Dino dá aula sobre segurança e diz que chefes do crime não estão no morro
DCM – O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino criticou duramente a megaoperação policial realizada pelo governo do Rio de Janeiro, que deixou, segundo dados oficiais, 121 mortos nos complexos da Penha e do Alemão. Durante discurso no Simpósio de Direito Eleitoral, promovido na segunda-feira (3) pela Escola Judiciária do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão, o magistrado questionou a eficácia e o foco das ações de segurança pública conduzidas pelo governador Cláudio Castro (PL).
“Quando eu era ministro da Justiça, a maior apreensão de fuzis foi feita numa mansão na Barra da Tijuca, e cuja garagem havia oito automóveis desses de cinema”, afirmou Dino.
A declaração foi uma referência à operação deflagrada em 2023, quando a Polícia Federal apreendeu 47 fuzis e mais de 31 mil peças e componentes de armas em um imóvel ligado a Silas Diniz, apontado como fornecedor do Comando Vermelho. Na ocasião, segundo Dino, “nenhum tiro foi disparado”.
A comparação com a ação fluminense veio acompanhada de uma crítica à estratégia do governo estadual. Na operação do Rio, o número de mortos superou o do massacre do Carandiru, ocorrido em 1992, enquanto foram apreendidos 93 fuzis — menos do que na ação citada por Dino.
Em São Luís, ao lado da ministra Cármen Lúcia, Dino fala sobre o Rio de Janeiro e dá aula sobre segurança pública:
“Quando eu era ministro da justiça, a maior apreensão de fuzis foi feita numa mansão na Barra da Tijuca, e cuja garagem havia oito automóveis desses de cinema” 🦕 pic.twitter.com/32PiGMWIFN
— Dino Debochado🦕 (@DinoDebochado) November 3, 2025
Em sua fala, Dino defendeu que o combate ao crime organizado deve priorizar a investigação das estruturas financeiras que sustentam as facções, e não se concentrar apenas em incursões violentas em áreas pobres. “Há um clamor que não está apenas no Rio de Janeiro, em relação ao poder das facções ultracapitalizadas e dentro dos mercados formais. O crime organizado não está no morro. O crime organizado não está nos bairros periféricos e populares”, afirmou.
O ministro enfatizou que os jovens mortos em operações policiais não são os responsáveis pela cadeia de produção e distribuição das drogas ou das armas. “Ou alguém acha que aqueles jovens têm dinheiro para comprar fuzil? Alguém acha que aqueles jovens fabricam cocaína? Aqui em São Luís. Não. Há financiamento e a lavagem de dinheiro”, declarou.
Para Dino, a raiz do problema está nas camadas mais altas da economia. “O dinheiro do narcotráfico não está embaixo do colchão daqueles meninos e meninas. Eu não estou subestimando o papel deles, mas o dinheiro do narcotráfico está no mercado imobiliário”, completou.
As declarações de Dino ocorrem em meio à escalada do debate sobre segurança pública após a operação mais letal da história do Rio. O episódio reacendeu disputas entre o governo federal e gestores estaduais sobre a forma de enfrentar o crime organizado.
O Palácio do Planalto tem apostado em uma estratégia de inteligência e de asfixia financeira das facções, em contraste com o modelo de confronto armado adotado por Castro e apoiado por aliados bolsonaristas.
O ministro reforçou que operações de grande porte devem mirar o fluxo de dinheiro ilícito que abastece o tráfico e as milícias. Segundo ele, sem atacar o eixo econômico, as ações de repressão permanecem superficiais.
“É preciso entender que o crime organizado se tornou uma força econômica. A lavagem de dinheiro é o que dá sobrevida a essas estruturas”, destacou em conversa com juristas após o evento.
