabilidade vai além da própria situação.
“Por sua trajetória na defesa dos direitos humanos, a deputada entendeu que sua postura deveria ser de solidariedade e unidade com os demais integrantes da delegação brasileira”, informou nota divulgada neste sábado (4).
De acordo com relatos recebidos pelos representantes legais, parte do grupo estaria sem acesso a água potável, alimentação adequada e medicamentos, em violação às normas internacionais de direitos humanos e ao direito humanitário que protege missões civis e de ajuda humanitária.
As audiências judiciais que analisam as ordens de detenção dos ativistas ocorrem neste sábado (4). A assessoria da deputada Luizianne Lins acompanha o caso e aguarda o resultado das sessões.
A delegação e seus representantes exigem que o governo de Israel liberte imediatamente os brasileiros e brasileiras detidos ilegalmente.
Prisão no deserto
A prisão de Ktziot, também chamada Ketziot Prison, fica no deserto de Negev, ao sul de Israel, próxima à fronteira com o Egito. É uma das maiores e mais isoladas unidades prisionais do país, administrada pelo Serviço Prisional de Israel (IPS).
O complexo foi construído no final dos anos 1980, durante a Primeira Intifada, para abrigar prisioneiros palestinos, e se tornou símbolo das denúncias de violações de direitos humanosfeitas por entidades como a B’Tselem, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch.
Com barracões cercados por arame farpado e torres de vigilância, o local enfrenta temperaturas extremas, com calor intenso durante o dia e frio à noite. Ex-detentos relatam superlotação, restrição de visitas e ausência de assistência médica adequada.
Atualmente, Ktziot abriga palestinos e ativistas internacionais, como os integrantes da Flotilha Global Sumud, mantidos em isolamento e sem acesso regular a advogados ou comunicação externa. Os relatos mais recentes apontam maus-tratos, privação de alimentos, medicamentos e água potável, em violação direta às Convenções de Genebra e outros tratados internacionais.
Israel é acusado de crimes de guerra
A Flotilha Global Sumud, que transportava ajuda humanitária a Gaza, foi interceptada pela Marinha de Israel em águas internacionais entre os dias 1º e 3 de outubro, em uma operação que durou 38 horas.
Com 462 ativistas de 45 países a bordo, as embarcações foram apreendidas ilegalmente, e seus tripulantes levados à força para Israel. Os relatos incluem bloqueio de comunicações, ataques com canhões de água e drones, além de maus-tratos.
A organização acusa o governo israelense de violar o direito internacional, citando:
- prisões arbitrárias de civis sem ameaça militar;
- transferência forçada para prisões israelenses, em violação à Convenção de Genebra;
- uso de violência em alto-mar;
- e difamação dos ativistas, rotulados como “terroristas” pela imprensa israelense.
Para a Global Sumud, o bloqueio de Gaza é ilegal e faz parte de uma política deliberada de fome, considerada crime de guerra pelo Estatuto de Roma, que rege o Tribunal Penal Internacional. O Manual de San Remo e resoluções da ONU já condenaram práticas semelhantes.
“O bloqueio imposto há quase duas décadas é parte de uma ocupação declarada ilegal pela Corte Internacional de Justiça”, afirma a organização, ressaltando que garantir a passagem segura de missões humanitárias é uma obrigação do direito internacional.
A denúncia conclui que o bloqueio e as ações militares de Israel integram uma estratégia de extermínio, que, segundo a Comissão de Inquérito da ONU, configura genocídio contra o povo palestino.