Entrevista exclusiva a O Imparcial, Lula diz: “Estamos reparando anos perdidos e combatendo a divisão”
O Imparcial – Presidente celebrou a retomada do Minha Casa, Minha Vida em Imperatriz, criticou o desmonte do programa em gestões anteriores e falou sobre pacificação política.
Em entrevista exclusiva ao Jornal O Imparcial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância de sua vinda ao Maranhão para a entrega de 2.837 unidades habitacionais do Residencial Canto da Serra, em Imperatriz, retomadas após anos de paralisação.
Lula destacou os investimentos federais no estado, a ampliação do Minha Casa, Minha Vida, a redução da fome e do desemprego e a necessidade de pacificar o país com justiça social e respeito entre os Poderes. O presidente também confirmou que pretende retornar a São Luís para acompanhar obras e ações do governo federal na capital.
Presidente, qual a importância dessa vinda ao Maranhão para essa entrega de unidades habitacionais para a população de Imperatriz e para o desenvolvimento da região Tocantina, que enfrenta forte demanda por moradia?
Estamos trazendo justiça para a população de Imperatriz e revertendo uma coisa muito triste que aconteceu na cidade: em 2012, o Minha Casa, Minha Vida iniciou a implantação do Residencial Canto da Serra, mas a sua construção foi paralisada em 2016. Com isso, o sonho da casa própria para milhares de famílias acabou se transformando em decepção. Felizmente, conseguimos retomar as obras depois do início de meu mandato e agora estamos entregando 2.837 lares para famílias que realmente precisam – e merecem – se ver livres do aluguel e terem uma casa para chamar de sua.
Investimos, ao todo, R$ 358 milhões neste residencial, e mais da metade das casas serão entregues, sem custo, para beneficiários do Bolsa-Família e do Benefício de Prestação Continuada. Estou falando de gente que, com a segurança que a casa própria oferece, passa a ter a tranquilidade para sonhar mais alto, criar e educar seus filhos e até mesmo procurar melhores oportunidades de emprego e renda. Trabalhadoras e trabalhadores que, com seus direitos mais básicos atendidos, poderão contribuir ainda mais para o desenvolvimento da cidade e da região.
O Minha Casa, Minha Vida voltou com novas faixas de financiamento e subsídios. Quais são as metas do governo para o Maranhão e o Nordeste, e de que forma esses investimentos pretendem reduzir o déficit habitacional no país?
Desde que retomamos o Minha Casa Vida, Minha Vida em janeiro de 2023, o programa contemplou mais de 441 mil moradias no Nordeste, com valor total de R$ 53,87 bilhões. No Maranhão, são 70,2 mil moradias contratadas, com investimentos de R$ 7,3 bilhões. Se olharmos para o Brasil todo, o Minha Casa, Minha Vida já contemplou mais de 1,8 milhão de moradias desde sua retomada, em 2023, com investimentos totais de R$ 283 bilhões.
“Tenho muita vontade de retornar”, diz Lula
O que me deixa indignado é que, desde que a presidenta Dilma Rousseff deixou o Palácio do Planalto, em 2016, o programa foi desmontado, e só retomado com vigor a partir de 2023. Perdemos preciosos anos. Mas estamos reparando isso, inclusive com a retomada da construção de quase 200 mil casas em várias regiões do país cujas obras foram abandonadas no governo anterior, como é o caso do Residencial Canto da Serra em Imperatriz. A retomada do Minha Casa, Minha Vida veio acompanhada de muitas novidades.
Diante de um país dividido por razões políticas/econômicas/sociais, sabendo da sua reconhecida capacidade de articulação, como o senhor pretende conduzir a pacificação política no Brasil de forma a reduzir as tensões sociais regionais, especialmente a histórica desigualdade entre ricos e pobres que ainda divide o país?
Estamos enfrentando e diminuindo a raiz de todas as divisões: a desigualdade social, que faz uns poucos acumularem muita renda, enquanto muita gente fica sem oportunidades ou mal consegue garantir a alimentação básica para sua família. Tiramos mais uma vez o Brasil do Mapa da Fome. Elevamos a renda do trabalhador, reajustando o salário mínimo acima da inflação. E começamos a colecionar recordes, como o do menor nível de desemprego: 5,6% em agosto. Também combatemos a desigualdade ao corrigir as injustiças do Imposto de Renda. Atualizamos a tabela de isenção do IR, que ficou seis anos congelada.
Agora, a Câmara dos Deputados aprovou, por unanimidade, o projeto enviado pelo nosso Governo que zera o imposto de renda para todas as pessoas que ganham até R$ 5 mil por mês e reduz a cobrança para as que recebem um pouco mais, até R$ 7.350. Em troca, quem tem renda bem maior, mas não era obrigado a pagar um valor mínimo, contribuirá um pouco mais. Acredito que nossa sociedade e nossas instituições estão compreendendo melhor, a cada dia, a importância de termos um país com justiça social. E é esse o maior legado que podemos deixar para as gerações que virão.
No atual cenário de tensões entre os Poderes e diante das crises políticas recentes, de que forma o senhor acredita ser possível promover a pacificação do Brasil e o equilíbrio democrático entre as instituições da República?
O primeiro passo é proteger o que a Constituição determina: os poderes da República são livres, harmônicos e independentes. Todo mundo viu o que aconteceu quando um antigo presidente usou seu cargo para desafiar e afrontar decisões do Judiciário e brigar com o Congresso. Muitos dos problemas que vivemos hoje têm origem justamente nessa falta de respeito, nas mentiras e nos discursos de ódio que não trouxeram nada de bom para o país. Isso tudo precisa ficar no passado.
Pela primeira vez desde a Proclamação da República, o STF condenou aqueles que tentaram tomar o poder por meio de um golpe de estado, deixando um recado muito forte para que ninguém nunca mais se atreva a fazer isso. O Tribunal conduziu um processo justo, sem falhas e cheio de provas e, o que é mais importante: não se dobrou a qualquer tipo de interferência que não seja a Lei e Constituição.
O tempo do ódio, de presidente brigando com governador, deputado ou prefeito, acabou. E é com essa normalidade democrática que o Brasil vai mostrar que as pessoas podem e devem disputar opiniões e pontos de vista, mas que dá para fazer isso sem perder a civilidade.
Por fim, Presidente, há obras importantes do governo federal em andamento na capital. Podemos esperar em breve a sua presença em São Luís para acompanhar de perto o andamento e até entregas?
Estive no ano passado em São Luís e tenho muita vontade de retornar. Digo isso porque temos vários empreendimentos na cidade, como é o caso da expansão da avenida Litorânea, com investimentos de R$ 237 milhões. No PAC Seleções, estamos apoiando a construção de 4 creches e escolas de educação infantil, a urbanização de duas favelas com o Periferia Viva, a renovação da frota do SAMU. Além disso, estamos reequipando Unidades Básicas de Saúde e construindo uma nova UBS, entre outras ações.
O Novo PAC, como um todo, está investindo R$ 13,8 bilhões diretamente no estado do Maranhão. Se a esses valores foram somados outros investimentos que incluem mais de um estado além do Maranhão, eles chegam a R$ 46,1 bilhões. Além dos recursos do PAC, o estado também recebe outras ações do governo federal. Entre eles, quatro novos campi do Instituto Federal, para levar a educação técnica e profissionalizante aos jovens maranhenses.
