Os nós cegos que Brandão e Lula vão tentar desatar
Por Raimundo Borges
O Imparcial – Esta semana foi de encontros de contrários da política maranhense, de fotos expressivas, discursos enviesados e falas evasivas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Carlos Brandão nas abordagens sobre as eleições estaduais de 2026.
Porém, a semana que vem promete ser mais esclarecedora se, de fato, acontecer o encontro anunciado por Lula com Brandão para amarrar os pontos soltos sobre as próximas eleições. Ou os dois governantes encontram o caminho para a unidade política no grupo originário do dinismo, ou o desmantelo atual segue agravado — cada um por si e ninguém por todos.
Assim como o Brasil todo está na expectativa sobre o que vai sair do próximo encontro de Lula com seu colega Donald Trump, o Maranhão também quer saber o que Brandão e Lula têm a debater sobre a política local. Com Trump, a agenda de Lula passa pelo tarifaço, relações diplomáticas, interferência no Judiciário, soberania brasileira, transição energética, multilateralismo etc.
Já com Brandão, a conversa é mais resumida: o foco são as eleições de 2026 — se Lula vai mesmo concorrer à reeleição e se Brandão será candidato a senador ou prefere ficar no governo e apoiar o sobrinho Orleans Brandão (MDB).
Lula tem todas as informações de que precisa sobre a política do Maranhão. Conhece, como poucos, quem pode crescer nas pesquisas, quem bateu no teto e quem não tem chance alguma no pleito que acontecerá daqui a menos de um ano.
O que o presidente vai tentar acordar com Brandão é, antes de tudo, a unidade do grupo que ganhou com Dilma Rousseff as eleições de 2014, apoiou Fernando Haddad em 2018 e ajudou a elegê-lo em 2022.
O Maranhão é um berçário histórico do lulismo desde a sua primeira vitória, em 2002, quando derrotou o tucano José Serra. Porém, os tempos mudaram; a política mundial está com a direita em ebulição e avançando em quase todos os idiomas.
De fato, a situação está embaraçada no Maranhão. Como ninguém sabe quem será o candidato presidencial entre vários nomes da direita bolsonarista, resta a expectativa de que, pela esquerda, já exista Lula em ação. Em eventual desistência, o PT só tem Fernando Haddad. No Maranhão, a ansiedade do eleitorado cresce diante dos pré-candidatos Eduardo Braide (PSD), Orleans Brandão (MDB), Felipe Camarão (PT) e Lahesio Bonfim (PRTB).
São quatro nomes colocados, mas nenhuma definição. O mesmo ocorre com relação à disputa das vagas de senador — um tipo de “votação casada” em que, normalmente, o candidato vitorioso no primeiro turno acaba elegendo os dois para o Senado.
A “embolada” política do Maranhão não se resume à indefinição de candidaturas majoritárias. Os partidos também estão desarrumados. O PSB do governador Carlos Brandão, da deputada Iracema Vale, de 19 prefeitos e 12 deputados estaduais, foi retirado de seu controle e entregue à senadora Ana Paula Lobato, mulher do deputado Othelino Neto, líder do bloco de oposição ao governo na Assembleia Legislativa.
Portanto, o PSB abriga, ao mesmo tempo, políticos do governo e da oposição — um paradoxo difícil de o eleitor entender. Sem falar que a federação União Progressista (UB-PP) pode colocar Pedro Lucas em sua direção estadual, depois que a deputada Amanda Gentil substituiu André Fufuca no comando do PP.
Como se pode perceber, a conversa de Lula com Trump já tem uma pauta predefinida pelos diplomatas dos dois países. No caso maranhense, a agenda é estadual, mas os nós cegos das amarrações vão precisar de habilidades extremas. A complexidade não se resume ao tamanho do eleitorado do Estado, mas ao impacto que o resultado das urnas terá na eleição presidencial.
Afinal, a principal liderança do PL no Estado é Josimar do Maranhãozinho — odiado por Bolsonaro e nem tanto por Lula. Já o líder das pesquisas, Eduardo Braide, não é nem de direita nem de esquerda: é centroavante que chuta bem com as duas pernas.